não sofre mais não, sim? olha a estrada, tem flores aqui, é, essa branquinha de miolo amarelo que você tanto gosta. dá vontade de comer, não dá? é, dá. e aquele cachorrinho que lambe a mão da gente (e esquecemos de lavar pra almoçar, e não faz mal nenhum), ele tá ali também, olha! e tem aquele cara mais doce que primeiro beijo, que te sorri quando você menos espera e pega você no colo e diz “você é linda”. tem também a rua que você vê todo dia e é bonita, cheia de árvores. ah, esqueci da casa que você mora, do sol que bate (incomodamente) na janela todo dia mas que no fundo você gosta, porque é mais um dia que chegou e você tá aqui, resmungando um bom dia quase bom. o guaraná que a gente pede e demora, o café que você detesta e as conversas intermináveis. os temas que se repetem (mas mudam, perceba que mudam sutilmente) e as alegrias continuadas, pequenas e grandes, que te fazem sorrir mesmo quando chove e não tem 2 reais pro ônibus. tem as festas e álcool e drogas e bobagens alucinógenas mais que qualquer química. tem as fofocas inócuas que fazem chorar de tanto rir, bolinhos fritos na hora e a gula interminável dos amigos. tem também o amor de longe, de perto, os telefonemas e as letrinhas e as visitas fora de hora ou na hora certa, luzes vermelhas e xampus cheirosos. e tem os inimigos em comum, aqueles do bonequinho de vodu, que matamos um pouquinho por dia de tanto espetar as agulhinhas na sola do pé *tic tic tic*
e tem uma amiga onipresente e doida, esperneando e chorando e reclamando e apelando e querendo morrer e querendo matar por você. ela às vezes chega com flores e às vezes com cactus, mas você sempre pega e olha com aquele olhar oblíquo de quem tudo sabe. ei, curupira, a vida te mandou um beijo, e eu vim dá-lo. smack.