houve uma época de muito barulho e bagunça, de muitas gentes na minha vida. eu saía, badalava, pulava e saracoteava feito uma doida, minha casa era praticamente uma pensão. não digo que me arrependo, mas passou. fico feliz com as mudanças — como aliás é da minha natureza.
hoje em dia sinto um prazer imenso em ir pra casa cedo, em ver minhas plantas e flores, regá-las quase todo dia (principalmente nos dias de calor) e vê-las crescendo, tomando espaço na varanda. fico feliz quando não tenho nada pra fazer além de ficar batendo papo com o namorado, rindo de programas da tv ou cozinhando com ele.
quando as visitas vêem, gosto mais delas; a saudade tempera aquelas poucas horas. e, sim, devem ser mesmo poucas, já não tenho mais humor para longas visitas, longos programas. sinto falta de mim mesma quando há muita gente e muito barulho. fiz as pazes comigo e com minhas coisinhas, com meus pensamentos.
achava bobagem a frase “se encontrar”, referindo-se a si mesmo. parecia uma coisa tão banal, como se sempre tivesse conhecido e estado comigo mesma. descobri que os outros (e o espelho) nunca me trouxeram até mim mesma, como por tanto tempo acreditei. só olhando pra dentro, e não pra fora, é que nos encontramos. essa viagem é difícil, sim, mas é reconfortante. não é mais preciso a presença física de mãe nem pai, namorado, filhos ou amigos para se sentir feliz. quando nos sentimos felizes sós é que percebemos que as pessoas todas são uma dádiva, e que só desfrutamos disso completamente quando estar acompanhado de alguém já não é mais fator determinante da nossa felicidade.
a independência é genial, ela torna a dependência voluntária e, portanto, deliciosa.