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não sejamos búfalas, assim não criamos bufalinhos

April 8, 2011 · 3 Comments

segue o comentário que deixei neste post da kira, sobre bullying materno.

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kira,

fui pesquisar um pouco sobre o significado de bullying em inglês, e acho que uma boa tradução é “assédio”. vou usar essa palavra daqui pra diante, ok? (pra facilitar e porque acho que cabe melhor no meu comentário)

assédio pode acontecer com crianças ou adultos, então não acho que só vale se for com crianças “indefesas” ou coisa assim. o ambiente (e a relação entre as partes) também determina o quanto o assédio é grave ou relevante, mais até que a idade. concordo que adultos têm mais repertório que crianças para lidar com assédio, mas isso não significa que assédio não exista ou seja bobagem, ok?

dito isso, gostaria de falar de 2 coisas bem distintas: (a) mulheres/mães sendo assediadas pelo motivo X ou Y e (b) a forma como elas reagem a isso.

vamos ao (b) primeiro: é possível que algumas mulheres estejam fazendo tempestade em copo d’água sim, que de repente nem é assédio, mas simplesmente discordância em alguns casos. mas já ouvi relatos de assédio de fato, seja por parte da família (hostilizando ou pressionando) ou por “amigas virtuais”, participantes de comunidades online. acho até que online a coisa fica mais feia, pois as pessoas se permitem uma agressividade no comunicar que nem sempre assumem ao vivo.

essas mulheres vão às comunidades em busca de ajuda, muitas vezes inseguras e fragilizadas, sem saber o que fazer. vão de guarda aberta, à procura de ajuda, e encontram mulheres em fúria defendendo bandeiras e fazendo com que ela se sinta inadequada e estúpida. isso é assédio, sim, embora não seja grave como um assédio sexual no ambiente de trabalho, em que existe a relação de hierarquia. e online, é verdade, a “ofendida” tem sempre a opção de fechar a janela e ignorar. mas, caramba, ela foi pedir ajuda. se sentiu agredida, e ela tem razão! aquela comunidade, que devia acolher e apoiar, critica e julga. pouco espaço para a tolerância, compaixão e aceitação do que é diferente.

e agora eu volto para o primeiro item (a): elas são assediadas (ou agredidas verbalmente, ou criticadas, julgadas, ridicularizadas) porque não correspondem ao modelo que aquela comunidade acha correto, bom, bonito. percebe a semelhança com o que acontece nas escolas, com as crianças indefesas e sem repertório? e quem pratica exatamente o mesmo comportamento que depois associamos aos “bullies” e delinquentes? as mamães, que ensinam e dão exemplo às crianças!

que exemplos essas mulheres estão dando? muitas delas não aceitam também o diferente, repudiam, ostracizam, julgam, condenam, etc. por que seus lindos filhinhos não farão o mesmo?

não importa pra mim, no fundo, se quem sofre assédio é uma tonta que “entra na onda” e não sabe revidar ou ignorar (isso se aprende, se supera). o problema é o fato: esse comportamento permeia cada vez mais nossa sociedade, e se agrava na internet.

como não ter crianças bullies nas escolas se há um mar de mães bullies na vida?

resumo da minha opinião: não me importa se a mãe é mimimi, ou boba; erradas estão as que agridem e julgam. tolerância zero pra esse tipo de comportamento. compaixão, solidariedade e gentileza deviam ser comportamentos obrigatórios (ou pelo menos presentes na maior parte do tempo) de quem é, ou se diz, educador.

beijo

zel.

Categories: educação · maternidade

quem cuida de quem?

April 5, 2011 · 26 Comments

o que é melhor: largar tudo pra cuidar do seu bebê, deixar com a babá, colocar na creche, deixar com parentes…?

essa pergunta só pode ser respondida depois que você responder a outras 2 perguntas:

– o que você quer?

– o que você pode?

vou esclarecer uma coisa antes de seguir, que é pra não ter dúvida: não acredito que ser cuidado exclusivamente pela mãe até os 2 anos é necessariamente melhor para o bebê. primeiro porque depende da mãe, né (se ela for uma neurótica, não tem vantagem nenhuma pra ele); segundo porque não faz sentido dentro do comportamento da espécie. as fêmeas humanas compartilham o cuidado dos bebês e das crianças com outros desde sempre, alternando as funções de cuidar dos outros, da tribo, das crianças, da comida, etc. basta voltar uns 100 anos e já dá pra identificar o que estou falando: as mulheres não ficavam cuidando dos seus filhos exclusivamente. as outras mulheres alternavam essa função e os irmãos mais velhos cuidavam dos mais novos. essa romantização da relação mãe-bebê é muito, muito recente.

em outras palavras – vamos parar de viagem errada quanto a isso, ok? importante é amamentar, pelo menos por 6 meses e se possível até os 2 anos, o que não significa largar suas demais atividades para cuidar do bebê. dito isso, sigamos.

responder a primeira pergunta é dureza. e se você não tem nenhuma dificuldade em saber o que quer, provavelmente tem alguma dificuldade em assumir. se não tem dificuldade em assumir, não está prestando atenção 🙂

respondi essa primeira pergunta com toda a dificuldade do mundo: não quero ficar em casa o dia todo cuidado do meu filho. quero trabalhar, é uma atividade muito importante pra mim. sim, mais importante que ficar com ele o dia todo. trabalhar me faz sentir útil, admirada, reconhecida, ativa intelectual e socialmente. em outras palavras, me faz feliz. cuidar do meu filho o dia todo me faz sentir cansada, isolada e atrofiada intelectualmente. as poucas horas que passo com ele a cada dia são preciosas, me dão um prazer imenso e me fazem feliz.

a segunda pergunta foi mais fácil: eu poderia ficar em casa, se quisesse (abrindo mão de alguns confortos) e poderia também trabalhar. além disso, pude escolher entre babá e creche (deixar com algum parente não era uma opção). preferi a babá, pois já tinha alguém de total confiança que, diferente de mim, adora cuidar de bebês e crianças.

aí você pode perguntar – mas e a pergunta “o que é melhor para o bebê”?! o melhor para o bebê é ser bem cuidado, receber amor e carinho e ter ao seu lado pais felizes. desde que ele esteja bem cuidado e seja cercado de pessoas de bem com a vida e felizes, ele será feliz.

ninguém vai me convencer que uma mãe neurótica e frustrada em casa o tempo todo com o bebê é melhor que algumas horas por dia com uma mãe que trabalha mas é feliz consigo mesma. mas, por outro lado, se a mãe fica mais feliz ficando em casa, tanto melhor pra ela e para o bebê!

não julgo as opções alheias, mas questiono sim as motivações. será que as mulheres fazem suas escolhas conscientemente? e as que julgam as outras, entendem o que está por trás de cada escolha?

uma das coisas que é muito bom de ser mãe nesta idade é que me conheço melhor e tenho mais maturidade pra avaliar honestamente minhas escolhas. a experiência de ser mãe tem sido rica e cheia de oportunidades de crescer e me conhecer ainda melhor. percebo claramente minhas nuances controladoras, neuróticas, minhas carências afetivas projetadas, e vou ajustando as coisas aqui e ali, para o meu bem e para o bem do meu filho.

a pergunta que me faço silenciosamente quando observo algumas mulheres que largaram tudo pra assumir o papel de mãe em tempo integral é se são os filhos que precisam delas ou elas que precisam desesperadamente dos seus filhos. há as que de fato escolheram porque gostam dessa atividade mais do que gostam de qualquer outra coisa; e há as que se embebedam na ilusão do amor incondicional, eterno e do papel insubstituível da mãe.

Categories: maternidade

ir ou não ir ao pediatra?

