(não, ela não chegou. hoje é assunto e não problema)
descobri finalmente o que é a TPM e como fazer pra que ela não se transforme em um inferno a cada mês, e quero compartilhar.
em primeiro lugar, aceitemos a TPM como uma dádiva, como um presente da natureza. somos seres cíclicos, e nós mulheres seguimos nosso ciclo natural durante o período de 28 dias, assim como a lua. cada fase do período deve ser observada, percebida e respeitada. diferente do que o nome diz, não acho que ficamos tensas neste período, ficamos introspectivas. é nesta fase do ciclo que nos damos conta de tudo aquilo que nos incomodou nos outros dias, é nesta fase que se faz necessária uma “faxina interna”: percebemos que aquele cantinho tem teias de aranha, que aquele móvel tem poeira. aquele taco solto que nos outros dias de correria não nos incomoda tanto — embora tropecemos nele quase todo dia e corremos pro próximo compromisso sem consertá-lo –, nesses dias transforma-se no pior dos problemas e simplesmente não suportamos conviver com ele. queremos corrigir coisas, ajeitar o que está errado, limpar o que está sujo. cada bobagem parece insuportável. olhamos pra dentro de nós mesmas e percebemos que há coisas (mal) enterradas, elas fedem e incomodam. chamo esse período às vezes de “maré baixa”. aquilo tudo que jogamos lá no fundo da água e ficou devidamente escondido nos outros dias, aparece quando a maré baixa. sapato podre, pneu, galho morto, bichos, tudo de mais podre e incômodo vem finalmente à tona, e não conseguimos suportar a visão inevitável de tudo isso.
o que fazer? podemos ficar chorando e olhando as coisas feias todas; podemos limpá-las, e isso vai doer, o cheiro vai incomodar, vamos sujar as mãos e incomodar àqueles que nos cercam e são muitas vezes os “donos” de toda essa tranqueira. sabe aquela questão mal-resolvida com uma amiga ou com o namorado? isso se transforma em pneu no fundo do mar, e na maré baixa… lá está ele. temos que limpar essa bagunça, e cada pequena coisa tem seu dono, seu lugar. a cada período de introspecção, é importante se olhar muito bem, o próprio umbigo, e ver de onde é cada uma daquelas coisas, o que anda deixando essa casa tão bagunçada? o que posso fazer para não acumular essa sujeira? é o período de repensar atitudes, questões, dedicar um pouco de tempo a nós mesmas e ao que é importante pra nós de fato. é nesta fase que as coisas relevantes aparecem, mesmo que tentemos nos distrair com o trabalho ou com diversão fácil. somos forçadas a olhar um pouco pra nós mesmas, e isso, sim, é um presente, nos fortalece.
eu era daquelas que não dava importância aos sinais do corpo, tentava o tempo todo dominar meus instintos e meus sinais corporais. segurava o xixi até o limite, fingia que nem ligava pro meu cansaço ou fome, ignorava as TPMs e seguia, toda-poderosa. com o tempo, percebi o quanto isso era uma agressão a mim mesma, ao meu corpo, à minha vida. meu corpo é dotado de um cérebro que pensa, mas o pensar, meu racional, não pode e não deve dominar meus instintos e necessidades básicas. o racional e o instintivo, o básico, são um conjunto harmonioso, devemos respeitar cada pedaço do todo. os períodos de instrospeção devem ser devidamente respeitados, eu devo mudar meu ritmo, assim como devo parar o que estiver fazendo para fazer xixi ou tomar água, quando for necessário. essa escravidão da razão sobre os instintos e necessidades é burra e ilusória, ela tem um preço e ele é muito alto. não sou um ciborgue e não desejo sê-lo. sou uma mulher, um bicho-fêmea-pensante, e quero tirar o máximo proveito de cada pedaço desse ser racional-instintivo, respeitar a natureza em sua plenitude.
mais que isso tudo, há um fator que foi determinante para que eu deixasse de sofrer. ah, sim, e eu deixei de sofrer. desde o início deste ano passei por dois períodos introspectivos e estive muito bem, obrigada. respeitei meu humor melancólico, pensativo. me recolhi e pensei, sem precisar chorar ou sofrer. fiz retrospectivas, analisei, procurei detectar os problemas, fiz minha faxina. e mesmo não sendo simples e fácil, feliz, é necessário e gratificante. percebi que se eu não conseguir equilibrar os demais dias do meu ciclo, meu período introspectivo será sempre difícil, pois terei sempre MUITO a fazer em pouco tempo. se aos poucos souber não acumular problemas e incômodos, meus períodos de “maré baixa” não mostrarão tanto lixo, tantos pneus. estou aprendendo a lidar com as adversidades no dia-a-dia, a evitar varrer sujeira pra baixo do tapete. é preciso aprender a dizer NÃO às coisas ruins e principalmente a dizer SIM às coisas boas. entender o que é incômodo e resolver com simplicidade e transparência, a aproveitar as coisas boas. assim, as poucas coisas que ainda ficarem pra trás poderão ser expostas e pensadas nos períodos de baixa, e o crescimento individual se dará com equilíbrio, tranquilidade.
que prímula, hormônio, que nada. tudo que a gente precisa é de respeito pela própria natureza e admiração por esse milagre que é ser mulher e ver a natureza plenamente refletida no nosso corpo. ser espelho e admirar-se continuamente.