..20.2.03..
Às Vezes
(Álvaro de Campos)
Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
recitado por Zel @ 2:08 PM
..17.2.03..
exausto
eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
semente.
muito mais que raízes.
(adélia prado)
recitado por Zel @ 5:08 PM
your slightest look easily will unclose me.
though i've closed myself as fingers,
you open always petal by petal,
myself
as spring opens, touching skillfully, misteriously, her first rose.
i do not know what it is about you
that closes and opens
only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses
nobody, not even the rain has such small hands
(e.e cummings)
recitado por Zel @ 3:54 PM
..14.2.03..
O mundo estava no rosto da amada
O mundo estava no rosto da amada -
e logo converteu-se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.
Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?
Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.
(Rainer Maria Rilke)
recitado por Zel @ 6:39 PM
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
(e. e. cummings)
recitado por Zel @ 6:38 PM
..13.2.03..
O lado bom (Millôr)
Quero ser uma ilha,
um pouco de paisagem,
uma janela aberta,
uma montanha ao longe,
um aceno de mar.
Quando precisares de sonho,
de um canto de beleza,
de um pouco de silêncio,
ou simplesmente
de sol... e de ar...
Quero ser o lado bom
em que pensas,
isto que intimamente
a gente deseja
mas nem sempre diz
- quero ser, naquela hora,
o que sentes falta
para seres feliz...
Que quando pensares
em fugir de todos
ou de ti mesma, enfim,
penses em mim...
recitado por Zel @ 4:03 PM
..4.2.03..
Me comovem
(Eliane Pantoja Vaidya)
Me comovem
tuas mãos limpas
e tua boca suja.
recitado por Zel @ 5:49 PM
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