carta para amigos

ela é linda, vocês sabem. se não sabem, deviam: ela é. eu a conheci depois, primeiro eu conheci o marido dela, amigo de muitos anos e que na verdade é irmão. não que tenhamos nascido da mesma mãe, é que eu o escolhi. numa época de gentes metidas e antipáticas, cheias de exibir dotes intelectuais e inteligências várias, ele tinha aquele jeito de bravo sensível (se é que me entendem) e eu percebi que ali estava um amigo. ali debaixo do cabelo desgrenhado (ele usava um cabelo absurdo) e das piadas ácidas tinha um doce de criatura que ninguém via. as pessoas achavam que ele era igual a eles, e ele não era, não. não se davam conta que o ele tinha de melhor não era o humor maldito e nem as caretas milimetricamente preparadas (um talento inegável): era a doçura. essa menina chegou, viu tudo e (esperta que é) nunca mais deixou ele escapar. ele é apaixonado por ela como um menino, eu nunca me canso de admirar (invejar também, ok) e ao mesmo tempo sentir uma felicidade sem tamanho, porque é bom demais saber que é possível. é possível ser sensível e ácido ao mesmo tempo, é possível encontrar quem nos ame exatamente pelo que somos (sem mais, sem menos), é possível ser feliz simplesmente, sem fogos de artifício ou acontecimentos bombásticos. é tão simples quanto encontrar alguém que nos faz sentir quentinhos por dentro, alguém que nos chame de “fumiga” (adorei isso :)), que lembre de nós quando está trabalhando e ligue pra dizer que não vê a hora de chegar o horário pra ir pra casa ver tv junto.

falzinha, eu me lembro de dizer pra você que a coisa mais importante pra mim, num relacionamento, era sexo (e era mesmo, naquele momento). você riu, e disse “pobre de você”, desse jeito que você tem de dizer as coisas certas sem machucar a gente. mas não foi a primeira coisa certa que você disse e eu não ouvi, você sabe. o tempo passou (nem foi tanto tempo assim) e eu acho graça da minha miopia. as coisas são diferentes hoje, sim, e queria que você soubesse que tem seu dedinho nisso. eu jamais esqueço as conversas importantes, e essa foi uma delas. um papo aparentemente superficial que ficou aqui, registrado. hoje não penso, ou melhor, não sinto da mesma forma. sexo é importantíssimo, sim, mas não é tudo, assim como amizade não é tudo e nem companheirismo é tudo. a combinação dessas coisas todas, como numa receita, é que faz a mágica acontecer. como um bolo, que a gente pega a receita com alguém e a danada não dá certo nas primeiras vezes. a gente faz várias vezes, uma vez murcha e a outra empedra; às vezes a gente esquece e o infeliz queima no forno; tem vezes que o fermento tava estragado de tanto tempo sem usar e fica aquela meleca; só que às vezes a gente acerta, e é como um sonho: um bolo fofo e dourado saindo do forno, quentinho. não que a partir daí a gente acerte sempre, mas pelo menos a gente sabe que dá certo, sim, que vale a pena tentar, vale a pena aquele friozinho na barriga de ansiedade, “será que vai dar certo?”. obrigada minha amiga e meu amigo, meus irmãos queridos. vocês não sabem, mas me ensinam.

e falando em comida, eu escrevi tudo isso pra dizer que a fal tá na cozinha. passa lá.

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