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não sejamos búfalas, assim não criamos bufalinhos

April 8, 2011 · 3 Comments

segue o comentário que deixei neste post da kira, sobre bullying materno.

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kira,

fui pesquisar um pouco sobre o significado de bullying em inglês, e acho que uma boa tradução é “assédio”. vou usar essa palavra daqui pra diante, ok? (pra facilitar e porque acho que cabe melhor no meu comentário)

assédio pode acontecer com crianças ou adultos, então não acho que só vale se for com crianças “indefesas” ou coisa assim. o ambiente (e a relação entre as partes) também determina o quanto o assédio é grave ou relevante, mais até que a idade. concordo que adultos têm mais repertório que crianças para lidar com assédio, mas isso não significa que assédio não exista ou seja bobagem, ok?

dito isso, gostaria de falar de 2 coisas bem distintas: (a) mulheres/mães sendo assediadas pelo motivo X ou Y e (b) a forma como elas reagem a isso.

vamos ao (b) primeiro: é possível que algumas mulheres estejam fazendo tempestade em copo d’água sim, que de repente nem é assédio, mas simplesmente discordância em alguns casos. mas já ouvi relatos de assédio de fato, seja por parte da família (hostilizando ou pressionando) ou por “amigas virtuais”, participantes de comunidades online. acho até que online a coisa fica mais feia, pois as pessoas se permitem uma agressividade no comunicar que nem sempre assumem ao vivo.

essas mulheres vão às comunidades em busca de ajuda, muitas vezes inseguras e fragilizadas, sem saber o que fazer. vão de guarda aberta, à procura de ajuda, e encontram mulheres em fúria defendendo bandeiras e fazendo com que ela se sinta inadequada e estúpida. isso é assédio, sim, embora não seja grave como um assédio sexual no ambiente de trabalho, em que existe a relação de hierarquia. e online, é verdade, a “ofendida” tem sempre a opção de fechar a janela e ignorar. mas, caramba, ela foi pedir ajuda. se sentiu agredida, e ela tem razão! aquela comunidade, que devia acolher e apoiar, critica e julga. pouco espaço para a tolerância, compaixão e aceitação do que é diferente.

e agora eu volto para o primeiro item (a): elas são assediadas (ou agredidas verbalmente, ou criticadas, julgadas, ridicularizadas) porque não correspondem ao modelo que aquela comunidade acha correto, bom, bonito. percebe a semelhança com o que acontece nas escolas, com as crianças indefesas e sem repertório? e quem pratica exatamente o mesmo comportamento que depois associamos aos “bullies” e delinquentes? as mamães, que ensinam e dão exemplo às crianças!

que exemplos essas mulheres estão dando? muitas delas não aceitam também o diferente, repudiam, ostracizam, julgam, condenam, etc. por que seus lindos filhinhos não farão o mesmo?

não importa pra mim, no fundo, se quem sofre assédio é uma tonta que “entra na onda” e não sabe revidar ou ignorar (isso se aprende, se supera). o problema é o fato: esse comportamento permeia cada vez mais nossa sociedade, e se agrava na internet.

como não ter crianças bullies nas escolas se há um mar de mães bullies na vida?

resumo da minha opinião: não me importa se a mãe é mimimi, ou boba; erradas estão as que agridem e julgam. tolerância zero pra esse tipo de comportamento. compaixão, solidariedade e gentileza deviam ser comportamentos obrigatórios (ou pelo menos presentes na maior parte do tempo) de quem é, ou se diz, educador.

beijo

zel.

Categories: educação · maternidade

aproveitando o ensejo…

February 24, 2011 · 5 Comments

uma mãe odara anônima resolveu deixar comentários no post anterior porque se sentiu ofendida pelas minhas opiniões. segundo ela, eu (1) estou generalizando, (2) estou incomodada com o fato de haver mulheres que adoram viver para seus filhos, (3) estou dizendo que minhas verdades são únicas e (4) estou me contradizendo no assunto “babá” por exemplo.

não publiquei o comment porque não gosto de bater palma pra louco dançar. aprendi depois de 10 anos de blog que os anônimos gostam de criar caso, mas não querem se comprometer com nada, ficam escondidinhos no anonimato só jogando lenha na fogueira e saem de cena intactos quando convém. não curto, acho covarde e deixo pra lá.

