novas
eu quero somente o ano novo, não quero que ele seja, finalmente, “este” ano. “o ano que vem” é necessariamente melhor que este em que vivo agora, creio, e em algum lugar li que o problema do futuro é que ele insiste em se transformar em presente. rezo para que ele não chegue nunca, para que a expectativa dure mais, só mais um pouco, como um orgasmo adiado. bem que eu queria atrasar o relógio, mas não adianta (ops!): os chatos ali da praia insistem em começar a contagem regressiva antes que eu esteja pronta. eu nunca vou estar pronta, que droga, por que eles sempre começam antes do meu tempo? por que eles estão tão ansiosos para que o sonho se transforme em realidade? não percebem que, antecipando a sua chegada, eles matam o ano novo? bobos. saboreio a espera, os meses que antecedem a mudança, as semanas. paquero a agenda do ano que vem, conto os dias para o próximo aniversário (mais um ano!), namoro o tempo. que venha lento e molhe meus pés de água do mar, que mostre as nuvens se abrindo no céu, como naquele ano que era novo e ficou velho, a lua apareceu cheia e todo mundo disse “oh!” na hora H e esqueceu até que o relógio marcava horas. era tudo novo porque houve um milagre, e só.