achei minha “bio”, e gostei de algumas coisas que li. outras não gostei tanto assim, e ainda outras tornaram-se passado. o problema do futuro, ouvi dizer, é que ele insiste em virar presente. eu não acho isso não! futuro virar presente é bom. o presente virar passado é bom também. aliás, passar é bom.
republico minha historinha desse meu jeito atriz de contar, com edição do que não cabe mais ou do que me envergonho. mas olha: continuo gostando desse resumé, por mais que seja atuação. toda mentira tem verdades, não é? cada um que descubra onde é que está o olhar verdadeiro, a respiração que não é do personagem.
com vocês, eu!
**
Nasci em São Paulo, em 1972, no Dia da Mulher. Sou pisciana com ascendente em Leão, Rato no signo chinês, meu santo de cabeça é Xangô.
Meus pais eram muito jovens quando nasci, ela 18 e ele 21. Ela tendendo a perua e ele ermitão-hippie. Tenho mais dois irmãos quase da minha idade, que amo mas aprendi a gostar e respeitar mais depois de sair de casa.
Nossa infância foi boa, cheia de brigas e brincadeiras, de mentiras escondidas dos pais, cumplicidades criminosas e histórias gostosas de contar hoje em dia.
Vivi parte da vida aqui na capital, parte na praia (em Caraguatatuba, na adolescência), parte por aí, viajando e boa parte sonhando, num mundo que é só meu. Ainda hoje me refugio nele, durante o sono. E ainda acordada, fujo pra lá nas horas difíceis ou nas horas ociosas. Gosto de sonhar, de imaginar cenas e diálogos inteiros.
Minhas fantasias são tão fortes quanto a realidade. Choro em brigas imaginárias e rio de piadas que nunca me contaram. Fico emburrada (no mundo real) com frases tortas que só foram ditas no sonho. Revivo os que morreram, pra trocar uma idéia. Emagreço 10 quilos e visto uma calça de couro, ao levantar da cama. E não entendo como aquela calça jeans não cabe mais na hora de ir pro trabalho, meu deus, como pode?
Gosto de bichos. Leio seus pensamentos, acho. Sei que entendo o que eles querem, e eles sabem bem como me sinto. Os olhinhos falam, e eles lambem a mão da gente quando caem lágrimas. Gosto mais deles do que da mairia das pessoas.
O que de certa forma é mentira, porque sou apaixonada pela vida, inclusive a alheia. Coloco na minha balança terrivelmente mal-ajustada de valores tudo e todos, e no fim amo e odeio tudo (menos os bichos). Não consigo ser cegamente amorosa nem cegamente raivosa. O que é irritante, muitas vezes. Quisera odiar plenamente, amar sem ver defeitos. Mas amo os defeitos e execro as qualidades, o que no fim das contas deve ser o que todos fazemos e eu nunca perguntei e por isso fico pretensiosamente achando que só eu faço assim.
Fui pobre, já houve dias de não ter comida em casa. Estudei em colégio público, fui boa aluna (em notas) e má aluna (em comportamento). Mas também fui mal em química e era adorada pelos professores. Sou contraditória, e não sei direito quais são minhas histórias de verdade e quais eu inventei. Todas são minhas, enfim, e eu desisti de separar a percepção da realidade. Afinal, os fatos são o que eu lembro. Eles me contruíram e eu vou destruindo e reconstruindo. A fundação continua lá, firme e forte: minha alegria e meu brilho.
Esses nasceram comigo. Sou inteligente, mais do que as pessoas em geral suportam. Falei muito cedo, andei muito cedo e fui mimada. Até que levei umas palmadas e melhorei um pouco, não muito. Ainda gosto de palmadas, confesso. Peço por elas, constantemente.
Onde estava? Sim, fui pobre. Não tive mesada. Não fui pra Disney. Não tive tudo o que quis. Odiei meus pais por isso e morri de culpa depois. Aprendi que não ter tudo é importante, mas de certa forma isso também é uma construção pra tornar as coisas mais fáceis. Ainda assim, prefiro minha pobreza e suas conseqüências à falta de noção de tantos que tudo tiveram. Vou me virando com as sujeirinhas debaixo do tapete.
Sou guerreira. Sou mulher legítima, com peitos e bundas e buceta. Adoro meu cheiro de mulher, minhas crises de mulher e minhas contradições. Pensei que fosse homem, tentei ser homem. Tentei gostar de mulher (e gostei) mas não consegui sufocar a mulher em mim. Ela continua firme, forte. E se revela perua, fútil, muitas vezes. Me irrita, essa mulher, é verdade. Mas estou fazendo as pazes com ela.
Tive os homens que quis (os poucos), o que não foi grande coisa. Escolhi mal a vida toda, até porque não estava em paz com minha condição de mulher. Quis me provar, vencer, ganhar lutas. Ganhei, perdi. Tudo valeu a pena pra que eu chegasse aqui, não nesse ponto final nem nessa frase, mas nesse lugar aqui dentro que é só meu.