mas gostei da provocação dela, especialmente porque é fácil de provar que ela está errada 🙂 está errada porque me lê com má vontade e se entrega ao rancor. eu chutaria que isso se dá porque toquei em algum ponto dolorido dela, sem saber. não fosse assim, ela não se daria ao trabalho de vir aqui deixar 2 comments enormes… alguma coisa pegou. aprendi uma coisa nos meus anos de terapia, que vou compartilhar por pura generosidade: quando algo que alguém diz/escreve (e não é direcionado pessoalmente a você e não ofende uma raça, gênero, etc.) ofende e magoa você como se fosse pessoal, faça uma auto-análise. algo no que foi dito está ressoando algum problema SEU escondido. o autor não tinha intenção de magoar você, já que ele sequer o conhece, perceba.

convenhamos, a pessoa vestiu uma carapuça ENORME. e veio aqui tentar diminuir a importância da minha opinião e vivência pra se sentir melhor. já vi esse filme, e não caio mais. sigamos.

não vejo generalização nenhuma aqui nesse blog quando falo das MINHAS experiências. e por favor, não vamos cometer erros primários de interpretação de texto, tais como achar que “você vai sentir arrependimento por X ou Y” é uma generalização. isso é recurso de narrativa, ok? não vou nem explicar, isso é básico.

eu não me incomodo em absoluto com mulheres odara (embora ache esquisito). eu me incomodo muitíssimo com o discurso xiita e ditador destas mulheres espalhado pela web, que massacra as demais mulheres, acusando-as de serem mães piores e prejudicarem seus filhos por não corresponderem ao ideal de perfeição. isso está claríssimo em todos os meus textos, só não entende quem está de má vontade mesmo.

acho que sobre verdades únicas nem preciso comentar. se tem alguém no mundo dos blogs pessoais que já acertou e errou (mais que acertou), mudou de idéia e admitiu ter mudado de idéia sou eu. nunca tive medo disso, ainda não tenho, e nunca digo que há verdade única. esse discurso é típico de quem está na defensiva e sem argumento. vou pular.

e aí tem a acusação de eu ser contra babá e agora achar certo e defender. tenho excelente memória, e pra quem não tem meu post sobre o assunto está aqui. eu sei no que acredito, sou uma mulher muito inteligente e não há contradição nenhuma no meu discurso antes e depois de parir. não que fosse um problema haver contradição, isso não invalidaria minha opinião anterior e nem a atual (de novo, recurso pobre pra diminuir a opinião do outro…). continuo sendo contra as babás de uniforminho, que acompanham bebês com os pais em lugares públicos e dormem no emprego. nada mudou. a nossa babá é como uma creche de luxo, porque podemos pagar, oras. ela trabalha de segunda a sexta das 7:30h às 17:30h (horário em que estou fora trabalhando), é registrada, ganha um ótimo salário e é muito bem tratada, como profissional que é. e quando necessário eu contrato folguista de fim de semana, para poder fazer outras atividades, já que não conto com família disponível pra me ajudar com o bebê quando quero por exemplo cortar o cabelo e meu marido está ocupado.

(me ocorreu que talvez as mães-odara não cortem cabelos, não se depilem, por isso não precisam de ajuda extra quando querem se cuidar 😉 ou são das mães sem noção que deixam seus filhos chatos soltos e incomodando as pessoas em salões, que deus nos livre!)

bom, odara, viu como eu fico feliz em responder? não tenho nada a temer, estou tranquila com minha opinião e a forma como a expresso. estou aqui, exposta, colocando às claras várias opiniões e sentimentos que muitas mulheres têm medo de admitir (tipo querer devolver o bebê pra fábrica) graças às supostas “mães perfeitas” que fazem tudo parecer tão fácil e simples e gostoso. continuarei firme e forte aqui, baby. as mães e mulheres que ficam aliviadas em ler opiniões aqui são motivo suficiente pra que eu continue, e não me deixe abater por provocações como a sua.

Categories: alimentação · amamentação · educação · gravidez · maternidade · working mom

porque faço questão de comentar

February 23, 2011 · 13 Comments

estou trocando emails com a bianca balassiano do possoamamentar.com.br, e ela tem dado ótimas dicas sobre como ordenhar quando voltar ao trabalho. dicas práticas, que venho experimentando, e agradeço a ela pela boa vontade, educação e disposição em ajudar alguém que não só não conhece como também é em muitos aspectos avessa às suas crenças. recomendo procurá-la quando precisarem de apoio individualizado na amamentação.

começo com essa breve introdução porque respeito a bianca, e agradeço sua gentileza, mas também discordo de algumas coisas que ela gosta e divulga, esse texto aqui por exemplo e tudo que ele implica.

considero esse texto um total desserviço às mulheres que se tornam mães e desejam amamentar, e vou usar trechos para explicar meus motivos (grifos meus):

Para dar de mamar deveríamos passar quase o tempo todo nuas, sem largar a nossa criança, imersas num tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaboração de pensamentos, sem necessidade de defender-se de nada nem de ninguém, senão somente sumidas num espaço imaginário e invisível para os demais.

