cruising together

meu deus, passou-se um ano.

há um ano eu transbordava de paixão e medo, ansiedade, sexo e fuga. sim, eu fugia a passos tão largos quanto as minhas perninhas permitiam, esquecia: afundava nos sentidos todos os medos, procurava ajuda. cantei com todas as minhas vozes todas as músicas que sabia, procurei em mim todo amor que é possível dar, tirei todo ele de dentro de mim em baldes, como quem tira água do fundo do barco. doei tudo o que era meu para me salvar, para manter meu barco flutuando. trabalhei por dias e meses incansavelmente e me salvei. não vi passar a tempestade e nem o novo dia, não vi baleias e icebergs, eu não vi o barco de salvamento tampouco a lua cheia. eu vi o fundo do barco, o balde, minhas pernas, a água. eu remendei, consertei e contemplei o que fiz.

e então, novamente, eu quis. tive de novo fome, sede, tive desejo — o meu. achei os dias azuis e um peixe por baixo do espelho da água, ele nadava no meu amor. eu sorri de novo, pois havia vida. achei remos e velas e — eu havia esquecido — há sempre o vento. me vi também sozinha e com medo, mas salva. barco, vento, vela, corpo e desejo.

ninguém precisa de mais.

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