dias sim, dias não

eu vou sobrevivendo sem um arranhão, e etc.

eu não acostumo, sabe. não acostumo com o maremoto mensal que me bagunça as idéias e os sentimentos, me altera as vontades, traz à tona tudo o que é mais difícil. fora eu um pouco menos analítica, racional, seria só um período de melancolia e algumas lágrimas. ninguém nem precisa saber, eu mesma não preciso saber. quantas mulheres são assim, meu deus? quantas juram que não sofrem desse mal, que “nem reparam” ou negam a existência da movimentação interna? sei que nem sempre é falsidade; elas não se conhecem, não querem se conhecer e — quem sabe? — são felizes assim.

quando chega o tempo do reinício do ciclo eu fico inquieta e penso e sinto, muito. sinto tanto. não é como abrir uma torneira e deixar a água sair, no volume desejado: é um córrego pequeno normalmente, mas que vira rio quando houve chuva lá na cabeceira. rios não têm torneira e nem comportas. sou cobrada (e sempre fui) por não controlar meu rio, minhas marés. as cabeças masculinas querem construir pontes e diques, eternos engenheiros tentando dominar a natureza. eles não gostam da idéia de ter um rio atrapalhando suas vidas, não vêem porque devam se sujeitar. sempre podemos contornar aquilo que sabemos que vai acontecer, certo? já sabe que vai transbordar, ajeita antes.

e por que não? por que não construir um dique, evitar a torrente, ou amenizá-la quando ela chegar? por que se deixar carregar?

porque sou mulher, sou correnteza e não sou ponte, sou chuva e não guarda-chuva. observo e aprendo com os movimentos, percebo quem sou, o que sou, e mudo; a cada ciclo é outra água que corre, e são outros caminhos, outras margens, as pedras já não estão no mesmo lugar. quem olha, vê a mesma paisagem, mas ela nunca é a mesma, nunca.

me falta ainda absorver a lição mais difícil: abandonar subterfúgios emprestados, alheios à natureza do que se passa em mim. me vejo desesperada, na correnteza, procurando um barco a motor ao invés de boiar. racionalizo e falo sem pausas, transformo em palavras o que sequer tem forma. sim, eu sei: vivi tempo demais construindo pontes. hoje construo diques de barro e choro de frustração por não ter ajuda. amanhã, tenho fé, vou sentar embaixo daquele pé de jasmim-manga ali e observar, sentir e simplesmente me deixar mudar.

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  1. Zel,

    Não tenho TPM, na verdade tenho, mas é muito fraca. Mas tenho outras coisas que me irritam, não em um período, mas talvez o mês todo.

    Vc já pensou em colocar um implante daqueles que regularizam a menstruação e a TPM?

    Bom, vc estava falando de TPM, né ;P?

    Bjs.

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