eu te amo, no ouvido. não a frase, que de tanto ser dita ficou batida, mas a música. cantada no escuro, no ouvido, com a voz de quem arrisca mas canta porque cantar é sempre uma doação enorme. ao ouvir o primeiro “ah…”, tive vontade de cantar junto, repetia as estrofes muda, com os lábios, de olhos fechados, ouvindo aquele milagre de carícia. senti-me comovida pelo gesto, pela sensibilidade da doação, pela canção, pela voz (no ouvido, meu deus…)
e eu cantei também, como uma tentativa de retribuição, como se pudesse dar de volta um pouco do que significou a canção do chico. cantei o que lembrava, e foi difícil lembrar. minha cabeça é mais forte que meu coração, e titubeava, pois queria sempre escolher a melhor canção, quando qualquer canção vale quando se está cantando com amor. não sei qual foi a primeira canção que cantei, mas sei que em algum momento, tranquila e entregue, cantei someone to watch over me. meu coração, mais que eu, sabe exatamente o que eu desejo, e vive me surpreendendo.
a vida traz presentes. eu aceito, aceito e agradeço, comovida.