(…)

Isto é possível se se compreende que a psicologia feminina inclui este profundo afinco à mãe-terra, que o ser uma com a natureza é intrínseco ao ser essencial da mulher, e que se este aspecto não se põe de manifesto, a lactância simplesmente não flui.

faço antes um comentário breve mas importante: dou muito valor ao instinto, pois creio que são parte da nossa herança genética e nos direcionam para o caminho correto. entendo portanto que seja incentivado que cada mulher encontre seus instintos maternos, eventualmente escondidos pelo verniz da modernidade. isso é especialmente precioso para mulheres que, como eu, são excessivamente racionais. entrar em contato com seus instintos, seu eu-interior e tal é salutar e importante. mas, quero frisar com negrito, isso é assunto individual para ser tratado em terapia!

textos genéricos, apelativos e “definitivos” como esse são um banho de água fria em qualquer mulher que tenha dúvidas sobre sua capacidade de ser mãe e/ou amamentar. bem, vamos aos grifos.

passar quase todo tempo nuas é obviamente inviável, a menos que você seja naturista. e tem o inverno. e a convivência com outras pessoas, já que vivemos num mundo no qual não é natural andar pelado, por mais que seja gostoso. então já partimos da impossibilidade, o que me leva a perguntar qual é o benefício de escrever essa frase… vamos fazer então uma interpretação figurada, e torcer para que as demais coitadas que lêem esse texto tenham essa capacidade e não levem as coisas tão a sério. ela quer dizer que contato pele-a-pele com seu bebê é importante, talvez? genial, tenho certeza que é importante. por que então não dizer exatamente isso, já que estamos falando com mulheres procurando apoio para serem melhores mães? por que não falar sobre coisas possíveis, tais como massagem no bebê, banho conjunto, olho no olho, carícias durante o amamentar, etc.? não, vamos falar de coisas impossíveis, pra que a leitora não se identifique e se sinta inadequada.

imersas num tempo fora do tempo, sumidas num espaço invisível para os demais talvez se trate de desligar das outras coisas, cuidar somente do seu bebê e esquecer de todo o resto do mundo. é, talvez isso faça sentido nos primeiros dias depois que seu bebê nasceu, porque o tsunami de hormônios mais todas as novidades (sentimentos, pensamentos, rotina, etc.) mais a privação de sono realmente deixam a gente num outro universo, paralelo. fato é que passado esse choque inicial, a vida continua acontecendo ao seu redor. a roupa não se lava sozinha, as contas não se pagam, a comida não se apronta e você continua sendo parte de um sistema. o mundo não fica restrito a você e ao seu bebê. e não conta pra ninguém, mas você vai MORRER de saudade da sua vida anterior. você vai se arrepender de ter decidido ter um bebê, vai achar que não vai dar certo, que você não é capaz e que sua vida piorou pra sempre. e logo no mesmo segundo vai MORRER de culpa por pensar tudo isso, porque afinal você já ama aquela criatura mais que tudo na vida, e desejou muito ser mãe, quis e quer fazer o melhor por ela. por mais que as mães-odara tenham dito pra você que sua vida vai mudar pra melhor pra sempre, e que você será uma mamífera-empoderada, você vai se sentir mesmo é uma merda, e pior: sequer vai ter coragem de admitir. porque alguém fez a gentileza de escrever um texto deste tipo, dizendo que o certo é ficar nua, imersa num outro espaço-tempo, se dedicando à sua cria. e ai de você se sentir diferente. não é uma mãe perfeita, claro, e vai se sentir uma mãe de merda.

ser uma com a natureza é a melhor. por mais que eu creia (e creio) que precisamos sim nos conectar mais com nosso lado animal e natural, pois é benéfico em todos os aspectos da nossa vida (alimentação, comportamento, atividades fisiológicas, etc.), “ser um com a natureza” não quer dizer absolutamente nada. na-da. não consigo crer que exista uma pessoa com o racional e emocional em dia que possa dizer que é “um com a natureza”. primeiro porque não vivemos na natureza. eu não conheço uma única pessoa que viva na natureza, que só come o que planta/caça/colhe, que viva em meio à natureza de fato. só isso já é suficiente pra não permitir nenhum de nós ser “um com a natureza”. quando a autora diz que isso é intrínseco ao ser essencial da mulher, danou-se. porque se é intrínseco e você sequer entende o que isso significa e não sente isso, já se lascou toda sua capacidade de ser mãe, mulher, de amamentar. e a autora, ditatorialmente, ainda complementa dizendo que se esse não for seu caso (“ser uma com a natureza, como é intrínseco da essência feminina”), a lactância não flui. sério, gente? quem precisa ler isso? (eu já digo quem precisa ler isso, a pergunta foi retórica)

