pois eu resolvi escrever sobre a tal tira, vista aqui no pensar enloquece.
na mensagem, a amiga me dizia que tinha achado triste a tira. eu, como sempre, resisto aos sentimentos de fragilidade (medo, tristeza, etc.) e o que aparece é uma certa indignação para a qual eu sempre encontro razão. comento então por dois prismas, que é aliás, como eu funciono (mas acredite: lá no infinito, minhas paralelas se encontram)
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essa tira jamais poderia ter sido desenhada por bill watterson, por vários motivos, o principal deles é: ele sequer discute a suposta dualidade do hobbes. pra ele, não existe boneco x tigre, não se fala em amigo imaginário. já li entrevistas perguntando coisas óbvias como “ah, então quando o calvin o vê ele é de verdade e quando não vê ele é um boneco?”. ele, sabiamente, não entra nesse jogo. as coisas, diz ele, são como são; interprete você mesmo. ninguém precisa explicar certas coisas, porque elas não têm explicação.
eu lembro de algo que ouvi em algum lugar em algum passado distante: se uma árvore morre na floresta em silêncio e anônima, será que ela de fato viveu? (é uma paráfrase, provavelmente errada, mas, pô, vocês entendem a idéia). eu não acho essa tira triste, acho apelativa.
bill watterson jamais cedeu à comercialização da imagem dos seus personagens. não quis fazer boneco, camiseta e o diabo. depois de encerrada a carreira, fez uma exposição com seus originais, que virou livro (que eu tenho, aliás, esse aqui). sensacional. é delicioso ver como ele simplesmente cria, se diverte, trabalha — na concepção mais honesta da palavra. não há os ganchos melecados das obras que servem tão-somente para agarrar aqueles pedaços moles de carne que ficam pendurados do nosso lado de dentro. aqueles, sim, que as novelas e os filmes com música apelativa pegam em cheio.
e se não lêssemos mais o calvin, ele se tornaria somente um menino desenhado num pedaço de papel?
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por outro lado, quando é que perdemos a capacidade de conversar com nossos amigos, de nos encantarmos com as coisas? é uma pergunta para o mundo, que fique claro, pois eu jamais perdi essa capacidade — para o bem ou para o mal, vivo espantada com a vida, com as cores, acho graça em tudo o que é novo e me pego diariamente conversando com meus bichos, com as plantas e com minhas coisinhas.
meu coração de manteiga derrete e escorre pelo ralo de pena quando vejo os crescidos e infelizes. a falta de capacidade de enxergar beleza e de se surpreender é das coisas mais tristes da vida. muitos criticaram “o mundo de sofia” e eu adorei o livro. menos pelas teorias filosóficas para adolescentes e mais pela simplicidade da definição do que é ser filósofo — nada tem a ver com ser intelectual, mas com (re)abrir os olhos para a maravilha que é o mundo. não é lindo?
mas me perdi: baixo os olhos de vergonha quando me deparo com os que crêem no amadurecimento da sensibilidade e do espanto, nos que de fato acreditam que devemos “amadurecer nossos gostos”. são pessoas que entopem galerias de arte, boates com música moderna, livrarias, já perceberam? estas mesmas pessoas consomem arte, letras, notas musicais como quem toma soro na veia — sem sentir nada. olho ao redor e não vejo lágrimas de emoção e menos ainda olhos brilhantes de espanto.
quando choro ou abro a boca de espanto, quando gargalho até chorar ou fico trêmula de medo (coisas que faço com freqüência, aliás), vejo sempre as mesmas duas reações: risos (você é uma criançona, mesmo… *hahahhahahaa*!) ou reprovações (você não tá meio grandinha pra chorar na cena de morte do rei leão?!). en-mim-mesmada, às vezes entro no jogo de rir de mim mesma; às vezes só mudo de assunto, cheia de pena dos embotados. eles me constrangem.
o hobbes da tirinha é a mangueira de “coração de vidro”. tenho pena dos que tomam pílulas (ou vão ao espaço unibanco) para construir uma nova vida e esquecer quem de fato são. a cada manhã dou gritinhos de felicidade com as criturinhas vivas que caminham pela casa e beijo a bochecha daquele moço que dorme na minha (NOSSA 😀) cama — eles são milagres incríveis, assim como a água que cai do chuveiro quando eu torço a torneira pra esquerda.
– “It’s a magical world. Hobbes, ol’ buddy… let’s go exploring!”
a seguir, espaços para separar o post lindo do comentário imbecil…
5
4
3
2
1
SUA cama? 😉
Hey, I´m a miracle! \o/
(canonizemos São Geraldo e Santa Maria Lúcia)
eu consertei, miraclídio meu amor! 😀
Eu adoro entrar na fila do espaço unibanco e dizer bem alto: “só de estar nesta fila eu me sinto mais inteligente”.
É por isso que eu digo: a criança que lê Coração de Vidro em tão tenra idade como tu, não pode mesmo crescer sã. A Mangueira, você me fez lembrar da Mangueira…abuáaaaa.
Ô, cacete, eu nunca li “Coração de Vidro” e agora fiquei pra lá de curioso!
a mangueira, paula, a mangueira! ABUá!!!!!!!
mas bill deixou bem claro q tudo isso era fruto da imaginação de calvim e q haroldo naum falava realmente naum sei pq tanto espanto ao ver esta tira