mas essa letra é minha
a voz da adélia vem falando comigo repetidamente, eu já quase respondo. é reconfortante andar pela casa descalça e ouvi-la falar do passado, do seu deus, da fé, de pais e mães e sonhos de menina. “era como estar sem calcinhas”. sinto-me assim também, às vezes, e ela resumiu numa frase.
dia desses pensei no quanto os nomes de cores são pouco, eu vejo cor-de-pôr-de-sol-na-estrada-indo-para-a-praia. ando obcecada com palavras, com músicas e poemas, como à procura das minhas palavras em bocas alheias. ouço uma frase e penso que pode existir algum tipo de rede invisível e que meus pensamentos rebeldes se perderam, pegaram caminhos errados e chegaram até mim por atalhos. reconheço a mim mesma no outro, com espanto e com certo alívio. será o alívio de sentir-se vivo, de ser? nas manifestações que me tocam ou no súbito re-conhecimento, percebo-me eu mesma através do mundo. o que não sou eu me mostra que sim, eu sou. pelo menos até a próxima dúvida.