cara amiga autora, caras mães-odara que gostam muito desse texto, vou dar meu depoimento. eu não sou “uma com a natureza”; não passo o tempo todo nua e nem passei desde que meu filho nasceu; não fiquei num tempo-espaço diferente. inclusive assisti muito friends e tuitei enquanto amamentava meu filho a cada 2 horas. pois meu filho mamou lindamente até agora (está completando 6 meses), em livre demanda, e meu leite sempre fluiu firme e forte desde o dia em que ele mamou. e ele mamou de primeira, sem esforço. e foi na UTI, não numa caverna com sua mãe pelada e bem louca da cabeça, viu?

caras amigas leitoras que se sentem inadequadas com esse texto e essas idéias, eu explico como foi possível amamentar meu bebê sem ser essa mãe-gaia-telúrica perfeita: muita água, alimentação adequada, descanso (conforme possível), fé na fisiologia humana e força de vontade. o negrito na força de vontade, amiga, não é à toa. todas nós viemos prontas de fábrica pra amamentar, basta ter estímulo físico e psicológico. eu comecei a produzir leite DEPOIS que meu filho nascer e ANTES dele mamar. meu corpo estava lotado de prolactina, como é normal para as grávidas recém-paridas, prontinho pra produzir leite. eu ordenhei, e o leite começou a aparecer. aos pouquinhos, gotinhas, e foi aumentando conforme eu insisti. ou seja: fisiologia pronta + força de vontade = sucesso. não é fácil, e às vezes dói (seja ordenhar, seja o bebê mamar), mas dá certo. insista, beba água, SAIBA que você é perfeita e está pronta, pois a natureza fez você assim. não é necessário ser uma com a natureza, nem ficar pelada ou trancada numa caverna. a “lactância” vai “fluir”, sim. e se não fluir? é porque alguma dessas coisas deu errado – às vezes as coisas dão errado, porra! – e também não será o fim do mundo. seu filho vai viver, e você pode ser sim uma boa mãe a despeito (ha) desse episódio.

se você ainda não entendeu meu incômodo com esses textos depois disso tudo, eu resumo: eles fazem a maioria das mulheres se sentirem inadequadas porque não se identificam com a imagem de mãe-telúrica pintada como ideal. ao sentir-se inadequada, a mulher se enche de medos e dúvidas, e esses sentimentos são um veneno para quem precisa de segurança e estímulo para cuidar do seu filho e amamentar. desserviço absoluto.

bem, agora eu respondo minha própria pergunta: quem precisa ler isso? quem se identifica com essa imagem e quer se auto-afirmar. as mulheres que por algum motivo encarnam a mãe-gaia quando engravidam e dão seus filhos à luz gostam de se ver como provedoras absolutas, necessárias, mágicas e especiais. por mais que remetam à natureza, elas não se vêem como meros animais com tetas, não senhores. elas se vêem como deusas superpoderosas, sobrenaturais. a maternidade dá a elas uma dimensão que antes não existia, dá SENTIDO às suas vidas e as definem. antes de serem mães elas eram meras mortais; depois do parto, se tornam algo especial, fora do alcance dos que não passaram por essa experiência, são mamíferas (todos somos, os homens inclusos, dã), gaia. em bom português, elas piram na batatinha.

volto ao título: faço questão de comentar sobre isso, porque estou muito bem resolvida com meu papel como mãe e ser humano, com todas as minhas falhas. ser mãe, ou dar a teta pro meu filho, não define quem eu sou nem me torna melhor ou pior que ninguém. até porque já passei pela experiência e vi que sou capaz (a despeito de não ser “uma com a natureza” e tal), isso já não me afeta. mas e as muitas mulheres que vão passar ou estão passando por isso? espero que encontrem esse post e suspirem aliviadas. que digam “graças a GAIA tem mais gente nesse mundo que não pira na batatinha quando vira mãe”.

amigas mães-não-telúricas, esse post é pra vocês: vocês não estão sós! se precisarem de um conselho ou uma história que não passe por soluções mágicas e elfos na floresta, deixa um recado que se eu não souber, consulto as minhas amigas mães de verdade.

