múltipla

vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando pra o fogo.

benze quebranto

bota feitiço

ogum. orixá.

macumba, terreiro

ogã, pai-de-santo

vive dentro de mim

a lavadeira do rio vermelho.

seu cheiro gostoso

d’água e sabão

rodilha de pano

trouxa de roupa,

pedra de anil

sua coroa verde de são-caetano

vive dentro de mim

a mulhar cozinheira

pimenta e cebola

quitute bem feito

panela de barro

taipa de lenha

cozinha antiga

toda pretinha

bem cacheada de picumã

pedra pontuda

cumbuco de coco

pisando alho-sal

vive dentro de mim

a mulher do povo

bem proletária

bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada

vive dentro de mim

a mulher roceira

– enxerto da terra,

meio casmurra

trabalhadeira.

madrugadeira

analfabeta

de pé no chão

bem parideira

bem criadeira

seus doze filhos,

seus vinte netos

vive dentro de mim

a mulher da vida

minha irmãzinha

tão desprezada,

tão murmurada

fingindo alegre seu triste fardo

todas as vidas dentro de mim:

na minha vida –

a vida mera das obscuras

(cora coralina)

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  1. Olha só…. o Pedro Luis cantando Menina Bonita de fundo e eu visitando seu blog! rimou ne? 😉

    Zel, parabens! atrasadinho q é mais chique…

    obrigadissimo pela hospedagem qdo fomos pra sampa no carnaval! 🙂

    bjs bjs

    NiER

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