ok, eu sou má

eu sei que depressão não é frescura, é doença. ainda assim, graças a uma vida toda de educação de primeiro mundo cuja máxima é “vai lavar um tanque de roupa que passa”, eu sempre acho que esse negócio de ficar deprê é a mair frescura e que é mesmo falta do que fazer. não nego, apesar de não me orgulhar disso.

não sei se isso é defeito, mas eu tenho muito pouco saco com deprimidos, dá vontade (visceral, juro) de socar, bater, chacoalhar. fica aquele diabinho falando no ouvido “ê, mas como é carente! quer confete, só pode ser!”. eu sei que não é isso, bota essa pedra de volta no chão, aí, ô. mas eu sinto isso, sim, o que fazer? e o que fazer quando eu não tenho a mais mínima vontade de ficar por perto de quem é ou está deprimido? no decorrer da minha vidinha, eu tenho feito assim: eu fico ali do lado, pagando de legal, enquanto por dentro eu tou querendo matar o fulano. até porque cadê a coragem de virar e dizer “eu não tou a fim disso não, ok? te adoro mas não preciso aguentar inclusive o que me incomoda”. a senhora culpa — uma alemoa de 2 x 2 que usa salto agulha e um chicote — não me permite dizer NÃO ao que me incomoda, sabe como?

pois: ano passado, metade dele, eu resolvi mudar. decidi finalmente escutar o que eu quero, sem ficar julgando se é certo ou errado, eu mandei a senhora alemoa pra puta que o pariu. baixinho, de início, mas mandei. comecei com pequenas desobediências e estou evoluindo passo a passo. eu consigo até recusar comida que fizeram “especialmente pra mim” mas eu não quero, acreditam? consigo dizer que estou cansada e não vou a uma festa; consigo dizer que não quero trepar!! consigo até dizer um NÃO enorme às pessoas que me fazem mal e tirá-las da minha vida, SEM CULPA.

sabe aquele meu finado casamento? então, eu terminei porque era questão de sobrevivência, e não porque eu estava tranquila com minha decisão. não foi fácil dizer não e assumir minha vontade. porque embora esse meu jeito pareça ser muito desprendido e altruístra, ele é nada mais nada menos que falta de coragem de bater de frente e assumir que eu não gosto de certas coisas. eu tenho sempre que concordar pra que as pessoas me aceitem. olhem que mundo cruel esse em que eu vivo…

aí eu olho pro título e fica claríssimo como eu me sinto culpada por dizer: gente deprimida é um PÉ NO SACO! inclusive eu, quando tou na TPM (depressão temporária e intensa), fico insuportável. dá vontade de trancar no calabouço até passar.

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  1. zelzita,

    que saudade!

    estou com uma depressãozinha de bosta (muito cansaço na verdade), e lutando horrores pra não parecer essa pessoa aí que vc descreveu! Finjo estar feliz e choro escondida no banheiro até quando estou sozinha em casa. :o) é duro não ter paciência com gente mole, carente e de repente se ver mais pra baixo do que pra cima.

    mas estou levantando a poeira e dando a volta por cima. e louca pra te ver, claro.

    beijo!

  2. Acho que depressão é prá ser tratada com ajuda profissional. É foda, porque quanto mais você conhece a pessoa, maior (prá mim, pelo menos) a sensação de que você *sabe* o que fazer prá ajudar; demorei prá ver o quanto isso é perigoso. E a merda é que você não sabe exatamente, não tem como saber como a pessoa se sente. Por isso mesmo eu prefiro evitar as bordoadas. Meio medo, sim, mas também porque a distância entre isso e a crueldade é muito pequena; não tenho cacife.

  3. guiga, eu não sei se sei o que é depressão, não, mas sei que é péssimo de suportar pra quem tá perto. e por mais que isso pareça cruel ou intolerante, é só sincero. não quer dizer que não vou aguentar, que vou deixar na mão, até porque minha culpa não permite. isso é só um exercício de sinceridade e de respeito pelos meus limites (coisa que eu não sei fazer bem, confesso!)

    beijocas, povo!

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