a vida real

pois, hoje eu perdi o ônibus. aliás, ele me perdeu, porque eu cheguei na hora de sempre, ele deve ter passado antes. justo hoje, que estou de mau-humor e resfriada, tentando espirrar meu cérebro pelo nariz.

(só pra informar os preocupados, peguei um táxi e depois um ônibus, cheguei aqui só 5 minutos atrasada)

bem, aí tem sempre o táxi e os mundo dos taxistas, seres de outra dimensão. mas antes, um retrocesso: ontem minha mãe (a que assiste o datena, lembram? valha-me deus) contou que mataram com quatro tiros na cara um moço-modelo aqui perto da minha casa. diz que foi ali na frente do centro cultural são paulo, à luz do dia. estranhíssimo, essa região não costuma ter dessas coisas, até porque ali do lado tem delegacia, ah, sei lá. ouvi, fiz “oh” e deixei pra lá. voltando a hoje, eu falava do taxista: ele tocou no assunto com aquela fala ininteligíivel — “foialinoparqueomoçomodelo…” — e eu “ahn?” e ele “o modelo, que morreu, sabe? mostrou esse parque aí na TV, ó, foi ali!!” (apontou). expliquei que até onde eu sabia, não tinha sido ali não. e ele “ah, tá… então, mas outro dia e EU VI esse moço, ali mesmo, ó” apontou pra calçada do meu lado direito, muita ênfase no “EU VI”. uma felicidade danada de passar do lado do local do assassinato e mais o orgulho de ter visto o futuro presunto.

de novo, pode ser meu mau-humor, mas… por quê? de onde vem esse desejo de destrinchar a desgraça, de sentir-se parte dela, mesmo que como observador? por que ninguém fala que aquele cachorro ali na coleira da dona é fofinho, que graça, ou que a moça que passou ali tem um corte de cabelo legal? ou mesmo que o verão está frio esse ano e que as chuvas pararam mais cedo? por que, pergunto de novo, é como se só o que é ruim é que é real? de onde virá o prazer de saber e ser espectador da desgraça?

eu devo viver num mundo muito de fantasia mesmo, porque consigo ainda ver a beleza da vida. enquanto o taxista falava de morte eu prestava atenção nos nomes dos prédios de uma rua da aclimação: todos eles têm nomes de personagens de óperas famosas. o último era mefistófele.

0 comments to “a vida real”
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  1. Oi, Zel!!!

    adorei o seu blog… fiquei sabendo dele no jornal o dia e não resistir em visitá-lo… muito legal mesmo!!!

    estava lendo sobre “a Vida real” e me identifiquei muito com vc… tb sou assim uma observadora do mundo, da beleza q a vida tem, ou então tb vivo num mundo de fantasia. Não consigo entender o prazer sadico das pessoas… Mas é a tv q faz isso…

    Bem, acho q já falei demais…

    foi um prazer visitar o seu blog e vou adicionar aos meus favorito para sempre visitá-lo…

    bjos ^___^

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