Categories: alimentação · amamentação · educação · maternidade · working mom

o fim das coisas que já não servem

February 11, 2011 · Leave a Comment

estou muito feliz por ter pedido e aceitado doações de roupa para o Otto. ele usou TUDO, cresceu super rápido e perdeu as roupas num piscar de olhos. fora uns 3 macacões que guardei por motivos sentimentais, doei todas as roupas e sapatos que já não serviam mais (sacolas e sacolas!). estou guardando aqui um moisés e um monte de roupas que vou doar para uma mãe que está com câncer de útero e grávida. o bebê vai nascer prematuro e ela vai ter que sofrer uma cirurgia bem grande no nascimento dele. situação triste. o bercinho portátil foi pra minha prima grávida de 6 meses, e os livros foram distribuídos.

continuarei doando tudo o que não servir mais, com o maior prazer, e quem quiser doar roupinhas usadas (e qualquer outra coisa) pro Otto pode avisar que eu vou buscar 🙂 adoro reciclar roupas.

separei também brinquedos que vamos doar para uma creche em campinas. entre os muitos bichos de pelúcia, tem um cachorro monstruoso (e lindo) que ganhei do primeiro ex-marido há mais de 15 anos e que já está na hora de ir embora. vai fazer a alegria da criançada na creche.

gosto de fazer limpezas periódicas aqui em casa, e costumo separar roupas e sapatos para doar sempre que compramos coisas novas. é uma forma de não acumular, e praticar um pouco de desapego também. recomendo: a gente se sente mais livre e obviamente leve de tanta tralha.

Categories: educação

os pais

August 20, 2010 · 1 Comment

quero dizer o plural da metade masculina dos pais de uma criança, ou seja, o homem. eles podem ser nossos maridos ou não e morar na mesma casa ou não, tanto faz. quero falar um pouco sobre como vejo o papel dos pais na criação dos filhos, especialmente em colaboração com as famigeradas mães.

e só pra ficar claro: tudo o que vou dizer aqui, essa minha visão de como as coisas devem ser, se aplica somente aos pais voluntários. ou seja, aqueles que decidiram ser pais e concordaram com a empreitada. sou a favor do aborto e completamente contra mulheres que seguem adiante com uma gravidez à revelia do futuro pai. na pior das hipóteses, se ela for contra o aborto ou coisa equivalente, ela não deve cobrá-lo de nenhuma responsabilidade. afinal, engravidar é uma escolha sim, a menos que você tenha sido estuprada.

outra coisa importante de dizer já é que sei muito bem que alguns vão se identificar com os problemas que eu estou comentando, e até como forma de defesa ou auto-justificativa vão dizer que “é fácil falar” ou “quando for seu filho, depois que ele nascer, você vai mudar de idéia”. não, gente, não é fácil falar e a possibilidade de mudar de idéia quanto a algumas coisas não invalida os pontos que vou comentar. porque no fundo, vocês vão ver, estou falando de se comportar como adultos de verdade e ser (ou se tornar) um casal verdadeiramente companheiro e comprometido.

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vamos lá: fico constantemente mal impressionada com o comportamento de certos pais que vejo por aí em relação à educação e cuidado dos seus filhos. e fico ainda mais envergonhada e constrangida pelo comportamento das respectivas mães, que no fundo reforçam o problema (e podem até ser a causa deles).

nem vou me estender no mérito da escolha do parceiro pra ter filhos, porque aí a coisa fica complexa. mas me pergunto quantas mulheres refletem sobre isso antes de engravidar, como eu fiz. eu poderia ter tido filhos muito antes na vida, de muitos outros pais, e preferi esperar porque queria ter filhos somente com alguém que eu realmente identificasse como um bom pai, além de ser um bom companheiro pra mim. mas enfim.

quando vejo as mães reclamando dos seus maridos como pais, não sei de quem tenho mais raiva. as coisas que mais me chamam a atenção (e espantam) são:

cansaço excessivo: não tenho dúvidas que criar crianças cansa e dá trabalho. mas por que só a mãe vive cansada e esgotada? a menos que você não tenha nenhuma ajuda pra fazer as atividades da casa, não consigo entender o stress. mesmo que você decida ficar amamentando 6 meses exclusivamente, dar o peito é a única coisa que só você pode fazer. todas as outras (to-das!) podem ser feitas por outras pessoas (arrotar, fraldas, banho, ninar, cuidar da casa). só consigo entender esse problema se não há nenhuma possibilidade de ajuda por parte de mais ninguém ou o pai trabalha o dia todo e não mora junto. porque ainda que ele trabalhe o dia todo, nada impede que no período da noite ele ajude nas tarefas. por que só 1 dos pais deve se esgotar? ficar em casa cuidado de bebê e da casa é um trabalho como outro qualquer.

acho que muitas mulheres simplesmente assumem o papel de super-mulher e não querem pedir ajuda por questão de orgulho ou vaidade. outras muitas entram na viagem errada de que cuidar da casa e dos filhos é responsabilidade exclusiva delas, porque o marido trabalha fora.