April 4, 2011 · 21 Comments

crédito seja dado: esse post foi motivado por um RT da @maedemerda deste post.

bem, medicina é um assunto que adoro, e inclusive se fosse escolher outra profissão hoje, escolheria ser médica com certeza (talvez neuro ou psiquiatria). além de gostar, respeito os profissionais e gosto de realizar acompanhamento preventivo da minha saúde – não espero ficar doente para procurar médicos. por isso mesmo, tento achar médicos que sejam mais próximos do “médico de família”, que me conheça e possa me dar dicas de como me cuidar melhor e evitar doenças.

quando se trata do meu filho, nem preciso dizer que sigo as mesmas regras. descobri quando ele nasceu que é de praxe acompanhar a saúde do bebê mensalmente, nos primeiros meses, e depois as consultas espaçam mais um pouco. achei ótimo, porque queria mesmo acompanhar de perto o desenvolvimento dele, e entender quais são as questões críticas de desenvolvimento e saúde da criança, assunto do qual não entendia nada.

o texto que me motivou a escrever esse post argumenta contra as consultas frequentes ao pediatra, e embora eu respeite motivações e opiniões diferentes da minha, faço questão de – no meu espaço – oferecer um contraponto.

se você é mãe experiente e fica tranquila em não acompanhar o desenvolvimento do seu filho com um profissional, excelente pra você: vai economizar tempo e dinheiro. o que vale é o seu conforto com o acompanhamento do seu filho, afinal. se tudo está bem, e você está confiante, ótimo. e pode ser também que você não seja tão experiente mas esteja cercada de pais/mães experientes que podem ajudá-la a avaliar se o desenvolvimento do seu filho está de acordo.

eu não sou mãe experiente, não tenho ninguém experiente e que eu confie 100% pra me dizer se tudo está bem, então prefiro que um médico especialista no assunto me oriente e acompanhe comigo o desenvolvimento do meu filho. caso precise de intervenção, que negociemos como fazê-lo.

palavra-chave, atenção: COMIGO. vou insistir num ponto que volta aqui nesse blog com frequência – assumir as responsabilidades pelo que faz, ser ativa no papel de gestante e mãe. médico não é deus e nem dono do mundo, e eu não sou retardada. pesquiso, converso com pessoas mais experientes, e construo meu repertório. as consultas com o médico são conversas, troca de idéias, negociações entre nós – pais responsáveis e decisores – e o médico, nosso consultor especialista.

escolhi o pediatra a dedo, conforme alguns requisitos: formação, experiência, indicação e, é claro, afinidade conosco. e as consultas são como devem ser: conversas entre adultos, que têm opiniões e experiências diversas. nosso pediatra entende de amamentação, alimentação, cuidados em geral e a saúde e desenvolvimento do bebê. há coisas que eu levo para as consultas que ele não sabe tão bem (amamentação, por exemplo) – e não há conflito algum. ele respeita nossas decisões que, apesar das diretrizes dele, às vezes não são as que ele tomaria. e nós confiamos no que ele diz, utilizando as recomendações da forma que achamos mais adequada.

em suma: a decisão é nossa, ele é somente um conselheiro, que nos diz como está o bebê e o que é bom/ruim na experiência dele. mas sempre deixa claro: a decisão é de vocês. e é mesmo, sempre, seja seu médico tão bom quanto o nosso ou um pé-de-chinelo.

dizer que consultar com um pediatra mensalmente é ruim porque ele pode direcionar decisões equivocadas é assumir a própria ignorância, morrer abraçada com ela. informe-se, pesquise, e use o médico de forma inteligente, se precisar de ajuda. se o médico for ruim, troque, caramba. e, enfim, se achar desnecessário, não use. mas não venha me dizer que parou de amamentar porque o médico mandou, né? precisa ser muito ignorante pra entrar numa nessa.

deve ter mesmo por aí uma porção de médicos ruins a ponto de dizerem que a mãe tem “pouco” leite, não sabe orientar e tal, mas acreditem (porque marido trabalha com inteligência de mercado e por acaso já pesquisou exatamente sobre esse assunto – orientação de pediatras sobre alimentação suplementar para crianças): a MAIORIA das vezes quem quer parar de amamentar, dar remédio ou suplementar é a mãe neurótica. o médico só prescreve porque as loucas insistem (e se eles não receitam, elas procuram outro que receite).

a menos que a mãe seja muito ignorante E o médico seja muito ruim, a responsabilidade pelas cagadas no cuidado de bebês e crianças é das mães e pais mesmo. e, como sempre, colocando a culpa no médico, porque ninguém mais pensa sozinho nesse mundo e não sabe questionar e concluir coisas por contra própria. a culpa é sempre do outro.

eu gosto de saber quanto meu filho pesa, mede, pedir orientação do pediatra que trata centenas de crianças por mês e tem 20 anos de experiência. mas isso não significa que “fiz porque o pediatra mandou”. ele orienta, mas NÓS decidimos. feito gente grande, como deve ser.

Categories: alimentação · amamentação · maternidade

gravidez depois dos 30

March 25, 2011 · 26 Comments

eu devia escrever sobre gravidez depois dos 35, porque engravidei aos 37 e tive o otto com 38. tou mais pra década de 40 que 30, mas… 🙂

obviamente cada gravidez é única, e eu não tive a experiência de ter um bebê aos 18 ou 28 pra comparar, mas ouvi bastante sobre a experiência da minha mãe (primeira filha aos 18) e da minha irmã (única filha aos 28). com base na observação e na minha experiência pessoal, acho que é possível dar alguns pitacos úteis pra outras mulheres.

antes de mais nada: se pudesse voltar atrás, teria engravidado bem mais cedo (mantendo o mesmo pai pro bebê :)). o motivo é simples: as fêmeas humanas foram feitas para engravidar logo depois que menstruam,  o que pra mim significa que mais cedo é melhor. gravidez é um processo que exige muito do corpo, e nem preciso dizer que cuidar de crianças exige ainda mais (disposição, energia, tônus, etc.). é verdade que muitas mulheres “se cuidam” e se mantêm ativas e etc. etc. etc., mas tou falando do padrão. uma mulher de 38 com corpinho e fôlego de 18 é raro, concordam? uma mulher de 38 com útero e períneo de 18, tipo… não existe.

dito isso, reflito sobre o impacto que um filho teria tido na minha carreira e educação. seria inviável (e irresponsável) ser mãe aos 18, mas aos 25 seria perfeitamente possível. já estava formada, estabelecida na profissão e poderia conciliar as coisas. provavelmente trabalharia menos, teria restrições e é provável que não tivesse arriscado tanto quanto arrisquei. em contrapartida, é muito provável também que não tivesse progredido tão rápido e não pudesse encarar as oportunidades que encarei. acho que minha carreira teria tido uma perda, sim. por outro lado, estou num ponto de salto de carreira neste momento e tenho um bebê de 6 meses. bad, bad idea. acho que o fim dos 20 e início dos 30 são ideais para ter filhos, do ponto de vista de carreira.

e minha vida pessoal? a maior perda, desse ponto de vista, teria sido em relação a viagens. viajei muito dos 18 aos 38, conheço muitos lugares no mundo, conheço relativamente bem nosso país, fiz viagens maravilhosas. várias delas seriam impossíveis com um bebê ou criança (ou seriam muito chatas). mas essa sou eu – tem gente com a minha idade que não viajou nem uma fração do que viajei. isso importa pra mim, é onde eu mais gosto de gastar dinheiro na vida. ainda não acabei de pagar meu apartamento, mas conheço montes de países da europa… escolhas que fiz, e faria novamente. mas com um filho pequeno seria muito difícil. novamente, deste ponto de vista, o período ideal seria ainda fim dos 20 e início dos 30. pensem que o bebê nascendo quando você faz 30, com 37 ou 38 já dá pra fazer viagens incríveis que a criatura aproveite também! sensacional.

