eu quero sangue!

respondo à questão da ângela nos comments da “lasanha vegetariana”: não! não somos os únicos a comer sucrilhos, não, de jeito nenhum. o monstro (o groo) lá de casa come sucrilhos, iogurte e qualquer coisa que esteja morta, aliás 😀

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falando sério, agora. eu tenho algumas críticas ao jeffrey steingarten (o homem que comeu de tudo) mas tem uma coisa nele que eu adoro: o escracho com os vegetarianos, com as manias de alergia alimentar e com esse papo de “não fomos feitos pra comer X”, seja “X” qualquer coisa.

eu acho estranho ser vegetariano, confesso. mas descobri, graças a um caso real, que o que me incomoda no vegetarianismo (assim como nas opções sexuais muito radicais) é a eliminação racional de possibilidades de prazer. vou explicar adiante, calma.

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o caso real é o seguinte: conheci um rapaz que é vegetariano de nascença, significando que ele jamais comeu carne, simplesmente porque odiou o sabor desde que sua mãe oferecia carne na papinha. ela podia colocar de qualquer jeito pra disfarçar, o moleque sentia o gosto e cuspia. até ela desistir e ele seguir vegetariano e feliz, simplesmente porque a carne não dava prazer a ele. pode até ser que ele tenha alguma deficiência por falta das proteínas, e pode ser que a pele dele seja ma-ra-vi-lho-sa por ser vegetariano, mas isso não é o que importa. o que importa é o sabor, o prazer de comer sendo atendido e respeitado.

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o que me incomoda: que inferno essa coisa de “manteiga é um veneno!” e aí substitui-se por margarina, aquela coisa insossa, pura caloria vazia. depois de alguns anos de “moda da comida não venenosa” a gente descobre que margarina na verdade é uma merda e que é melhor comer plástico processado (pode até ser mais gostoso, se for tipo fandangos). os mitos de colesterol, açúcares e afins vai caindo por terra enquanto a gente se amaldiçoa por aqueles anos todos sem comer a maravilhosa carne de porco, substituindo por peitos de frango branquelos, secos e cheinhos de hormônios que vão fazer você ter 3 peitos em mais 20 anos.

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[ pausa para assuntos sexuais ]

acho uma afronta ao prazer limitar as escolhas racionalmente e em definitivo. só beijar/trepar com homens OU mulheres OU seres humanos (*hehehehe*) elimina possibilidades de prazer, em última instância. imagina que divertido poderia ser, tipo, trepar com uma jaca ou um tubo de desodorante? ahn, vai dizer que nunca pensou nisso, hein? 😀

[ fim da pausa ]

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segundo algumas pesquisas, somente 2% das pessoas é de fato alérgica a leite ou lactose (lembrando que queijos não têm lactose, portanto se você dá essa desculpa pra não comer queijo, pode trocar), o restante é doido mesmo. o mesmo deve valer para outros alimentos. eu acredito fortemente que nossas maravilhosas cabecinhas nos fazem o desfavor de encontrar justificativa pra qualquer maluquice que nos aflija, procurando boas desculpas pras nossas manias, tentando esconder o fato de que somos só neuróticos, inseguros, doidos pra fazer parte de alguns grupos ou coisa parecida. preste atenção o quanto você é capaz de dizer “não quero porque não gosto”, assim, com ponto final, sem uma explicação racional na seqüência (“puxa, eu adoraria, mas sou alérgica” ou “ah, eu não como carne vermelha porque me faz mal, sabe? não consigo digerir bem”).

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ó: eu respeito quem não gosta das coisas e tem coragem de admitir. assim como admiro quem gosta e pronto, sem precisar também se justificar. justificativas para gosto ou desgosto são disgusting (ai, eu não resisti ao trocadilho péssimo :D). os que ficam cheio de justificativas eu acho uns bobões.

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se você leu isso aqui e vai ali nos comments se justificar, dizendo que sua alergia ou coisa parecida é super-de-verdade, vou adiantar uma coisinha: se você se convenceu que é alérgico a chocolate, quando comer um bis vai passar mal, porque sua mente perversa vai se encarregar de mandar seu corpo reagir (é assim que funciona os placebos, lembra?)

