a síndrome da perda de tempo

você chega em casa depois de um dia de trabalho e tem a impressão que não viveu? fica ansiosamente esperando pro fim-de-semana chegar, como se a semana não contasse? você está com a síndrome do título. é claro que esse nome científico não existe, eu acabei de inventar, mas a síndrome existe, sim.

quantas pessoas você conhece que sofrem desse mal? é como se o tempo trabalhando ou estudando ou fazendo coisas que precisam ser feitas (tais como arrumar a casa, resolver problemas, ler correspondência, fazer compras) não fosse tempo de vida, como se viver fosse o tempo que se está “à toa”.

não sei se estar à toa é a expressão exata; talvez seja simplesmente fazer o que se quer ao invés de fazer o que é preciso. é como se o tempo gasto com coisas necessárias fosse perdido e só o restante é que é vida. curioso é que geralmente não se trata de tempo gasto com prazer: muitas vezes o trabalho ou outras atividades necessárias são prazerosas, mas não entram na contabilidade do tempo para viver.

quem sofre dessa síndrome costuma ter problemas com domingos (afinal, o dia seguinte é a famigerada segunda-feira, dia de trabalho) e fins de dia; não quer dormir cedo, afinal, as horas depois do trabalho são o tempo livre, elas têm que aproveitar até o fim!

ao mesmo tempo, sentem-se culpadas por gastar o tempo com elas mesmas, à toa, dormindo ou não fazendo nada. alguém se reconhece?

nunca tive problemas com domingos, eu gosto de segunda-feira simplesmente porque me dá a sensação de começar de novo e eu ADORO recomeços. é como uma nova oportunidade a cada sete dias. mas já tive sim a síndrome de perda de tempo durante a semana: achava que devia aproveitar as “lacunas” do dia (horas sem trabalho) para fazer mil coisas. costumava encher minha agenda de coisas como aulas de francês, de canto, de qualquer coisa que não fosse trabalho. e nem ócio, porque não conseguia lidar com a culpa de ficar sem fazer nada.

não sei exatamente o que houve, mas fiz as pazes com o tempo e me sinto viva-e-vivendo todas as horas do dia, inclusive as de sono. não desgosto de nenhum dia da semana, de nenhuma hora do dia. quanto ao trabalho, tenho um acordo comigo mesma: jamais fico num lugar que não me faça feliz, que não me dê a sensação de realização que me move. se eu não tiver a constante sensação de realização, mudo de trabalho, de atitude, de atividade.

acredito que hoje dou muito mais valor ao meu tempo do que na época que enchia minha agenda para aproveitar o tempo livre. não há tempo livre, há só o tempo, que nada mais é que os segundos que passam enquanto escrevo essas palavras. o tempo passa agora junto comigo, aliás, eu passo com ele, ao invés de tropeçar e tentar alcançá-lo.

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  1. A minha relação com o tempo é meio doida. Eu sinto uma falta desgraçada da rotina porque de certa forma isso me coloca de volta nos trilhos do tempo — eu sou muito desregrado —, mas se a rotina toma conta eu me entedio rapidinho. Gosto de tempo livre, pra poder fazer coisas que simplesmente uma hora dão vontade, mas se eu fico à toa sempre perco essa noção de passagem de tempo, de ciclo, parece um limbo e isso acaba comigo.

    Eu acho — a Clau é quem vai poder dizer — que isso é mistura de touro com sagitário.

    Agora, de segunda-feira mesmo eu não gostava quando tinha que acordar antes das 5h da madrugada pra ir pra faculdade. 😛

  2. Poxa, eu me sinto assim =( o pior é que eu nunca consigo achar o real tempo livre, onde a minha cabeça fica livre pra pensar o que eu quiser, eu sempre estou me forçando a absorver conhecimentos que nem sempre valem de alguma coisa…

  3. Essa síndrome me diz muita coisa, devido que eu também passei pela fase de culpa por perder meu próprio tempo e não utilizá-lo para fins mais úteis, onde eu concluo que hoje, quando acordo cedo e durmo tarde, faço apenas porque gosto, não porque preciso, sempre preservando meu sono em detrimento da curtição ou do que quer que seja.

    Grande abraço.

  4. Andou lendo Domenico De Masi? 😀

    Eu creio que o problema do mau relacionamento das pessoas com as horas ‘de trabalho’ e, consequentemente, a tentativa de desfrutar as horas livres vêm do fato de não gostar do trabalho, do trabalho ser visto como castigo, como maldição bíblica.

    Viver em cidades grandes, perder horas se deslocando no trânsito, apenas aumenta isto.

    Bjs.

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