minha mãe tinha 18 quando eu nasci, e teve mais 2 filhos nos 2 anos seguintes. passou dos 18 aos 22 em casa cuidando de nós e depois foi trabalhar fora pra nos sustentar. não tinha estudo, profissão, grana, nada. com muito esforço conseguiu nos criar e não fez basicamente nada por si mesma! só depois que ficamos adultos, quando estava com 40 anos, é que ela começou a ter que pensar em si mesma (o que foi um choque e um problema também, assunto pra outro post).

minha irmã teve a ju com 28, já formada, trabalhando, completamente estabelecida. já tinha feito suas viagens, curtiu o casamento por alguns anos e aí teve o bebê. hoje, com 38 quase completos, ela tem uma menina de 9 anos que já consegue acompanhá-los nas viagens e programas (embora nem sempre ela queira, é verdade :)), continua investindo na carreira e na formação nestes anos, tudo correu muito bem. temos quase a mesma idade, mas vejo que a combinação trabalho/filho/momento da vida dela é mais vantajosa que a minha.

estou com 39 recém completados, condição financeira ótima, aproveitei o casamento, viagens e outras coisas, e tenho um bebê lindo de 6 meses. mas pra retomar as coisas que gosto (viajar, estudar, investir na minha carreira, sair pra jantar, etc.) vai levar alguns anos. quando puder curtir de verdade as viagens com o otto vou estar com quase 50 anos!

do ponto de vista físico, também acho que adiar a decisão de ter filhos é mau negócio. o corpo sente mais, a gravidez é mais arriscada sim (principalmente se for a primeira) e fazer parto natural pode ser mais complicado. lembro que minha gravidez foi 10 (perfeita, de livro), sou saudável, mas o parto foi um horror. acontece com mulheres mais jovens também, mas desconfio que seja menos frequente…

resumindo, mulher amiga que quer muito ter filhos: não espere muito, não. há vantagens, sim, mas acho que pesando tudo, ter filhos um pouco mais cedo é melhor que tê-los um pouco mais tarde.

Categories: gravidez · maternidade

da volta ao trabalho e outras coisas

March 19, 2011 · Leave a Comment

voltei essa semana ao trabalho, depois de longos 8 meses: tirei 15 dias de licença médica, pois não conseguia dirigir mais, a licença maternidade, 1 mês de férias vencidas e mais 10 dias de férias normais. desse tempo, passei 6 meses e meio com o otto em casa, com ajuda do fer e da maria (a babá dele).

diferente do que muitas mães relataram, minha volta foi tranquilíssima. cheguei ao trabalho com quase 3000 parados na minha caixa postal (já mandei pro arquivo morto – nem sei quando e se vou voltar a lê-los), mas tive uma recepção muito calorosa dos meus funcionários e colegas, falei bastante sobre estes meses e sobre o otto. mostrei fotos, corujei bastante o menino e tals. aos poucos vou me ambientando novamente e pegando pé das coisas.

não fiquei pensando no otto a ponto de me distrair no trabalho e não fiquei nada preocupada com ele. voltei 100% tranquila de que estamos numa situação ótima: saio às 7:30h e volto às 17:30, a maria cuida dele neste período e o fer está em casa com frequência pra dar atenção de pai. a rotina dele está bem estabelecida, e estamos mantendo “o diário do otto” em papel, num caderninho. (falo mais disso no próximo post sobre a rotina de alimentação que estamos seguindo)

todo mundo me pergunta se eu não morro de saudade, oh meu deus, e a resposta é não. nada diferente da saudade que tenho quando ele está dormindo, por exemplo 🙂 lembro dele, da carinha, das gracinhas, dá vontade de apertar, mas não é algo que “doa”, ou que me incomode. ele é alguém que eu amo, e quer estar junto, mas não precisa ser o tempo todo. no horário de trabalho, estou trabalhando e pensando em outras coisas, sem precisar fazer esforço algum.

o melhor de ter voltado a trabalhar é que tenho outras atividades, convivo com outras pessoas e não estou 100% observando e convivendo com o bebê. além de amenizar meu lado controlador, isso também serve para que eu aprecie mais e melhor as poucas horas que tenho com ele. fico com ele 30min de manhã (além dos minutos de mamar) e 2,5h à tarde (ele dorme pontualmente às 20h), e essas horas têm sido preciosas.

estou adorando ficar com ele, e isso nem sempre era verdade quando eu TINHA que ficar com ele o dia todo. eu ficava de saco cheio várias vezes ao dia, querendo descansar ou fazer outra coisa (ler, tomar banho, fazer nada!). agora eu curto muito essas horas com ele, e é óbvio que isso vale pra nós 2. ele abre os bracinhos quando eu chego, e dá um sorrisão que me derrete toda 🙂 lindo demais, cheio de dengo, brincalhão. mesmo quando ele fica com sono ou fome e começa a resmungar, fica mais chatinho, eu não ligo. tenho mais paciência, e dou mais atenção a ele.

em suma: melhorou pra nós 2! o pai tem observado o comportamento dele de dia, pra ver se ele sente minha falta, e a verdade é que não sente. ele tem pessoas legais cuidando dele, brincando e conversando. ele não precisa de mim o tempo todo, e eu percebi que também não preciso estar com ele o tempo todo.

foi bom voltar a trabalhar e perceber que ser mãe não precisa necessariamente ser refém do bebê, e que ele se vira muito bem sem minha presença. meu menino ficando independente! <3

Categories: maternidade · working mom

num passado distante…

March 3, 2011 · 3 Comments

… há exatos 10 anos, num blog secreto que mantive até 2006.

13.1.01

…não quero ter filhos. É, isso mesmo, não quero tê-los, não quero embalá-los nem levá-los à escola. Não quero chorar por eles, nem rir com as coisas que eles fazem, nem deixar de dormir porque eles não chegaram. Nem acordar à noite, só pra conferir se eles estão vivos, naquele sono tão quieto que colocamos as mãos perto da boca e do nariz, pra sentir a respiração. Não vou odiar as namoradas do meu filho nem olhar torto para os namorados da minha filha. Não vou achar moderno serem gays ou lésbicas, não vou mostrar minhas tatuagens pra eles. Não vou ter que explicar porque as coisas acontecem do jeito que acontecem, porque as pessoas são ruins, porque os dodôs estão extintos. Não vou ensinar a comer rã ou scargot, nem a temperar um frango corretamente antes de cozinhar. Não vou beijar as mãozinhas gordinhas deles quando pequenos, nem segurar a mão no hospital, na hora de dar pontos naquele corte de bicicleta. Não vou ficar triste porque eles esqueceram o dia das mães, nem alegre porque eles lembraram.
.
Vou só pensar em como teria sido, poderia ter sido, e não foi. E talvez seja melhor, pois só terei o que a minha imaginação e vontade permitirem. Talvez não.

