contratempo
um menino de bicicleta numa rua movimentada, carregando água. água em galões, alguns cheios e outros vazios. debaixo de um sol ofuscante ele pedala devagar com pernas compridas de adolescente, batucando preguiçosamente no galão vazio. ele olha do lado, guia com uma mão e batuca um samba improvisado com a outra, de bem com a vida.
eu, que só pensava no calor e caminhava apressada, diminuí meu passo e sorri pra ele — que nem me viu — e desandei a andar naquele passo gostoso que acompanha uma cadência, esqueci a pressa e percebi como estava lindo o dia, como era bonito aquele menino de óculos escuros. meu coração mudou de compasso. sincopei.