felicidade

sempre achei que felicidade fosse assim uma coisa grande, enorme, incomensurável. vivia procurando, e como era difícil de achar. quando achava, era tão instantâneo quanto o exato segundo em que a realidade se igualava à minha fantasia. era mínimo, ínfimo. mas eu, vislumbrando a tal felicidade (ela existe, eu vi, eu vi!), continuava a correr atrás dela, como um burro atrás de uma cenoura. sem parar, até a exaustão.

como quem acorda de um longo sono, percebi que a felicidade não é uma coisa e tampouco “a” coisa. felicidade é viver as pequenas coisas. são pequenas conquistas, instantes vários no decorrer do dia e da vida. é acordar e ter alguém dormindo tranquilo do seu lado; é receber um telefonema do pai e da mãe com saudade; é mandar um email e ter resposta imediata; é ligar pra um amigo e contar uma coisa boa; é chorar num filme, e sentir-se vivo; é comprar um jornal e ler as tirinhas; é chegar em casa e ter uma bagunça danada dos furões e achar isso lindo; é amar e ser amado; é comer uma salada gostosa no almoço; é ganhar um bolo de chocolate no meio do expediente; é a irmã ligar e convidar pra um cinema na quarta-feira.

quando olho ao meu redor, vejo quantas coisas boas acontecem a cada segundo (além do óbvio fato de estar aqui, que de vez em quando teimo em esquecer) e o quanto sou feliz. sempre fui feliz, concluo, mas não sabia. e não saber é como não ser, é como receber um presente lindo e jogá-lo fora sem nem olhar. é como ganhar um bilhete premiado e deixar na calça velha que foi pra lavar: perdeu-se. nunca estive tão feliz. sinto-me viva como uma planta criando raízes e deixando vir à luz os brotinhos. no meu silêncio e recolhimento atuais, pude perceber o quanto tenho sorte, o quanto sou feliz. e estou, finalmente, feliz. sem motivo especial, com todos os motivos do mundo.

não que os problemas tenham terminado, de forma alguma. eles continuam aparecendo e indo embora. os sofrimentos acontecem, mas são tão instantâneos quanto a felicidade. por que dar mais importância ao que não funciona? tento cada vez mais dar a cada acontecimento somente a importância devida, sem valorizar demais o que é bom nem o que é mau. tenho procurado experimentar os bons e maus momentos, vivê-los. para ser feliz, acredito, devemos perceber que estamos vivos e (por favor!) viver.

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