(sem título)

(trim trim) a vida chama

a lua amarela ontem no céu parecia um olho gigante, olhando os prédios da cidade. eu, ligada no 220v e tentando chegar aos 330v (existe isso?) em rápida carreira, paraliso porque era como se uma pálpebra monstra se abrisse e me olhasse nos olhos, um segundo sem respirar. mostro a lua para o taxista velhinho, ele nem tinha visto: “que lindo, moça… não é?”. ô se é.

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minhas fofuras-gordas com olhinhos brilhantes me vêem pouco, nos últimos tempos. o tamanho do amor-de-bicho que tenho por eles me sufoca, e eu não vejo a hora de soltá-los pela sala de tacos e vê-los brincando de descobrir novos lugares. não vejo a hora de eu mesma descobri-los (os lugares) e brincar de achar cantinhos novos, como uma legítima mamãe-furão.

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ah, eu ando amando… um amigo velho diria, cínico: “só se for a mando de satanás, nega!” (e eu riria muito com essa piada, como sempre. ri um tiquinho, aqui, confesso). mas sim, ando amando, olhando as coisas com outros olhos: os meus, finalmente. gosto do que vejo. gosto dos outros, gosto de mim, gosto dos caminhos. me vejo no que vejo e etc.

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não gosto de discordar do caetano (vai que ele é deus mesmo, como diz…), mas a solidão não apavora, não. ela me tenta como uma canção do joão gilberto, de olhos fechados.

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o problema não é inventar. é ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente. (drummond)

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