e com essa história do papa morto pra tudo que é lado, eu vejo uma foto dele lá, estirado e montadíssimo com aquelas roupas lindas, exibido pro povão. isso me fez lembrar de um dos meus muitos micos solitários que, não fosse a minha língua enorme, jamais seriam conhecidos. mas eu não resisto, vocês sabem.
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estava eu indo para nova iorque, era maio. desembarquei no JFK às 5 da manhã de um dia claro, sem uma nuvem no céu. peguei o táxi mais velho que havia com o negão mais preto e maior do mundo (aqueles de filme, tipo forrest whitaker). entro no carro e me afundo no banco de trás, ele abre aquele janelinha que separa o motorista do passageiro e liga o rádio: música gospel da melhor qualidade invade o carro e ele pega aquelas pontes intermináveis que levam a manhattan. vejo o sol nascendo no horizonte enquanto ouço aquela música linda e penso que gostaria de poder dividir aquilo com alguém, pois jamais vou ser capaz de descrever a beleza do momento. chorei umas lágrimas de felicidade.
minha felicidade não durou muito: o meu quarto ainda não estava liberado, afinal eram 6 horas da manhã. comi um muffin e resolvi sair pra caminhar, estava a uma quadra da quinta avenida e próxima do central park.
comprei um café (adoro café, inclusive o americano chafé) e saí caminhando pela quinta avenida. parecia que nova iorque era minha: não tinha gente nem carro na rua, o silêncio e o vazio eram maravilhosos. de repente, vejo um movimento de gente se dirigindo para o mesmo lugar. curiosa que sou, fui atrás.
era a catedral de st patrick. muita gente indo pra lá e eu animei: oba, vai ver tem daquelas missas legais com coral, vou lá! não sou católica, mas gosto de rituais. fui. me enfiei no meio da multidão, uma fila que se aglomerava na porta e eu, paulista que sou, pensei de novo “putz, deve ser bom isso aqui…”. tolinha…
entro na igreja semi-lotada e lá no altar o que eu vejo? UM DEFUNTO.
(pausa importante: eu tenho aflição de cadáver. eu nunca vi direito um morto e nem pretendo ver. fujo de velório, enterro e afins)
pois não era um defunto, era O defunto: o tal do cardeal bam-bam-bam de NY e eu lá, na missa de corpo presente do fulano. sentei o mais longe possível do presunto (porque voltar não dava — a fila pra entrar era tamanha que eu ia APANHAR se resolvesse ir na contramão). fiquei lá concentrada, tentando pensar que aquilo era uma peça de teatro, uma performance, sei lá. a missa começou e obviamente eu não entendi nada (não entendo missa nem em português, sabem?) mas levantava e sentava observando os próximos.
eu achava que estava ruim, até o povo começar a se abraçar e beijar e dizer coisas que eu não entendia — acabei abraçando e beijando todo mundo, que eu não sou besta. mas a pior parte estava por vir: a parte da hóstia. percebi que todo mundo se dirigia para LÁ onde ELE estava, pra se benzer, comer a hóstia ou seja lá como se chama essa parte. aí não deu, e eu surtei — fui andando na contramão mesmo, no meio do corredor central, embalada pelo mantra “excuse me, excuse me” e saí depois de longos minutos e centenas de murmúrios de desaprovação.
nunca o céu me pareceu tão azul lá fora. prometi pra mim mesma que nunca mais entraria numa igreja lotada sem saber o que estava acontecendo — o que obviamente não cumpri e fui parar numa missa opus dei. mas essa é outra história.
Viu, perjura? Faz esse tipo de promessa e ainda por cima não cumpre. Tsc, tsc, tsc… Deus castiga!
Mas então, e aí, a outra história? 😛
Tsc, tsc…
Que papelão, hein? 🙂
[]´s
Ah, conta a outra estória.
Oi Zel,
Comigo aconteu algo parecido…no mesmo local….mas não era missa de “corpo presunto”…era casamento mesmo.
beijo
Guiga
Jesus…Cruz-credo!