// posted by Zel @ 12:12 PM

Categories: maternidade

a mãe-possível

February 25, 2011 · 13 Comments

a pedido do marido estou escrevendo este post. o objetivo é esclarecer algumas coisas sobre os assuntos deste blog para os que não me conhecem ou não acompanham todos os posts desde o início.

este blog é sobre a minha experiência com a gravidez, parto, amamentação e criação de um ser humano. bem, não só experiência mas também minha opinião, “testada” ou não. vocês vão encontrar relatos, palpites, desabafos e algo como um diário para o meu filho (um texto mais afetivo que objetivo). penso (e isso está só no campo das idéias por enquanto) em organizar algumas informações em formato de manual, para ajudar outras mulheres em condições parecidas com as minhas nos assuntos amamentação e alimentação do bebê.

me sinto um pouco ridícula escrevendo isso, mas vá lá: não pretendo convencer ninguém sobre nada, não me sinto dona da verdade e nem acho que minha experiência/postura é a “certa”. esta vivência é a minha, a que o contexto no qual eu vivo e a pessoa que eu sou permitem e proporcionam. tenho cá minhas opiniões sobre certas posturas e decisões, mas é isso – mera opinião, que não tenho intenção e nem desejo de impor a ninguém. tenho o direito de criticar o que quiser, esse é meu espaço, e reconheço o direito alheio de discordar e fazer as coisas de outra forma.

(mas não aceito ofensa pessoal aqui no meu espaço, e não tolero anonimidade. estou me expondo ao assinar meus textos, se você quer discutir, assine também os seus textos e talvez possamos conversar)

esclarecido esse ponto, vamos à perspectiva.

para efeito didático, vamos ser simplistas e dividir o mundo da maternidade (e paternidade também. como não existe “parenthood” em português, vou usar a versão feminina porque sou eu a autora do blog) em dois extremos: a mãe-odara e a mãe-biônica (naquele sentido que se usava na época da ditadura).

a mãe-odara é aquela que se realiza completamente na maternidade, ama tudo o que diz respeito a este assunto e se dedica a ele de coração, corpo e mente. a mãe-odara pararia de trabalhar para cuidar dos seus filhos, se pudesse, acha que o cocô do seu filho não tem cheiro, é defensora ferrenha do parto natural, da amamentação até quando o seu filho desejar. acredita que parto natural e a amamentação são essenciais para estabelecer o vínculo mãe-bebê, e que sem isso a relação fica prejudicada. ela defende ficar com o bebê no colo tanto quanto for possível, dormir junto, participar de todos os momentos da educação e crescimento do seu filho. ela oferece alimentos saudáveis e orgânicos para o seu filho, cozinha a comida dele, limpa e cuida de tudo que diga respeito às suas crias. ela chama seus filhos de “cria”, e a si mesmo de mamífera. ela celebra a gaia dentro de si, considera a maternidade o grande dom e presente da natureza.

a mãe-biônica engravidou porque o marido quis, porque queria arranjar marido ou porque ser mãe é “in” e todas as celebridades são mães. ela morre de medo da gravidez estragar seu corpo, faz dieta a gravidez toda, usa um milhão de cremes e faz luzes no cabelo apesar de potencial risco para o bebê, porque precisa estar bonita sempre. tem horror absoluto a parto normal (que dirá natural), isso é coisa de índio e pobre. não quer sentir dor de jeito nenhum e principalmente quer estar linda no dia do parto para sair bem nas fotos (e não conta pra ninguém, mas não vai arriscar estragar sua “área de lazer”). não vai amamentar, porque o peito vai cair. algumas até fingem que tentam amamentar, mas desistem logo porque dá muito trabalho e impede suas outras atividades sociais. terceiriza completamente todo o cuidado e educação dos filhos para a babá e a escola por pura falta de interesse, e o motorista leva seus filhos para o pediatra (com a babá, que é quem sabe o que se passa com o bebê).

(há um outro tipo de mãe nessa ponta da escala, as psicopatas que largam seus filhos na rua ou usam como mera mão de obra. mas essas estão na categoria “loucas”, nem vou entrar no mérito)

antes de seguir, é essencial que eu diga que entre estes 2 extremos, considero o primeiro – de longe! – melhor. e guardadas as devidas proporções, eu mesma estou muito mais para a mãe-odara que para mãe-biônica! defendi e continuo defendendo parto natural, amamentação livre demanda, contato máximo com o bebê e a responsabilidade total pela alimentação e educação dos meus filhos. tudo isso em escala real, dentro das minhas limitações, possibilidades e (por que não?) desejos. a mãe-odara é o modelo da abnegação e a mãe-biônica o modelo do egoísmo. e todos sabemos (ou devíamos saber!) que qualquer destes extremos beira a sociopatia e deve ser evitado.

já fiz aqui várias críticas ao que batizei de mãe-biônica, e quando me deparo com este tipo (eles existem. aqui no condomínio onde moro tem várias) sinto muito pelos bebês. são eles que sofrem a falta da mãe, de carinho e que no médio e longo prazo vão carregar o peso dessa ausência. e sofro pela sociedade também, que ganha vários membros sem afeto e sem educação. esse perfil está longe do que desejo pra mim e para o meu filho, mas honestamente não me afeta que algumas mulheres optem por este caminho. principalmente porque elas não se vêem como evangelizadoras salvadoras da humanidade. elas cuidam da própria vida, muito obrigada, não se meta. elas simplesmente desprezam as mães-odara, com um virar de olhos de puro desdém. “hippies”, diriam, e continuariam a comprar na daslu enquanto a babá de branco leva seus filhos pela mão.

a mãe-odara, por outro lado, pode ser benéfica para seus filhos (será?) mas pode se tornar maléfica para outras mulheres. elas se consideram a salvação da humanidade e por isso mesmo fazem questão de evangelizar, pregar e condenar. elas fazem sites na internet para divulgar as maravilhas do parto natural, da amamentação, fazem eventos de celebração da maternidade, participam de listas de discussão exaltando as maravilhas da maternidade ativa, de quanto isso é lindo e maravilhoso e correto. elas se consideram superiores, evoluídas, se auto-denominam “empoderadas” e têm raiva visceral de quem não partilha e pratica da sua cartilha. elas são engajadas, hormonais e agressivas como fêmeas recém-paridas defendendo a cria. e se você duvida, experimente entrar numa lista de discussão desta casta de mulheres e dizer que vai começar a oferecer alimentos para o seu bebê de 5 meses e meio (como eu estou fazendo), pelo motivo que for. prepare-se para ser estraçalhada.

acho as mães-biônicas um horror, fato. mas elas não me afetam, não afetam a outras mulheres, porque elas fazem opções individuais e vivem suas vidas. as mães-odara, por outro lado, com seu engajamento xiita, se tornam ditadoras e afetam negativamente outras mulheres. elas julgam, condenam e fazem com que mulheres que não querem ou não podem ser mães-odara se sintam inadequadas no momento em que estão mais frágeis (na gravidez e pós-parto).

e eu não estou exagerando, gente. basta pesquisar na internet, entrar em grupos de discussão ou sites sobre maternidade pra se sentir mal. se você não for uma das que optou por ser mãe-odara, pobre de você. não vai ter liberdade pra conversar sobre opções não-odara sem ser rechaçada ou indiretamente diminuída pelo tom de superioridade das mães perfeitas. seu parto foi normal, mas com intervenção? “ah, que pena… você não conseguiu viver aquele momento lindo, único e especial do parto natural, pobrezinha! quem sabe no próximo?”

pobre mesmo de você é se fez uma cesárea, não conseguiu amamentar ou colocou seu filho numa creche (heresia!). todas as mães-odara vão balançar as cabeças, com pena de você, e dar o maior apoio para você engravidar logo do próximo filho, pra “fazer certo dessa vez, agora que você encontrou a luz”. e não ouse nunca manifestar sentimentos negativos em relação à maternidade, é tabu. a maternidade, pra essas mulheres, é toda linda. não tem lado B, não, porque “todas as dificuldades são compensadas pelo sorriso do seu filho”. really?!

eu repito: não estou exagerando. vá, e veja.

meu incômodo, portanto, é com a patrulha, o radicalismo, a crença cega de que há a forma “certa” de ser mãe e coitada de você se algum dos elementos faltar (parto natural, amamentação exclusiva até quando deus quiser, dedicação total aos filhos e somente sentimentos positivos promovidos pela ocitocina).

mas esse blog, afinal, não é um panfleto. não é pró nada e nem contra nada. é sobre mim, sobre meu filho e sobre minhas opções. por acaso esbarro nos assuntos mãe-odara e mãe-biônica aqui e ali, porque gosto de usar os extremos pra reforçar a importância da temperança. porque sou real, com problemas reais e cheia de limitações. não sou egoísta a ponto de largar mão do meu filho pelos meus interesses, mas não estou tão encharcada de ocitocina ou possuída por gaia a ponto de abrir mão da minha vida e dos meus desejos pelo meu filho.

sou humana, cheia de defeitos e qualidades, e é com isso que terei que me virar. sou uma mãe-possível.