e se seu marido é do tipo de se recusa a ajudar, desculpe mas você escolheu muito mal seu companheiro pra começo de conversa. e nunca é tarde pra resolver esse problema, seja negociando uma mudança no comportamento dele, seja mudando as coisas dele pra outro lugar 😀 (ou você acha mesmo que ficar com alguém que se recusa a ajudar com seu filho é uma boa escolha no longo prazo?)

eles não sabem fazer nada direito: como mulher, confesso que essa é uma armadilha que eu caio, independente de ter filhos. “eles” nunca fazem as coisas direito 🙂 ou melhor – eles nunca fazem as coisas do jeito que a gente quer ou do jeito que a gente faria. são coisas bem diferentes. e se você faria diferente, por que não negociar e conversar, ao invés de simplesmente reclamar ou ir lá e fazer você mesma? é verdade que às vezes é preciso ceder (e é difícil…), mas faz parte. é isso que demonstra que um casal é realmente companheiro e, bem, adulto.

creio que mulheres são controladoras por natureza, e assumir o papel de mãe do seu companheiro é uma tentação constante. é muito mais fácil ficar puta, ir lá e fazer (ou refazer) alguma coisa do que conversar e explicar o que você preferia que tivesse sido feito. até porque às vezes o outro tem seus motivos também pra fazer as coisas de outro jeito. o outro pode até estar errado, mas tem direito (e dever, aliás) de assumir responsabilidades.

seu marido não coloca a roupa na criança do jeito que você acha correto? ao invés de reclamar dele ou assumir essa tarefa sempre pra você (e depois reclamar que está sobrecarregada), converse com ele e negocie. quando os filhos entram no relacionamento, aquela fase de auto-reconhecimento do casal começa toda do zero, afinal tem mais aguém na equação. é preciso reaprender a viver junto. paciência. pular essa fase, na minha opinião, é certeza de melecar o casamento.

só eu dou bronca: essa pra mim é uma das piores armadilhas, de novo por falta de negociação e excesso de controle. é muito comum ver as mães (que assumem a maior parte da responsabilidade e atividades com os filhos) serem as chatas e os pais serem os legais. fora os casos em que o pai é a autoridade maior (vou contar pro seu pai! ou só se seu pai deixar, que eu acho execráveis). é essencial, de novo, negociar com seu companheiro, e os dois devem dividir a responsabilidade e a chatice que é dizer não, cobrar, fazer comer, dormir, enfim: educar. a criança não pode ver os pais como personagens de uma história infantil maniqueísta. é verdade que se a mãe passa mais tempo com a criança, é mais provável que tenha mais oportunidades de ser chata, e exatamente por isso é importante que o pai use o tempo que tiver para atuar nesse papel também e equilibrar as coisas.

neste item tem um fator que pra mim complica ainda mais a coisa: a culpa, especialmente quando um dos pais ou ambos trabalham. me parece que o fato de trabalhar e somente algumas horas com os filhos (se isso é pouco ou muito eu acho discutível) transforma os pais em reféns. já que passam só algumas horas do dia com seus filhos, eles querem ser “legais” e “divertidos”. nada contra ser legal, mas escuta: o papel dos pais não é ser amigo dos filhos e nem entretê-los. seu papel é educá-los e garantir que eles sejam criaturas auto-confiantes e independentes. brincar faz parte do processo, mas é só uma parte e muitas outras pessoas podem e quer brincar com seu filho. pouca gente quer de fato educá-los.

minha maior preocupação na criação do meu filho é evitar a maldita culpa, fazer minha parte e ser feliz. além, é claro, de balancear com meu companheiro a responsabilidade de educar nosso filho de tal forma que ele perceba que seus pais estão afinados no relacionamento com ele. não quero ser a mãe chata, assim como tenho certeza que o fer não quer ser o pai autoritário ou permissivo.

mensagens/atitudes contraditórias: a mãe fala A e o pai fala B, na frente da criança. algum dos dois prevalece, e o mal está feito. em primeiro lugar, fica explícito o problema da falta de conversa e cumplicidade entre os pais; em segundo lugar, a criança percebe que pode fazer aliança com uma das partes pra conseguir o que quer.

não acho que os pais têm que concordar em tudo e nem conversar sobre tudo com antecedência, até porque é impossível. mas é preciso demonstrar cumplicidade e alinhamento, sim, pelo menos na frente da criança. nem que seja pra pedir uma pausa pra decidir, algo como “fulaninho, nós precisamos conversar uns minutos antes de decidir sobre isso, por enquanto nada fica resolvido”. e se a decisão for urgente ou não der pra esperar, acho que vale a que foi comunicada primeiro pra criança, mesmo que seja errada.

