conto bíblico
adão e eva desfrutavam do seu paraíso. ignoravam o bem e o mal, simplesmente viviam. a serpente multicor, sinuosa, sibilante, os tentou. ofereceu, dentre todas as coisas, a mais perigosa: a consciência. escondida nas fibras doces da maçã estava a visão de si mesmo e do mundo, os mistérios da vida e da morte, o amor e do ódio, pau e buceta. entre eles, adão e eva confabulavam e decidiam entre sim e não, afinal a serpente é tão maciamente sedutora mas a ira divina desperta medo. medo do desconhecido, do proibido, de tudo aquilo que está além. será que eles se abraçavam quando decidiram? estariam sentados ou deitados na relva, nus? eva poderia estar acariciando os cabelos de adão enquanto sonhava com o sabor da fruta pacientemente guardada pela serpente, enquanto cantava nos ouvidos de seu amado canções de mistério e sedução; eva, a eterna irmã da serpente, deu asas ao sonho. teria adão fechado os olhos e sorrido muito de leve, enquanto se deixava encantar pelo sussurro da serpente, pelo deslumbramento de sua amada?
decididos, eles cravaram os dentes no mistério: comeram o fruto doce da sabedoria e perceberam quem eram. perceberam-se homem e mulher, sentiram-se nus. de mãos dadas, foram expulsos do paraíso, condenados à humanidade, presenteados com a vida e o mundo. jamais agradeceram à serpente; ao contrário, odiaram-na e lançaram a ela maldições, passaram a temê-la para sempre, geração após geração, enquanto desfrutavam das delícias e sofrimentos da vida que conquistaram com seus próprios dentes e bocas e línguas.
a serpente? ficou no paraíso… solitária, à espera dos próximos candidatos à vida real.