manga e estrela
o cheiro precede as flores, e antes de sabê-las eu as sinto. andando pelas ruas cinzas da cidade eu vez em quando fecho os olhos e sorrio de leve, cheirando minhas flores velhas conhecidas, volto aos tempos de 5 anos de idade, quando descobri o prazer e os jasmins.
havia o jasmim-manga, numa árvore belíssima, parecia uma escultura: os galhos compridos e estriados, as folhas perfeitas só nas pontas dos galhos e as flores quase comestíveis, suculentas, brancas bronzeadas. sempre achei que o jasmim-manga tem flores bronzeadas, num tom de dourado leve que pode também ser de onde vem esse cheiro de sol, que dá vontade de espirrar tanto quanto olhar diretamente pro céu num dia claro. jamais consegui passar pelo jardim sem fechar os olhos e deixar o jasmim me preencher e abraçar, uma carícia.
o jasmim-estrela é doce, delicado, quase especiaria. suas flores são sutis, pétalas mais brancas que a neve (pensava eu, que só veria neve muitos anos depois), talvez por isso o nome de estrela. mas não. acho que estrela vem da forma da flor se abrir com as pétalas bem esticadas em pontas, fugindo do centro como luz, os pestilos mínimos lembrando cócegas. muitas flores juntas, alegres numa multidão de luz e cheiro. o jasmim-estrela ilumina os sentidos, sinto ganas de correr e abraçar todas as flores, dizer a elas que me fazem feliz, agradecer. elas sorriem, eu juro, todas juntas. na verdade é mais que um sorriso, é um risinho de sinos, guizos em forma de cheiro. queria bebê-las e prender a alegria delas em mim.
flores têm personalidade, assim como as pessoas. sou uma mulher-jasmim.