Categories: maternidade

aproveitando o ensejo…

February 24, 2011 · 5 Comments

uma mãe odara anônima resolveu deixar comentários no post anterior porque se sentiu ofendida pelas minhas opiniões. segundo ela, eu (1) estou generalizando, (2) estou incomodada com o fato de haver mulheres que adoram viver para seus filhos, (3) estou dizendo que minhas verdades são únicas e (4) estou me contradizendo no assunto “babá” por exemplo.

não publiquei o comment porque não gosto de bater palma pra louco dançar. aprendi depois de 10 anos de blog que os anônimos gostam de criar caso, mas não querem se comprometer com nada, ficam escondidinhos no anonimato só jogando lenha na fogueira e saem de cena intactos quando convém. não curto, acho covarde e deixo pra lá.

mas gostei da provocação dela, especialmente porque é fácil de provar que ela está errada 🙂 está errada porque me lê com má vontade e se entrega ao rancor. eu chutaria que isso se dá porque toquei em algum ponto dolorido dela, sem saber. não fosse assim, ela não se daria ao trabalho de vir aqui deixar 2 comments enormes… alguma coisa pegou. aprendi uma coisa nos meus anos de terapia, que vou compartilhar por pura generosidade: quando algo que alguém diz/escreve (e não é direcionado pessoalmente a você e não ofende uma raça, gênero, etc.) ofende e magoa você como se fosse pessoal, faça uma auto-análise. algo no que foi dito está ressoando algum problema SEU escondido. o autor não tinha intenção de magoar você, já que ele sequer o conhece, perceba.

convenhamos, a pessoa vestiu uma carapuça ENORME. e veio aqui tentar diminuir a importância da minha opinião e vivência pra se sentir melhor. já vi esse filme, e não caio mais. sigamos.

não vejo generalização nenhuma aqui nesse blog quando falo das MINHAS experiências. e por favor, não vamos cometer erros primários de interpretação de texto, tais como achar que “você vai sentir arrependimento por X ou Y” é uma generalização. isso é recurso de narrativa, ok? não vou nem explicar, isso é básico.

eu não me incomodo em absoluto com mulheres odara (embora ache esquisito). eu me incomodo muitíssimo com o discurso xiita e ditador destas mulheres espalhado pela web, que massacra as demais mulheres, acusando-as de serem mães piores e prejudicarem seus filhos por não corresponderem ao ideal de perfeição. isso está claríssimo em todos os meus textos, só não entende quem está de má vontade mesmo.

acho que sobre verdades únicas nem preciso comentar. se tem alguém no mundo dos blogs pessoais que já acertou e errou (mais que acertou), mudou de idéia e admitiu ter mudado de idéia sou eu. nunca tive medo disso, ainda não tenho, e nunca digo que há verdade única. esse discurso é típico de quem está na defensiva e sem argumento. vou pular.

e aí tem a acusação de eu ser contra babá e agora achar certo e defender. tenho excelente memória, e pra quem não tem meu post sobre o assunto está aqui. eu sei no que acredito, sou uma mulher muito inteligente e não há contradição nenhuma no meu discurso antes e depois de parir. não que fosse um problema haver contradição, isso não invalidaria minha opinião anterior e nem a atual (de novo, recurso pobre pra diminuir a opinião do outro…). continuo sendo contra as babás de uniforminho, que acompanham bebês com os pais em lugares públicos e dormem no emprego. nada mudou. a nossa babá é como uma creche de luxo, porque podemos pagar, oras. ela trabalha de segunda a sexta das 7:30h às 17:30h (horário em que estou fora trabalhando), é registrada, ganha um ótimo salário e é muito bem tratada, como profissional que é. e quando necessário eu contrato folguista de fim de semana, para poder fazer outras atividades, já que não conto com família disponível pra me ajudar com o bebê quando quero por exemplo cortar o cabelo e meu marido está ocupado.

(me ocorreu que talvez as mães-odara não cortem cabelos, não se depilem, por isso não precisam de ajuda extra quando querem se cuidar 😉 ou são das mães sem noção que deixam seus filhos chatos soltos e incomodando as pessoas em salões, que deus nos livre!)

bom, odara, viu como eu fico feliz em responder? não tenho nada a temer, estou tranquila com minha opinião e a forma como a expresso. estou aqui, exposta, colocando às claras várias opiniões e sentimentos que muitas mulheres têm medo de admitir (tipo querer devolver o bebê pra fábrica) graças às supostas “mães perfeitas” que fazem tudo parecer tão fácil e simples e gostoso. continuarei firme e forte aqui, baby. as mães e mulheres que ficam aliviadas em ler opiniões aqui são motivo suficiente pra que eu continue, e não me deixe abater por provocações como a sua.

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porque faço questão de comentar

February 23, 2011 · 13 Comments

estou trocando emails com a bianca balassiano do possoamamentar.com.br, e ela tem dado ótimas dicas sobre como ordenhar quando voltar ao trabalho. dicas práticas, que venho experimentando, e agradeço a ela pela boa vontade, educação e disposição em ajudar alguém que não só não conhece como também é em muitos aspectos avessa às suas crenças. recomendo procurá-la quando precisarem de apoio individualizado na amamentação.

começo com essa breve introdução porque respeito a bianca, e agradeço sua gentileza, mas também discordo de algumas coisas que ela gosta e divulga, esse texto aqui por exemplo e tudo que ele implica.

considero esse texto um total desserviço às mulheres que se tornam mães e desejam amamentar, e vou usar trechos para explicar meus motivos (grifos meus):

Para dar de mamar deveríamos passar quase o tempo todo nuas, sem largar a nossa criança, imersas num tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaboração de pensamentos, sem necessidade de defender-se de nada nem de ninguém, senão somente sumidas num espaço imaginário e invisível para os demais.

