o outro lado

é incrível poder observar a diversidade. hoje li um post muito legal da paula, falando sobre a conquista que é sentir-se independente, poder entrar numa relação sem depender do outro pra tudo e, por isso mesmo, conseguir se sentir inteiro. ela e outras moças experimentam o prazer desta fase de sentir-se independente e capaz, de não se sentir dependendo de outro a ponto de perder a graça de viver junto. afinal, tem coisa mais angustiante do que se sentir dependente não por prazer mas por necessidade?

eu, lendo isso tudo, acho maravilhoso mas muito diferente da minha realidade; fiz o caminho inverso: fui independente desde pequenininha, auto-suficiente, durona, não tinha tempo ruim comigo. não pedia ajuda, nunca dependi de ninguém pra absolutamente nada, não tive dificuldade pra morar sozinha nem pra dirigir, pra comprar coisas, viajar, tomar decisões importantes. só que por dentro, tudo o que eu mais queria (bem escondido pela cascona grossa da independência) era alguém que me entendesse, que cuidasse de mim e me desse apoio. mas nunca fui capaz de pedir e menos ainda de receber. era uma dor gigante, que eu não sabia de onde vinha e nem como resolver, uma dor de quem se sente sozinho mas acredita, racionalmente, que é melhor assim e que isso é uma opção e não uma condição. eu procurei amor, afeto, apoio, sem saber. os que me ofereceram de bom grado levaram patadas inconscientes — afinal, e o medo de alguém chegar perto DEMAIS?

até que apareceu a pessoa errada no momento certo. alguma coisa em mim estava mudando, percebi que precisava me desfazer dessa casca toda, dessa independência protetora. e me desfiz de cada camada, em poucos meses. o problema é que aquele que eu mais queria que me desse apoio GOSTAVA da casca independente, o miolinho frágil era um incômodo. e eu, por outro lado, não sabia como pedir, não sabia receber e me atrapalhava toda. eu tentei, muito, mas nunca funcionava. eu me expunha e me machucava, dia após dia. por muito tempo achei que o problema era meu, que eu é que não sabia fazer as coisas direito, que eu estava no caminho errado, que eu precisava mudar.

eu já tinha começado a mudar. o que faltava era quem quisesse ver beleza na minha mudança e tivesse compaixão de aceitar meus erros no meio do processo. querer mudar já é uma grande conquista, é um passo que muitas pessoas, em sua vida toda, jamais vão dar; muitos vão morrer infelizes e ignorantes de si mesmos. pois eu enfrentei esse desafio e fui adiante: abandonei um amor, uma paixão, em meu próprio benefício, eu fiz uma opção por MIM, pela primeira vez na vida, e cada lágrima chorada valeu a pena. abri as comportas do meu querer e passei a escolher o que me servia. escolher quem convive comigo, de que forma, quando. comecei a pedir e a aceitar. parece fácil? não é. e só quem se dá ao trabalho de se conhecer de fato sabe do que eu falo.

hoje eu me sinto vitoriosa, mesmo estando ainda no começo do caminho. é claro que eu não acerto sempre, vira e mexe a “mulher-maravilha-independente-fodona” impera em mim e eu esqueço as liçõezinhas que aprendi. e é claro que eu não quero matar a mulher-maravilha em mim, ela é útil e, se usada com parcimônia, é um trunfo. mas estou finalmente deixando a mulher-mimada em mim viver, respirar. tou deixando a moça-frágil andar na rua, com suas roupinhas rosas e com lágrimas nos olhos assistindo titanic. tou pedindo água de noite, na cama, (quase) sem sentir culpa. tou deixando namorado pagar conta, me pegar na saída do trabalho, com prazer.

o equilíbrio, como bem disse a paula, é o caminho; a boa companhia é a luz.