sei que na prática as coisas são mais complicadas que isso, mas meu ponto é simples: os pais precisam concordar que mensagens conflitantes não são boas pra criança, e nem pro relacionamento. discordar é normal e saudável, mas precisa ser tratado com honestidade e maturidade. uma criança não tem como acompanhar certas discussões e negociações, acho saudável poupá-la de argumentações entre os pais.

ciúme do bebê: essa eu acho o horror absoluto. já ouvi histórias medonhas sobre pais que têm ciúmes dos filhos com as mães, do tipo “você agora só pensa na criança” ou até ciúme da mãe poder dar o peito e ele não (soube de uma que pai queria porque queria que a mãe tirasse leite do peito pra ele dar na mamadeira, porque era “injusto” só ela poder amamentar).

aí é o seguinte: ou você já era mãe de um adulto mal-resolvido antes do seu filho nascer (escolheu mal de novo, amiga…) ou você pode estar mesmo exagerando no papel de mãe. convenhamos, tem mulheres que piram na batatinha depois de parir e só pensam e falam nos filhos 24h/dia.

acho mais fácil consertar e estar atenta ao segundo problema, é uma questão de auto-conhecimento e adaptação. imagino que ser mãe pira a cabeça da pessoa, mas com o devido interesse as coisas se ajeitam. basta querer, conversar (pedir pro seu companheiro ser honesto e conversar quando a coisa estiver ruim) e se empenhar pra melhorar.

consertar a situação de ter um filho mais velho e não um marido é mais complicada. não quero minimizar a capacidade masculina de se corrigir, por favor, mas ELE precisa se tocar que precisa virar adulto e assumir responsabilidades, ser companheiro e não dependente. há homens que simplesmente não querem, e ponto final. querem sua mulher ali sempre disponível pra ele: linda, loura, cheirosa e cheia de apetite sexual. além, é claro, de cuidar da casa e do bebê e não trazer problemas pra ele. além de trabalhar e ajudar com a grana, quando é o caso.

é inaceitável um marido criar problemas ou conflitos com a mãe por ciúme da criança. é compreensível sentir ciúme, sim, porque sentimentos não são controláveis, mas as atitudes podem e devem ser controladas. e se a coisa estiver pegando forte, caro pai, faça um favor a você e à família toda: vá pra terapia.

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dito isso tudo, não posso deixar de comentar que vi exemplos ótimos de pais que são o oposto de pelo menos alguns pontos que destaquei. tive por exemplo a oportunidade de acompanhar por vários anos a dani e o felipeb criando suas meninas, e preciso destacar o quanto acho o felipeb um pai e companheiro nota 10 em vários aspectos (a dani com certeza deve ter suas reclamações, por que perfeição não existe :)). além de ter acompanhado a gravidez dela de pertíssimo como parte integrante e não coadjuvante, apoiá-la e estar presente no parto, ele sempre foi 100% participante nas atividades das meninas, fazendo mais do que qualquer outro pai que eu conheço faz. lembro perfeitamente dele trocando fraldas sempre, dando banho, ficando com as meninas pra dani descansar, dando comida (e inúmeras broncas :D), brincando. os dois juntos como pais me passam a sensação de responsabilidade compartilhada de fato, não é só discurso. já vi também os dois discordarem, mas isso nunca os impediu de agir como adultos responsáveis. além disso tudo, eles mantiveram sua vida como casal ativa, fazendo atividades só deles e nunca esquecendo o que os uniu antes das meninas existirem.

esse post, de certa forma, é dedicado a eles. não porque sejam perfeitos ou modelos pra nós aqui (até porque somos tão diferentes que seria impossível), mas porque eles nos mostraram e mostram que é possível ser pais e mães adultos, além de companheiros de vida, mesmo com todas as dificuldades que esse cenário apresenta. beijo pra vocês, queridos 🙂

Categories: educação
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sobre a transmissão de preconceitos

March 18, 2010 · 19 Comments

uma das coisas que mais me preocupam quanto a ser mãe é como evitar (ou minimizar) passar pro meu filho meus preconceitos, limitações e crenças. pode parecer estranho pra alguns eu não querer transmitir crenças, mas eu quero passar pro meu filho somente valores e conceitos/fatos. quero que ele decida por conta própria, quando chegar a hora, no que acredita e do que gosta. quero ajudá-lo a decidir por si mesmo, sem influência excessiva da minha parte.

imagino que não seja simples, porque mesmo sem querer às vezes somos tirânicos e achamos que nosso jeito é o certo, e pronto. mas faço questão de tentar!

