hoje fiz uma rápida corrida de táxi com um motorista amigo: ele é falastrão, e eu sei tudo da vida dele e da família. acompanhei o último ano de colegial do filho, a primeira viagem com os amigos, as brigas com a mulher por causa dos horários malucos, o vestibular do menino e finalmente a entrada na faculdade.
desde sempre percebi que o filho era o herói dele. fala do rapaz com tamanha paixão e orgulho que é quase constrangedor. ele conta aquelas histórias que a gente já viveu quando adolescente com uma interpretação de pai cego: o menino vai a todas as “baladas” mas não bebe, não usa drogas, não faz “bobagem”, não, é um menino muito bom. quando não estuda é porque está estressado e quando vai mal na escola é porque o professor não presta. e ele, com seu salário de taxista, paga escola particular e aulas adicionais, afinal, o menino tem que ser alguém na vida, “diferente do pai”, diz ele.
ele trabalha em dois turnos: um no táxi, outro na “firma”. mal vê a mulher e o filho, pra poder pagar as contas todas. a mulher não trabalha, mas reclama que ele trabalha demais. o filho nunca trabalhou e agora faz faculdade integral.
pois que o rapaz, no primeiro ano de faculdade, repetiu: ficou em 3 matérias (física, computação e desenho). o pai, inconformado, procura um curso de férias para o menino se recuperar e não desanimar. o rapaz, esforçado, decidiu que nas férias não é uma boa, afinal ele pode esquecer o conteúdo e não servir pra nada. o pai concorda, claro.
fiquei pensando como é triste ter um filho e tentar viver através dele o que não foi possível viver na própria vida — algumas pessoas fazem dos filhos sua esperança de redenção, uma forma de a acertar tudo o que erraram com ela (ou que erraram sozinhos). este homem se agarra à vida do filho como a um salva-vidas, como a única forma de sucesso numa vida medíocre e triste. e o rapaz, que peso deve carregar, tentando corresponder às expectativas do pai, ao mesmo tempo que não aprende a viver sua vida sozinho.
por essas e outras é que acredito que antes de ser pai/mãe devemos ser felizes, ao invés de transformar nossos filhos na razão de viver. essa é uma alternativa muito deprimente.
Isso é verdade. Acredito que a maioria dos pais faz esse tipo de coisa com a melhor das intenções. Mas nem sempre dá certo. É muito frustrante para pais e filhos. Na verdade acho que deve ser quase inevitável não projetar coisas para seus filhos.
Estava navegando e encontrei esse blog. Gostei muito e sempre voltarei por aqiu. Aparece! Bjos.
É uma atitude muito comum. Principalmente entre gente pobre, que chega no fim da vida e se dá conta de que não fez nada do que gostaria de ter feito.
*ouch*
tá certíssima, amore. o difícil é manter a clareza o tempo todo depois de ter os filhos. acho que um monte de vezes a gente projeta e cria expectativa meio ‘no automático’ mesmo (e só vai ver a besteira lá na frente).
o lance é ficar de olho vivo e, claro, priorizar a sua felicidade (meio polêmico isso, mas eu acho que só dá pra ensinar o filho a ser feliz sendo feliz também, né?)
beijoca
imagino, dani, deve ser uma tentação constante… e acho que você tá certa: as crianças aprendem com os exemplos! aquele papo de “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” já era 🙂
Eu acho que depois dos 16, 17 anos todos deveriam trabalhar, pelo pelos meio período, para aprender a dar valor as coisas.
Bjs.