(…)

Isto é possível se se compreende que a psicologia feminina inclui este profundo afinco à mãe-terra, que o ser uma com a natureza é intrínseco ao ser essencial da mulher, e que se este aspecto não se põe de manifesto, a lactância simplesmente não flui.

faço antes um comentário breve mas importante: dou muito valor ao instinto, pois creio que são parte da nossa herança genética e nos direcionam para o caminho correto. entendo portanto que seja incentivado que cada mulher encontre seus instintos maternos, eventualmente escondidos pelo verniz da modernidade. isso é especialmente precioso para mulheres que, como eu, são excessivamente racionais. entrar em contato com seus instintos, seu eu-interior e tal é salutar e importante. mas, quero frisar com negrito, isso é assunto individual para ser tratado em terapia!

textos genéricos, apelativos e “definitivos” como esse são um banho de água fria em qualquer mulher que tenha dúvidas sobre sua capacidade de ser mãe e/ou amamentar. bem, vamos aos grifos.

passar quase todo tempo nuas é obviamente inviável, a menos que você seja naturista. e tem o inverno. e a convivência com outras pessoas, já que vivemos num mundo no qual não é natural andar pelado, por mais que seja gostoso. então já partimos da impossibilidade, o que me leva a perguntar qual é o benefício de escrever essa frase… vamos fazer então uma interpretação figurada, e torcer para que as demais coitadas que lêem esse texto tenham essa capacidade e não levem as coisas tão a sério. ela quer dizer que contato pele-a-pele com seu bebê é importante, talvez? genial, tenho certeza que é importante. por que então não dizer exatamente isso, já que estamos falando com mulheres procurando apoio para serem melhores mães? por que não falar sobre coisas possíveis, tais como massagem no bebê, banho conjunto, olho no olho, carícias durante o amamentar, etc.? não, vamos falar de coisas impossíveis, pra que a leitora não se identifique e se sinta inadequada.

imersas num tempo fora do tempo, sumidas num espaço invisível para os demais talvez se trate de desligar das outras coisas, cuidar somente do seu bebê e esquecer de todo o resto do mundo. é, talvez isso faça sentido nos primeiros dias depois que seu bebê nasceu, porque o tsunami de hormônios mais todas as novidades (sentimentos, pensamentos, rotina, etc.) mais a privação de sono realmente deixam a gente num outro universo, paralelo. fato é que passado esse choque inicial, a vida continua acontecendo ao seu redor. a roupa não se lava sozinha, as contas não se pagam, a comida não se apronta e você continua sendo parte de um sistema. o mundo não fica restrito a você e ao seu bebê. e não conta pra ninguém, mas você vai MORRER de saudade da sua vida anterior. você vai se arrepender de ter decidido ter um bebê, vai achar que não vai dar certo, que você não é capaz e que sua vida piorou pra sempre. e logo no mesmo segundo vai MORRER de culpa por pensar tudo isso, porque afinal você já ama aquela criatura mais que tudo na vida, e desejou muito ser mãe, quis e quer fazer o melhor por ela. por mais que as mães-odara tenham dito pra você que sua vida vai mudar pra melhor pra sempre, e que você será uma mamífera-empoderada, você vai se sentir mesmo é uma merda, e pior: sequer vai ter coragem de admitir. porque alguém fez a gentileza de escrever um texto deste tipo, dizendo que o certo é ficar nua, imersa num outro espaço-tempo, se dedicando à sua cria. e ai de você se sentir diferente. não é uma mãe perfeita, claro, e vai se sentir uma mãe de merda.

ser uma com a natureza é a melhor. por mais que eu creia (e creio) que precisamos sim nos conectar mais com nosso lado animal e natural, pois é benéfico em todos os aspectos da nossa vida (alimentação, comportamento, atividades fisiológicas, etc.), “ser um com a natureza” não quer dizer absolutamente nada. na-da. não consigo crer que exista uma pessoa com o racional e emocional em dia que possa dizer que é “um com a natureza”. primeiro porque não vivemos na natureza. eu não conheço uma única pessoa que viva na natureza, que só come o que planta/caça/colhe, que viva em meio à natureza de fato. só isso já é suficiente pra não permitir nenhum de nós ser “um com a natureza”. quando a autora diz que isso é intrínseco ao ser essencial da mulher, danou-se. porque se é intrínseco e você sequer entende o que isso significa e não sente isso, já se lascou toda sua capacidade de ser mãe, mulher, de amamentar. e a autora, ditatorialmente, ainda complementa dizendo que se esse não for seu caso (“ser uma com a natureza, como é intrínseco da essência feminina”), a lactância não flui. sério, gente? quem precisa ler isso? (eu já digo quem precisa ler isso, a pergunta foi retórica)

cara amiga autora, caras mães-odara que gostam muito desse texto, vou dar meu depoimento. eu não sou “uma com a natureza”; não passo o tempo todo nua e nem passei desde que meu filho nasceu; não fiquei num tempo-espaço diferente. inclusive assisti muito friends e tuitei enquanto amamentava meu filho a cada 2 horas. pois meu filho mamou lindamente até agora (está completando 6 meses), em livre demanda, e meu leite sempre fluiu firme e forte desde o dia em que ele mamou. e ele mamou de primeira, sem esforço. e foi na UTI, não numa caverna com sua mãe pelada e bem louca da cabeça, viu?

caras amigas leitoras que se sentem inadequadas com esse texto e essas idéias, eu explico como foi possível amamentar meu bebê sem ser essa mãe-gaia-telúrica perfeita: muita água, alimentação adequada, descanso (conforme possível), fé na fisiologia humana e força de vontade. o negrito na força de vontade, amiga, não é à toa. todas nós viemos prontas de fábrica pra amamentar, basta ter estímulo físico e psicológico. eu comecei a produzir leite DEPOIS que meu filho nascer e ANTES dele mamar. meu corpo estava lotado de prolactina, como é normal para as grávidas recém-paridas, prontinho pra produzir leite. eu ordenhei, e o leite começou a aparecer. aos pouquinhos, gotinhas, e foi aumentando conforme eu insisti. ou seja: fisiologia pronta + força de vontade = sucesso. não é fácil, e às vezes dói (seja ordenhar, seja o bebê mamar), mas dá certo. insista, beba água, SAIBA que você é perfeita e está pronta, pois a natureza fez você assim. não é necessário ser uma com a natureza, nem ficar pelada ou trancada numa caverna. a “lactância” vai “fluir”, sim. e se não fluir? é porque alguma dessas coisas deu errado – às vezes as coisas dão errado, porra! – e também não será o fim do mundo. seu filho vai viver, e você pode ser sim uma boa mãe a despeito (ha) desse episódio.

se você ainda não entendeu meu incômodo com esses textos depois disso tudo, eu resumo: eles fazem a maioria das mulheres se sentirem inadequadas porque não se identificam com a imagem de mãe-telúrica pintada como ideal. ao sentir-se inadequada, a mulher se enche de medos e dúvidas, e esses sentimentos são um veneno para quem precisa de segurança e estímulo para cuidar do seu filho e amamentar. desserviço absoluto.

bem, agora eu respondo minha própria pergunta: quem precisa ler isso? quem se identifica com essa imagem e quer se auto-afirmar. as mulheres que por algum motivo encarnam a mãe-gaia quando engravidam e dão seus filhos à luz gostam de se ver como provedoras absolutas, necessárias, mágicas e especiais. por mais que remetam à natureza, elas não se vêem como meros animais com tetas, não senhores. elas se vêem como deusas superpoderosas, sobrenaturais. a maternidade dá a elas uma dimensão que antes não existia, dá SENTIDO às suas vidas e as definem. antes de serem mães elas eram meras mortais; depois do parto, se tornam algo especial, fora do alcance dos que não passaram por essa experiência, são mamíferas (todos somos, os homens inclusos, dã), gaia. em bom português, elas piram na batatinha.

volto ao título: faço questão de comentar sobre isso, porque estou muito bem resolvida com meu papel como mãe e ser humano, com todas as minhas falhas. ser mãe, ou dar a teta pro meu filho, não define quem eu sou nem me torna melhor ou pior que ninguém. até porque já passei pela experiência e vi que sou capaz (a despeito de não ser “uma com a natureza” e tal), isso já não me afeta. mas e as muitas mulheres que vão passar ou estão passando por isso? espero que encontrem esse post e suspirem aliviadas. que digam “graças a GAIA tem mais gente nesse mundo que não pira na batatinha quando vira mãe”.

amigas mães-não-telúricas, esse post é pra vocês: vocês não estão sós! se precisarem de um conselho ou uma história que não passe por soluções mágicas e elfos na floresta, deixa um recado que se eu não souber, consulto as minhas amigas mães de verdade.

