(sem título)

hoje te canto e depois no pó que hei de ser

te cantarei de novo. e tantas vidas terei

quantas me darás para o meu rosto outra vez amanhecer?

tentando te buscar. porque vives de mim, sem nome,

sutilíssimo amado, relincho do infinito e vivo

porque sei de ti a tua fome, tua noite de ferrugem

teu pasto que é o meu verso orvalhado de tintas

e de um verde negro teu casco e os areais

onde me pisas fundo. Hoje te canto

e depois emudeço se te alcanço. e juntos

vamos tingir o espaço. de luzes. de sangue.

de escarlate.

ou

essa lua enlutada, esse desassossego

a convulsão de dentro, ilharga

dentro da solidão, corpo morrendo

tudo isso te devo.

(hilda hilst)

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