Sempre quis ser humanas, mas era boa em tudo, inclusive nas exatas. Fui por aí, pragmatismo puro. Sempre quis ser historiadora ou estudiosa de física nuclear. A vida me interessa. E acabei envolvida com computadores, programas, máquinas, qualidade (ahn?!) e processos (ironia das ironias). E as pessoas eu conquisto no dia-a-dia, tentando tirar as cascas, descobrindo os homens e mulheres por baixo dessas roupas e desse discurso empresarial. Isso cansa, e eu quero mais vida.
Fui estudar história, depois de formada. Mergulhei violentamente, e é só assim que sei estudar o que gosto. Quando não pude mais mergulhar, parei. Não voltei ainda e acho que não vou voltar. Cheguei aos 30 e pouca coisa importa além da minha felicidade. Salas de aula não são meu modelo de felicidade, definitivamente.
Canto. Canto bem, aliás. Voz de anjo, sou soprano ligeiro. Cantar é encantar, e isso eu sei fazer bem. Seduzo falando, cantando, me movendo. Seduzir é dar-se, oferecer-se. Dou-me.
Sexo? É o que respiro, seja na ausência ou na presença. Sensações me encantam. Como, bebo, toco e ouço, apalpo. Gosto das sensações. Sexo é lindo, é diversão e é prece. Sou naturalmente sexual, gozo muito, sem medo e sem vergonha. E quero mais, quero aprender, quero experimentar.
Nem sempre quero trepar loucamente. Às vezes me retraio, sou insegura e envergonhada. Menina besta, mulher complexada, balzaca neurótica. Todas são irmãs da mulher feliz, da menina alegre, da gostosa poderosa. Muitos cômodos numa mesma casa, revezamos o banheiro e às vezes acontece um quebra-pau.
Gosto de um pouco de violência, de machos-machos. E gosto de mulheres-fêmeas. E quero colo, sim. Quero tudo, é claro. Nada menos do que isso.
Gosto do meu corpo, gosto de mim. Não me acho bonita como acho bonitas as modelos. Cresci sendo massacrada pelos modelos de beleza e ainda os tenho arraigados em mim. Acho exótico mulheres magras e “perfeitas”. Não sou magra, já fui gorda, hoje sou menos que gorda mas menos magra do que gostaria. Tenho peitos grandes (e gosto deles), bunda grande (e gosto dela), barriga aparente (também gosto), pernas mais grossas do que gostaria (ah, delas eu me livraria) e muitas godurinhas irritantes. Meu rosto é comum, gosto do meu cabelo curtíssimo (combina com o que sou aqui dentro), meu sorriso é lindo.
Meus olhos são legais, gosto da cor deles. Tenho furos muitos nas orelhas, desde menina. Furei meu umbigo e adoro, acho lindo. Tenho tatuagens, o que denuncia minha vaidade. Tenho um sol e um om tatuado na barriga. Tenho flores na nádega direita. Tenho um dragão tatuado nas costas. Sinto-me protegida depois de tatuar o dragão. Sinto-me forte, colorida, mulher.
Não gosto dos meus pés. Minhas mãos são fofas, pequeninas. Gosto de pintar as unhas, mas nem sempre tenho saco de deixá-las crescer o suficiente. Tendo a roê-las, quebrar, sou um tanto desleixada. Não gosto de pentear cabelo. Adoro escovar os dentes (mas tenho preguiça). O banho pra mim é diversão, muitas vezes saio sem nem lavar os pés, só fico embaixo d’água. Não gosto de sabonetes de forma geral, só os da Lush. Não lavo as mãos depois de ir ao banheiro (só se alguém estiver olhando).
Gosto de perfumes, mas me sinto não-eu quando uso. Uso como maquiagem, pra alterar o que sou. O que é legal, de forma geral.
Cheiro de gente me agrada. Gosto de homens com cheiro de homem. Não gosto de homens com muito perfume (se não usar eu prefiro), sabor de pele é maravilhoso. Acho que sou meio louca, às vezes.
Abraço e beijo muito, quando posso. Sou carinhosa, sou doce. Sou dura, sou brava. Sou mal-humorada. Sou alegre. Sou irritante.
Tenho em geral muitos amigos. Troco de amigos com facilidade. Não gosto de fazer isso, quero mantê-los. Quando tenho saudades me sinto idiota. Quando me sinto frágil me sinto ainda mais idiota. Quando me sinto idiota, sou idiota.
Nunca quis casar. Achava casamento cafona, ridículo e instituição falida. Já casei duas vezes e me separei as duas vezes. Quero casar de novo e quantas vezes for necessário. Ufa, admiti!
Qual é o momento mais feliz da minha vida? Agora.
Sou uma adulta agora. Jamais pensei que dizer isso significaria o que significa. Minha vida mudou radicalmente nos últimos 3 anos e eu me sinto cada vez mais próxima de mim mesma. Quando me encontrar, prometo dar uma festa de boa-vindas 🙂
olha adoreii…
eu tenho 12 anos, tenhoo cabelo curto tambem, gosto de MENINAS.
estou afim de ficar com meninas, e este texto me ajudouu bastante!!!
😀
obrigadao!!!