and even our existences are brief and bounded. none of us will last longer than this version of the universe. (brief lives, #8)
parece que foi ontem, e eu tinha 19 anos. fazia um daqueles dias lindos de primavera, aquela cidade tem o céu de uma cor especial. até hoje não vi laranjas e rosas iguais no pôr-do-sol.
estávamos na lanchonete, muitas meninas, e meu pai chegou daquele jeito de sempre, de surpresa: calça jeans, alpargata, camiseta, cabelo despenteado, barba por fazer, fumando muito. carregava alguma coisa no colo, não vi de longe o que era. ele chegou sorrindo e me mostrou, cúmplice: um cãozinho minúsculo, preto, uma bola de pêlos com cara de chewbacca.
meninas gritavam, todas querendo apertar e beijar aquela coisinha tímida com orelhões gigantes. todos os cockers são os filhotes mais lindos que existem, mas os americanos são bibelôs, parecem que foram feitos para enfeitar, e só.
no chão ele parecia de mentirinha, com (sem?) o rabinho, orelhinhas e um focinho mais preto que graxa. ninguém conseguiu nunca conhecê-lo sem dizer “ahhhhh que fofo!!!”. era quietinho, fofo, doce como caramelo, meigo como todo mundo que é muito, muito amado. sempre teve amor de sobra e era generoso, macio, brincalhão, delicado. um cão-lorde.
mesmo depois de anos e anos e anos que viveu, era um bebê, cheio de gracinhas e dengos, quieto e tranquilo; companheiro, como os cães devem ser. quando novinho, subia em sofás e cadeiras, no parapeito da janela, ele gostava de cheirar o ar e ficar ali, contemplando. um cão-passarinho.
o nome tem toda uma história: dundinha. ele foi herdeiro de um cão-personagem, também cocker, dustin hoffmann — ele era o ator cuspido e escarrado, e com temperamento de ator de hollywood. do nome dustin meu pai se saiu com dunda, que ficou até o fim da vida. o pequenino veio continuar a dinastia dos cockers mimados e ficou conosco até a noite de ontem.
ele se foi com quase 14 anos, morreu no quintal, deitadinho, procurando uma vista de céu, acho eu. meus pais estavam lá pra dizer adeus e desejar boa viagem, pois como todos sabem, os animais morrem pra renascer em filhotinhos. que ele tenha, nessa sua nova vida, tanta sorte quanto teve na última: nosso amor por ele foi sem tamanho, assim como está sendo a saudade.
dói muito vê-los chegar e ir embora, nesse tempo que vivemos nossas vidas. são como estrelas cadentes, nascer de luas e sóis; acabam logo. pois nós também acabamos e eu fico imaginando se há alguém olhando pra nós, com lágrimas nos olhos por saber que nós também vamos tão rapidamente e eles ficam, nos vendo passar.
:”-( Eu pensei a mesma coisa. Mas o Dundinha se foi feliz, acho eu. Afinal de contas, se bobear a gente passa fome, mas não descuida deles um minuto. São nossas estrelas mesmo.
Quem dói é quem fica.
:ó|
nessas horas eu tenho vontade de agarrar satine e não desgrudar nunca mais, que é pra aproveitar todo o tempo do mundo com ela…
beth, nem me diga. ontem eu abracei tanto tanto os meus bebês…
Chorei com suas palavras.
Não gosto nem de pensar nisso!
Concordo com vc, acho que eles renascem rapidinho em outro animais.
Beijos
um abraço enorme de quem sabe o quanto dói essa perda.
queria um pai assim pra mim tb!
e eu acho que o meu está lá guardando o caminho pra mim e quando eu me for ele vai estar lá para me receber com festinhas.
A gente sabe que eles vão pro céu dos bichos, que é muito mais legal que o céu das pessoas, mas mesmo assim, dói. Muito.
Muito lindo o seu post, Zel. Que a viagem do Dunda seja igualmente bonita.
Zel, que texto mais lindo. meus olhos estão cheios d’água, porque conheço bem essa sensação de ver os bichinhos irem embora, e a gente com aquela dor toda, mas cheios de agradecimento por tanto amor recebido.
um beijo cheio de luz…
Nem consegui falar com a mamãe e o papai no dia…no dia seguinte falei com ela e comecei a chorar…(sabe que eu choro porque gosto né).
Eu não sei ter tanto carinho com bichinhos (você me conhece né)…mas fazem tanta falta que choro só de pensar minha vida sem minha “vaca-cã pit-puddle” Lana Maravalhas Walter!