..28.12.00..
Discurso E aqui estou, cantando.
Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixe seu ritmo onde passa.
Venho de longo e vou para longe: mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.
Também procurei no céu a indicação de uma trajetória, mas houve sempre muitas nuvens. E suicidaram-se os operários de Babel.
Pois aqui estou, cantando.
Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute ?
Ah! se eu nem sei quem sou, como posso esperar que algum ouvido me escute ?
Ah! se eu nem sei quem sou, como posso esperar que venha alguém gostar de mim? (Cecília Meireles)
recitado por Zel @ 2:46 PM
..26.12.00..
Insônia O homem vigia. Dentro dele, estumados, uivam os cães da memória. Aquela noite, o luar e o vento no cipó-prata e ele, o medo a cavalo nele, ele a cavalo em fuga das folhas do cipó-prata. A mãe no fogão cantando, os zangões, a poeira, o ar anímico. Ladra seu sonho insone, em saudade, vinagre e doçura. (Adélia Prado, Poesia Reunida)
recitado por Zel @ 9:03 PM
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