(sem título)

ah, essa juventude… (cof cof cof)

é, dobrei o cabo da boa esperança. ano que vem já são 32 anos e eu ando cada vez mais pentelha com a “nova geração”. fico prestando atenção e achando que andam fazendo coisas certas pelos motivos errados. essa moda de “ficar” com todo mundo é um bom exemplo. a idéia não é explorar o corpo, sensações, limites, desfrutar da sexualidade (sim, eu considero “ficar” como sexo), aprender a sentir prazer. o que importa é a quantidade, é tudo bem superficial e em geral sem propósito. faz-se porque é assim que se faz, e viva a música dos tribalistas “eu sou de todo mundo, etc.” — aliás, cá pra nós, essa música foi feita pra chegar perto dos adolescentes e nada mais, afinal é cantada por um bando de tiozinhos casados e/ou exemplo de caretice sexual. seria sensacional se todo mundo “ficasse” com todo mundo e pudesse também, como “próximo nível da escala”, praticar sexo (em toda sua amplitude) com todo mundo. o que acontece é que apesar das “ficações”, continua todo mundo tão careta quanto antes. rola beijo entre meninas, mas poucas concebem uma relação só entre mulheres, por exemplo. “é só de brincadeira…” dizem elas. isso pra não falar das que beijam as amigas só pra “provocar” os meninos. posso estar sendo chata, mas me parece que não há libertação sexual nenhuma nessas práticas, é puro glitter. bah.

tatuagens e piercings, então, nem se fala. na minha cabecinha caquética, estas são práticas rituais, ou pelo menos deviam ser. está claro pra mim que há sim um forte apelo estético, mas o que vem acontecendo é uma febre de pinturas corporais e furação de partes do corpo sem nenhuma reflexão ou curtição do processo individual de ter seu corpo modificado. o caminho que passa pela escolha da imagem a tatuar, suportar a dor do processo de desenhar na pele para sempre até assumir aquela marca como parte de você, acabou. tem gente querendo anestesia geral para fazer tatuagem, como uma tatuagem de embalagem de chiclé que dura mais. piercings sem dor, tatuagens descartáveis. qual a diferença destas coisas para um aplique ou tingimento no cabelo? nenhuma. a questão é meramente estética, é tão-somente vaidade ou uma “evolução” das velhas táticas para sentir-se parte de um grupo.

longe de mim criticar as formas de expressar a vaidade e de tentar fazer parte de grupos. eu mesma já fui adolescente e ainda hoje tento me posicionar nesse mundo, é fato. o que me incomoda é que passam os anos, nossa cultura “evolui” e penso que devíamos de fato estar mais conscientes e olhar mais pra nós mesmos e menos para as grandes ondas de modismo. comer comida orgânica, tatuar o corpo, usar piercing, defender os animais e a natureza, ser voluntário… ok, tudo muito legal. mas é pedir demais que além da mera repetição de atitudes “da moda” possamos incorporar um tico de consciência e só de vez em quando fazer uma auto-crítica? acho que essa globalização excessiva fez com que deixássemos de olhar pra nós mesmos. Somos, cada vez mais, gado. todo mundo diferente mas todo mundo e cada vez mais igual, seguindo o rebanho sem parar pra pensar.

é, tou pentelha demais. imagina quando eu estiver com 60 anos… vão me internar num asilo para cri-cris.

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