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sobre tudo OU o post mais longo ever!

February 18, 2011 · 12 Comments

estou usando o calendário (papel) no quarto do otto pra registrar algumas coisas, mas acho que vale também registrar aqui. como pretendo organizar as informações a respeito de amamentação exclusiva e transição para outros alimentos, esse post pode ser reaproveitado.

desde que engravidei decidi que amamentaria o bebê por quanto tempo fosse possível, com ênfase nos 6 primeiros meses. inicialmente pensei em amamentar exclusivamente até o sexto mês, mas conversando com o pediatra decidimos começar o processo de oferecer outros alimentos a partir do quinto mês, para que eu ficasse mais tranquila quando voltasse a trabalhar (o otto vai estar com 6 meses e meio).

lendo sobre amamentação na internet parece que iniciar alimentação para o bebê antes do sexto mês é uma heresia. escolhi o pediatra do otto a dedo, ele é chefe da pediatria da UNICAMP, universidade que admiro muito. é um médico de meia-idade, com enorme experiência nesta área. as consultas são longas, e ele explica absolutamente tudo que queremos saber com riqueza de detalhes para não-leigos. ele nos trata como iguais e não como “pai e mãe”, respeitando nossa inteligência. em suma: confio no profissional que escolhi para nos aconselhar, e estou satisfeita com as explicações para as decisões tomadas. e posso estar errada, mas tenho a impressão que os sites de amamentação que vejo por aí pecam pelo excesso (entendo a radicalização pra mudar um quadro desfavorável, mas não vou entrar nessa), propõem uma abordagem que transforma a mãe em uma teta ambulante, que precisa estar 100% engajada e à disposição do bebê.

sim, eu acho que quem decide ter um filho precisa se engajar e estar à disposição dele o máximo possível. ênfase no POSSÍVEL, por favor. porque amamentar e cuidar do bebê precisam ser atividades com as quais a mãe tem algum prazer e recompensa, nenhum bebê se beneficia de uma mãe estressada, chateada ou arrependida de ter parido. e não me venham com papo moralista de “pariu agora aguenta”, guardem esse discurso pros seus pastores e equivalentes.

me parece (pelos inúmeros blogs e sites por aí) que existe algo como um “movimento de mães-odara” que se pauta numa “volta às origens” (se dedicar exclusivamente ao bebê, fazer tudo da forma mais “natural”). fala-se sobre amamentar por 2 anos, ou mais, adiar a inserção da alimentação para o bebê, etc. apesar de todas as boas intenções, vejo alguns pontos problemáticos (que vou detalhar) quando me deparo com esses discursos: elas falam como se tudo fosse fácil, intuitivo e lindo. e se você não consegue ou não quer “fazer sacrifícios” para atender seu filho, é uma mãe de merda. existem as mães de merda, sim, mas há todo um gradiente de mães humanas e possíveis entre as mães doriana e as mãe de merda!

vamos aos problemas que eu identifico:

cenário 1 – supondo que você seja uma das que tem emprego formal, sua licença foi recentemente estendida para 6 meses. se você conseguir trabalhar até o dia de ter seu bebê, voltará a trabalhar quando ele completar 6 meses. é possível mantê-lo mamando no peito este tempo, mas [problema 1] você não conseguirá acompanhar a transição para os alimentos, pois precisa voltar a trabalhar. e enquanto alguém [problema 2] faz a transição para alimentos sólidos, você precisa [problema 3] ordenhar leite para o seu bebê (falo disso daqui a pouco).

cenário 2 – você não tem emprego formal, não tem licença maternidade e vai ficar sem trabalhar pelo tempo que for possível para continuar sobrevivendo. supondo que seja possível ficar sem trabalhar e sem receber por 6 meses, enfrentará os mesmos problemas do cenário 1, e se não puder parar de trabalhar de jeito nenhum, terá que ordenhar leite para o seu filho loucamente, já que é a única alimentação dele.

cenário 3 – você consegue trabalhar meio-período ou em casa, e portanto consegue continuar suas atividades sem precisar ordenhar, deixar seus filhos com outras pessoas e delegar a transição. neste caso, precisará administrar seu tempo [problema 4] para adicionar à sua agenda todas as novas atividades que a maternidade traz consigo e ainda viver!

cenário 4 – você não precisa trabalhar ou se parar de trabalhar continua vivendo porém com menos “luxos”. pode amamentar seu filho quantos meses forem necessários e fazer a transição para alimentos sólidos com acompanhamento de perto. lucky you! caso você tenha condições de ter funcionários, sequer enfrentará o problema 4.

não vou comentar o problema 4, pois não é meu caso por enquanto. vamos aos demais:

problema 1: podem me chamar de controladora, mas faço questão absoluta de acompanhar de muito perto a iniciação do meu filho aos alimentos, observando sua reação, as mudanças que causam no corpinho e comportamento dele e principalmente a preparação e rotina. quando eu voltar a trabalhar (sou a mãe do cenário 1), a babá é quem vai alimentá-lo (com a supervisão ocasional do pai, que trabalha em casa), portanto quero garantir que ela faça como eu faria.

queria ver com meus próprios olhos essa transição, esse foi um dos motivos de antecipá-la para os 5 meses: quando ele estiver com 6 meses e meio e eu voltar ao trabalho, a transição está praticamente completa e eu já saberei como ele se comporta, o que gosta, como aceitou os alimentos e como está a digestão. ficarei mais tranquila e consequentemente serei uma mãe melhor pra ele.

o outro fator para o início da alimentação foi uma dica do pediatra: o otto aumentou a frequência de mamadas à noite a partir do quarto mês (3 em 3, ao invés de 4 ou 5 horas de intervalo enquanto dormia). o menino cresceu mais do que engordou, e parece que alguns bebês realmente precisam mamar mais para manter o ritmo do seu crescimento. a sugestão dele foi oferecer suco e fruta, pois se ele estivesse mesmo precisando de mais alimento, aceitaria bem e “aliviaria” essa maior frequência durante a noite. pois foi exatamente o que aconteceu: ele aceitou muito bem o suco e as frutas, e voltou a aumentar o intervalo de mamadas à noite. além disso, ele continua mamando de 3 em 3 horas de dia, o alimento novo é suplementar. não sei quando exatamente vamos começar a substituir, mas por enquanto ele toma suco E come E mama o dia todo e à noite.

e tem outra coisa: acho que se o alimento for ofertado e o bebê aceitar, é porque está pronto. o desenvolvimento dos bebês não é idêntico para todos eles, e 6 meses é somente uma data. não há nenhum marco de desenvolvimento humano que seja tão preciso. a data de aniversário é só uma data! não creio nessas “datas místicas”, prefiro experimentar e ver como o MEU bebê reage aos estímulos.

problema 2: “alguém”, ou “algum lugar”, é a grande questão que tira o sono das mães que precisam trabalhar. eu tenho uma sorte enorme, pois a maria que cuidava de nós e da casa também foi babá por muitos anos, cuidou de crianças a vida toda e AMA ser babá. ela nos ensina sobre como cuidar do otto, e estou 100% tranquila com ela assumindo os cuidados dele. mas e quem tem pouco dinheiro para pagar e não tem ninguém de confiança, faz como? antigamente as mulheres eram essencialmente donas de casa, as poucas que trabalhavam contavam com parentes e vizinhas que assumiam o cuidado das crianças. agora temos creches (péssimas, ouvi dizer) que cuidam das crianças “em lote” e babás que custam muito dinheiro.

financeiramente, no meu caso, compensa ter babá. o que ela ganha é muitíssimo menos do que eu ganho trabalhando fora, portanto a equação é positiva pra mim. além disso, prefiro trabalhar a cuidar da casa e de criança.

