a vida com trilha sonora
lá fora um calor insuportável, aqui dentro gelado (pra quê mentir, fingir que perdoou) e a poeira vermelha parece névoa no fim de tarde. lusco-fusco (tentar ficar amigos sem rancor) como dizem às vezes — cada vez menos — e aquele céu azul que não é de dia nem de noite, os vagalumes começam a aparecer (a emoção acabou, que coincidência é o amor). pirilampos. (a nossa música nunca mais tocou). pirilampo é mais bonito que vagalume, e eles aparecem e desaparecem, eu queria mostrá-los pra você. a luz diminui, vermelho no chão, rosa no horizonte e o céu escurecendo em faixas (pra quê usar de tanta educação pra destilar terceiras intenções?) um aperto no peito, lágrimas insistentes sem motivo à altura do cenário (desperdiçando meu mel, devagarzinho, flor em flor), culpa por sentir medo e saudade (entre os meus inimigos, beija-flor). “eu protegi teu nome por amor…” (eu protegi teu nome por amor) vou cantando sem perceber, enquanto o verde passa do lado, vejo o mundo mudar de cor, meus pensamentos que não permito sequer nomear (em um codinome, beija-flor) porque nomes têm poder. (não responda nunca meu amor, nunca, a qualquer um na rua) anseio por seu nome escrito e falado, pois tudo lembra você (beija-flor). descubro que há mundos paralelos, sim: aqueles que não me pertencem; vidas que vivem sem nos pedir licença (e só eu que podia) e são felizes sem nosso consentimento e participação (dentro da tua orelha fria). as felicidades que não causo me machucam (dizer segredos de liquidificador), quero ser onipresente na alegria, exterminadora das tristezas, eva. sonhava acordada (você sonhava acordada) porque nem as cores únicas e os cheiros e gentes desse mundo real me faziam sentir viva (um jeito de não sentir dor), sorria engolindo as lágrimas (prendia o choro e aguava o bom do amor), vivia pela metade. “prendia o choro e aguava…”
por que eu nunca entendo o que ele diz no fim?