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pros vegetarianos eu digo o seguinte: seus covardes, sem coração! vocês se alimentam dos seres vivos mais indefesos que existem, que não têm perninhas pra correr e nem boquinha pra gritar! um dia vou fazer um desenho de uma pobre alface sendo morta por um vegetariano faminto, com um balãozinho escrito “…!!!!!”. seus monstros.

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pros carnívoros, digo que compartilho da sua luxúria por uma carne bem suculenta e sangrenta (se você gosta de carne bem passada, é um mísero vegetariano disfarçado, seu comunista! pode comer bife de soja, que é igualzinho a um filé esturricado). no entanto, apesar da paixão pela carne, devo dizer que gostaria que as coisas funcionassem assim: só se pode comer o bicho que você próprio tiver coragem ou capacidade de matar. assim as coisas ficam mais razoáveis e quem sabe a gente aprende a voltar as respeitar o alimento que coloca boca adentro.

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quer saber? vegetariano ou onívoro, o que faltava mesmo é ter mais respeito pelos alimentos (a manutenção do nosso corpo funcionando) e mais paixão pelo sabor, seja de abobrinha seja de picanha mal-passada. gostaria de ver um mundo mais dirigido pelo prazer que pela razão.

0 comments to “eu quero sangue!”
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  1. Dear,

    bem, eu sou adepto de práticas sexuais ortodoxas. but…

    acho que o steingarten cativa a gente justamente porque ele é radicalmente contra frescuras na mesa. é o que ele tem de melhor, sem dúvida nenhum. vale ainda pensar que ele é crítico da vogue, revista superfresca para grã-fina idem. imagina só!

    o que mais admiro nele é a obsessão (escrevi certo?) por detalhes absolutamente banais. cara, quando ele faz uma degustação de ketchup eu me borrei de rir. porque ketchup, a rigor, não é comida passível de degustação, não é mesmo? imagina! pois bem. depois o cara faz a mesma coisa com caviar. e com água! só pra provar que as coisas aparentemente “seriadas” (dá pra entender?) têm, sim, qualidades diferentes.

    um dia eu ainda quero fazer degustação de coca-cola. pegar uma de cad região do Brasil, entende? by the way, eu pareço o pelé com este entende no final da frase.

    enfim, eu só queria dizer que admiro o cara só por ele ter aberto minha cabeça para um monte de frescuras. coisas simples, como dizer que não gosto de um monte de comida sem nem experimentar. parece idiota, mas é verdade: hj eu sou outra pessoa, disposta a comer abobrinha e até jiló (é com “g” ou “j”?) só para ter aquela sensação, capisce?

    é isso. falei demais. é que tô com saudade do seu rango, acho.

    kisses, kisses, bye, bye.

  2. ixe, se eu tiver que matar pra comer carne to-fu (literalmente e com o perdão da infâmia, hahahahaha)

    eu amo carne sangrenta mas sou banana até dizer chega. se pensar muito periga de não querer a morte nem das pobres alfacinhas indefesas e ter que acabar naquela onda de viver de luz. 😛

  3. Eu odeio tofu, acho que tem gosto de terra! Sou do time da Dani. Apesar de gostar de um bife à la “boi mugindo”, fico só me imaginando chegando perto de uma mimosa de facão em punho. Ela vira com aquele jeito malhado de ser e diz: “Mmmuuuuuuu!”. Pronto, fodeu. Acho que eu como a alface por pura covardia.

  4. eu adoro carne, mas também adoro umas coisas naturebas com soja, sabe? e, velhice chegando, eu já não consigo comer carne-suculenta-sangrando assim com tanta frequência. fico molenga, parecendo uma jibóia. bons tempos os que eu me acabava nos rodízios sem culpa, blé.

  5. Ah, Zel, eu sou fanática seguidora do steingarten. O Homem que comeu de tudo, e Deve ter sido alguma coisa que eu comi são os livros que eu mais releio e releio e releio. Legal vc falar dele aqui..