outro dia conversei com o fer sobre papai noel, coelho da páscoa e deus (assuntos correlatos, na nossa opinião :)). por um lado é muito bonitinho as crianças acreditarem em papai noel e coelhinho, mas os pais não se incomodam de mentir pros seus filhos? ou esses 2 assuntos já nem são considerados mais mentiras?

pra nós, é mentira e ponto final, e não me agrada a idéia de mentir pra criança e depois desmentir em algum momento. não que eu tenha medo de traumatizar a criança, de forma nenhuma, a questão é mais comigo que com ela. mas ao mesmo tempo, já pensaram numa criança que não crê em papai noel e coelhinho da páscoa convivendo com as demais, que acreditam? nosso filho vai ser o anticristo da escolinha, vai destruir os sonhos das outras criancinhas expondo a verdade que seus pais ateus sem alma contaram pra ele 🙂 brincadeiras à parte, não quero também que meu filho seja o esquisito que não acredita em coelhinho. é complicado…

deus é mais complexo ainda. somos ambos ateus, eu um pouco mais flexível que ele. embora eu não creia em deus, santos, nenhuma religião, espíritos, alma e etc. acho que pode ser que exista algo que eu não entendi ainda. não me incomodaria de mudar de idéia. o fer é ateu convicto sem frestas – nascemos, vivemos e morremos, because.

o que responder pra uma criança a esse respeito, quando as perguntas vierem? meu instinto é explicar exatamente o que eu acredito (ou deixo de acreditar) mas esclarecer que há outras pessoas que pensam diferente, que todos tem o direito de investigar e escolher suas próprias crenças. não quero que meu filho seja ateu simplesmente porque eu sou. quero que ele cresça autoconfiante o suficiente pra ser budista ou hare-krishna, se quiser.

essa questão de possibilitar escolhas me incomoda e preocupa bastante na educação das crianças e também na convivência entre adultos. as pessoas fecham portas o tempo todo, restringem suas possibilidades, e por consequência fazem o mesmo com seus filhos.

dou um exemplo bem concreto: uma das minhas tias foi macrobiótica por muitos anos, incluindo o período em que engravidou e teve seu filho. o menino foi submetido às mesmas regras que ela impôs a si mesma, por que era assim que ela considerava correto. o menino passou anos não só sem comer uma série de alimentos, mas sem ter a opção de sequer tentar. dentro da crença e opção dela, algumas coisas eram ruins ou inadequadas.

o que aconteceu na prática é que ele “incorporou” as restrições dela como se fossem dele. ela nunca deu a ele a oportunidade de experimentar outras coisas, independente do gosto ou opinião dela. ela não podia/queria comer carne, por exemplo, mas quem disse que ele não gostaria ou não quereria? depois de um tempo ele começou a repetir o discurso dela, de que carne (coca-cola, ou seja lá o que fosse) era ruim, mas a opinião dele não era baseada na experiência e sim na repetição. virou papagaio da mãe e não teve oportunidade de aprender e decidir por si o que gostava ou não até pelo menos uns 10 anos de idade.

acho isso triste. de certa forma entendo os pais quererem impor algumas coisas, pois se sua crença é forte e real, eles querem para o seu filho somente o que acreditam ser o melhor. mas quanto equívoco se comete em nome de fazer o certo e o melhor? o quanto dessa abordagem doutrinária não transforma crianças em réplicas dos nossos defeitos e limitações?

(felizmente existe a adolescência para garantir que vamos contrariar nossos pais e suas crenças, justamente pra descobrirmos quem somos APESAR deles)

acredito que uma das contribuições mais importantes para a vida de qualquer pessoa (principalmente crianças) é ensiná-las a pensar e decidir por conta própria, sem o peso de idéias pré-concebidas sendo impostas direta ou indiretamente por pessoas que elas admiram. como “modelos”, é claro que devemos dar exemplo e ser quem somos, pra que nossos flhos ou pessoas que nos admiram possam se espelhar em nós se assim quiserem. mas não devemos usar isso como forma de influência descuidada. quando seu filho por exemplo escuta você dizendo algo como “odeio samba, essa música não presta”, a chance dele se interessar por esta modalidade de música diminui, simplesmente porque ele quer ser seu espelho. é justo moldar outra pessoa à sua imagem, limitando as possibilidades de escolha dela só pra agradar você e seu gosto/crença?

submeter as pessoas a novidades, possibilidades de experimentação e tomada de decisão autônoma é essencial. e para que alguém possa aprender a decidir e entender o que lhe serve ou não, é preciso dar a oportunidade de escolha real, sem juízo de valor externo.

nossa, como é difícil esse assunto.

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