(pausa para as mães-odara se juntarem pra jogar um feitiço wicca pela blasfêmia)

e brincadeiras à parte, creio que é importante para toda criança conviver com outras pessoas que não somente os pais. especialmente quando se trata de filho único, os pais podem ser excessivamente protetores ou criar expectativas irreais. tou cansada de ver crianças totalmente dependentes dos pais, com dificuldade de socialização e com alto grau de ansiedade pra corresponder às expectativas dos pais (ou seja: com medo de errar e arriscar). gosto de ver meu filho brincando com a babá, o jardineiro, a faxineira e se divertindo um monte. espero que ele continue convivendo com pessoas diferentes de nós, que não esperam tanto dele e portanto vão cobrá-lo muito menos.

voltando ao problema: e as mães que trabalham e não têm esse suporte todo que eu tenho? precisam se adaptar e abandonar o medo e a culpa. seus filhos e elas mesmas terão outros obstáculos pra superar, mas a verdade é que no fim as coisas se ajeitam. o ser humano é muito adaptável e – na minha opinião – se beneficia de situações que requerem flexibilidade. aprendemos mais e mais rápido quando há barreiras a superar. não há porque se sentir culpada por não poder estar o tempo todo com seu filho, sua onipresença não é essencial para que ele seja feliz e cresça saudável.

é, mãe-odara, no fundo eu tou dizendo que seu filho superprotegido e que só ouve mozart e palavra cantada pode sim acabar se tornando um mala anti-social, enquanto o filho da sua empregada é feliz e sociável, apesar dos pesares. é claro que seu filho terá mais chances, porque é mais rico e mais bem-relacionado, mas talvez não seja tão feliz…

o que me leva a tópico que pretendo detalhar em outro post: é mais importante ser bem-sucedido ou ser feliz? (supondo que algumas opções inviabilizam os 2 ao mesmo tempo)

problema 3 – a ordenha. o processo é chato, um pouco doloroso e cansativo. só muita vontade de alimentar seu filho com seu leite motiva uma mãe a fazer isso, acreditem. não é preguiça nem má vontade, caso isso tenha passado pela cabeça de vocês. é dureza.

suponha então que você esteja muito disposta a manter seu bebê mamando do seu leite, e vai voltar a trabalhar. percebam os problemas logísticos e qual é o tamanho da vontade que uma mãe tem que ter pra conseguir o feito:

– é preciso ordenhar pelo menos 2 vezes por dia no trabalho, para manter o fluxo do leite e conseguir volume. isso significa pausas de pelo menos 30min. e reze para seu empregador liberar você, pois as pausas de amamentação previstas por lei valem somente até o sexto mês do bebê;

– é preciso armazenar o leite ordenhado em vidros estéreis, na geladeira, até a hora de voltar pra casa. e para transportar de volta, é preciso bolsa térmica. pense em esterilizar os vidros diariamente e armazená-los sabe deus onde na sua empresa;

– é preciso privacidade para a ordenha, ou seja, sala fechada. todos os dias, 2 vezes por dia;

– é preciso uma máquina elétrica de ordenhar, ou você pode subir para 2 pausas de 1h por dia;

é claro que você pode ordenhar e jogar o leite fora, mas só funciona se seu filho não mamar mais durante o dia… ainda assim, precisa das pausas, da privacidade, etc.

agora faça assim: encaixe mais essa função no seu dia, e pense se os ambientes de trabalho facilitam o procedimento. pense com calma, e pense de novo na próxima vez que criticar as mães que não querem ou não conseguem manter essa rotina para os seus filhos.

resumindo…

tem que ter muito boa vontade. e mesmo com boa vontade, precisa também de condições favoráveis e muita, muita ajuda. e nada disso adianta se a mãe em questão está estressada, infeliz, culpada e se martirizando porque não é perfeita. e adianta menos ainda se a mãe não tem condições de se alimentar direito ou dormir porque não tem dinheiro e nem tempo.

cada vez mais creio que mães felizes, realizadas (pessoal e profissionalmente) e tranquilas são as melhores mães que existem. amamentar até os 7 anos no peito e estar presente 100% do tempo na vida do seu filho não fazem de você uma mãe melhor necessariamente e nem tornam seu filho necessariamente uma criança feliz. o vínculo com seu filho não se dá no parto, nem na amamentação, mas no dia a dia, no decorrer dos anos. é preciso parar com essa história da carochinha que “amor de mãe é imediato e incondicional”, que surge como num passe de mágica quando o bebê passa pelo canal vaginal ou quando mama no seu peito. isso é um desserviço à saúde mental da mulher. já existem hordas de mulheres deprimidas porque não conseguem corresponder a esse ideal de mãe perfeita. esse tipo de discurso é tão nocivo quanto as capas de revista com mulheres perfeitas. não basta ter que ser a mulher perfeita, agora tem a patrulha da mãe perfeita. chega!

e se você tem dúvidas sobre isso ser balela de mãe-odara doida que precisa ir pra terapia, voltemos às origens da nossa espécie: humanos são gregários, vivem em grupo sempre. as crianças não ficam grudadas em suas mães o tempo todo, elas passam de colo em colo, com outras crianças maiores ajudando a cuidar inclusive. logo que conseguem colocar coisas na boca já começam a ser alimentadas, e o leite do peito é dado sempre que possível pois é mais prático. nenhuma mãe humana, na sua essência, amamenta porque “é lindo e é bom para o bebê e cria vínculo”. amamenta porque é PRÁTICO (e por isso é bom, e perfeito. a natureza é sábia). tão logo a crianças começam a andar e pegar coisas, começam também a ter funções PRÁTICAS. crianças sempre foram mão de obra, essa coisa de “proteger a criança” é coisa muito, muito recente. crianças humanas não ficavam sendo paparicadas por adultos e nem “se dedicando a atividades lúdicas”. elas aprendiam enquanto brincavam, ajudando os adultos. todos os animais são assim, aliás. e os papais não ficavam trocando fraldas, iam caçar; as mamães iam colher comida, cuidar das coisas, revezando a função de cuidar das crianças. até porque se não fosse assim, todo mundo morria de fome, percebe?

OU SEJA: essa romantização toda do parto, da amamentação e da criança é recentíssima e na minha opinião uma PUTA viagem errada. tem gente que precisa arranjar um tanque de roupa pra lavar, um quintal pra varrer, sabe, se ocupar. façamos as coisas da forma mais natural, sim, até porque é comprovadamente bom, pela evolução. o que não dá é essa viagem errada, não senhores.

cada vez mais estou convencida que esse hype todo sobre parto natural e amamentação xiita (à revelia das condições existentes) tem a ver única e exclusivamente com a necessidade de algumas mulheres de encontrarem seu lugar no mundo. várias delas só se definem como “mães” e “mamíferas”, e se apegam a isso com unhas e dentes. a falta de outras realizações relevantes (na cabeça delas, claro. o resto do mundo doesn’t give a flying crap a respeito) faz com que elas fiquem cegas e radicais. como faz? vai pra terapia. pára com essa maluquice de tentar provar que existe algo como a maternidade perfeita.

da minha parte, me esforçarei pra fazer o melhor e o possível, sem me violentar ou sacrificar. tenho certeza que serei uma mãe melhor se for feliz e não me sentir cansadíssima e/ou culpada. tudo o que eu mais quero é que meu filho seja INDEPENDENTE de mim, e não o inverso. portanto, farei o que estiver ao meu alcance pra que o otto tenha condições de ser independente, e quando ele estiver pronto, assim será.

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