    Neguta, vc me dava o telefone da dra Liliana?

    amor

    fal

  6. Zel, gostei do post todo. E da lasanha.

    fui vegetariana por 10 anos, pelos dois motivos possíveis:nao gosto do gosto, e tenho dó dos pobres bichinhos… Mas agora estou grávida, e preciso de proteínas. Não tenho tempo de ficar analisando minha dieta, então voltei a comer algumas porções de carne por semana, ao menos até a neném nascer. Mas nesse tempo em que não comia, muita gente nem ficava sabendo que eu era vegetariana. Porque eu nunca fiquei fazendo apologias, eu simplesmente falava: “não, obrigada, prefiro as batatas hoje”. E coisa mais chata é aqueles que ficam sabendo que você não come carne e fica te ridicularizando, também, como se vc fosse um ET… coisa mais feia, preconceito…

    Agora, eu adooooroooo camarão. Mas tenho uma alergia danada!!!! rs……

  7. ai, que pena que eu tenho de quem é alérgico a camarão… Não como carne vermelha tem dezesseis anos, e tudo começou porque eu não gostava muito. Desaconselho porque depois a pessoa fica com uma espécie de alergia (na verdade é só seu organismo desacostumado) e quando come desavisadamente passa maaaaal. Eu já fui parar no hospital achando que estava envenenada e era carne. Tive dois furunculos por causa desse episódio e eu nem sabia que tinha comido carne.

    Mas eu acredito em alergia alimentar sim. só não acredito em gente que passa pela vida sem comer pimentão, ou jiló, ou fígado, ou queijo, ou seilá. acho que cada pessoa só tem direito a não comer um item. O meu é carne vermelha, de modo que fora isso eu como de tudo. inclusive o frango hormonicamente modificado. oh, well!

  8. Fui vegetariano por, sei lá, burrice creio eu, já que adoro carne! Aliás, permita-me dizer, sua receita de picanha ao forno, dentro daquele iglu de sal é estupenda! Minha noiva e eu (ambos loucos por carne) devoramos sozinhos uma picanha média, acompanhada de um purê de batatas feito com cebola ralada e bacon que é uma coisa de outro mundo também! Eis o mal de ter dois cozinheiros em casa… haja pança!

  9. ah… nem tenho muito a dizer… mas sou vegetariana porque não gosto de carne. quer dizer, muito de vez em quando como peixes e frutos do mar, tipo uma vez por mês. derivados de leite como todos e adoro, menos o próprio que acho muito sem-graça. agora, devo dizer, minha vida melhorou bastante depois que resolvi tentar essa nova forma de me alimentar. não é uma regra pra todos, mas comigo funcionou assim. e mais: realmente, minha pele é ma-ra-vi-lho-sa. 😀

    beijo grande,

    renata.

  10. tenho o maior orgulho de ter “convertido” um primo ao prazeres da carne.

    assim: meus quatro primos mais próximos (no sentido físico mesmo; éramos vizinhos) eram vegetarianos por imposição da mãe. nunca comeram carne e no discurso, previamente ensaiado, diziam que era porque não gostavam. mas quando olhavam para um bife suculento e diziam “ai que nojo!”, eu podia ver ali naqueles olhos uma vontade da porra de devorar aquele alimento cheiroso e proibido.

    até que um dia eu chamei meu primo mais novo e, sem dizer nada, servi um bifão a ele. pronto.

    ele escondeu isso da família por alguns anos (era uma criança com medo) e de vez em quando ia lá em casa filar uma carninha. minha mãe, que sentia pena dele por vê-lo ter que comer escondido, fazia o rango e chegava a querer chorar.

    no último churrasco lá em casa, quase vinte anos depois do episódio do bife, eu ainda estranhava vê-lo comendo carne como se nunca tivesse sido vegetariano. confesso que senti uma pontada de culpa, não sei do que nem porquê, simplesmente a culpa estava lá.

    os irmãos dele, meus outros primos, ficaram todos na salada e no queijinho de coalho.

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