algumas coisas importantes, outras nem tanto

sabe, com essa história de prebiscito de “sim ou não” para o desarmamento eu descobri uma coisa: não consigo gostar mais do mesmo jeito de quem vota NÃO. eu obviamente respeito as opções e decisões alheias, até porque sou racional, mas isso não quer dizer que meu sentimento fique inalterado. há alguns anos, me convenceria racionalmente que “todos têm o direito de achar e fazer o que querem, e eu devo aceitar”. muito bem: hoje eu continuo entendendo, mas não aceito, não. diferenças muito grandes de valores devem mesmo criar distâncias, elas são saudáveis. gosto de me agrupar com meus semelhantes, já não tenho mais porquê insistir em ser aceita em grupos que não são os meus.

**

bendita terapia, bendita liliana, bendita fal 🙂

**

e ninguém me entenda mal: não vou cortar relações com ninguém por conta do voto “não”; mas a amizade, definitivamente, não será a mesma (parafraseando a amiga-bicha-flor).

**

aliás, os valores. peraí que o houaiss tá aqui do lado e eu vou pesquisar o que significa.

(lendo…)

jesus, é o maior vocábulo do dicionário, só pode ser!

(ainda lendo…)

achei: 12 p.ext conjunto de traços culturais, ideológicos ou institucionais, definidos de maneira sistemática ou em sua coerência interna 16 ÉT conjunto de princípios ou normas que, por corporificar um ideal de perfeição ou plenitude moral, deve ser buscado pelo seres humanos

**

saí do meu último trabalho exatamente por causa desta palavrinha: valores. eu não compartilho dos valores daquela empresa, portanto, não quis mais trabalhar lá. dinheiro a gente ganha fazendo quase tudo na vida, ele é conseqüência e não fim das minhas atividades. dou valor aos meus valores 🙂

**

isso é outra coisa que tem vindo à minha cabeça com freqüência: por que as pessoas procuram trabalho e dinheiro, ao invés de pensarem no que QUEREM fazer? o que se quer fazer da vida, o que mais gosta, o que se vê fazendo boa parte do seu dia? é comum ver pessoas equivocadas com o que gostam de fazer e o que querem fazer como forma de viver. o fato de gostar de ler não significa que eu quero ler o dia inteiro — eu, por exemplo, não quero. adoro ler, mas gosto mais ainda de pensar e resolver problemas. estou na profissão perfeita: meu trabalho é resolver problemas, arranjar soluções, ajudar as pessoas a resolver problemas. isso acaba me trazendo grana, sou paga pra fazer o que faço — e bem paga, porque eu faço bem o que faço, até porque gosto e… é um ciclo, que se realimenta. não sei o que seria de mim se pensasse em ganhar dinheiro, e só. talvez fosse política ou advogada, sei lá.

**

eu continuaria fazendo o que faço, mesmo se ganhasse na loteria. com muito mais dias livres na semana e muitas semanas livres no ano, mas faria sim 😀

**

houve um tempo que eu achava que devia agradar as pessoas, todas elas, sempre. hoje eu acho que é legal agradar as pessoas; acho também que ser agradada é uma coisa importante — eu quero ser agradada, sim senhores.

**

uso internet há muitos anos (mais de 10) e cometi muitos erros. entre eles, destaco o uso indiscriminado de emails e excesso de informação pessoal em blogs, chats e mIRCs. aprendi a dosar a mão, graças a muitas cabeçadas, exposições desnecessárias, agressões anônimas e muitas coisas mais. com os emails, especialmente, aprendi várias lições que me servem para a vida “offline” também: releio muitas vezes o que escrevo, penso como se fosse a pessoa do lado de lá lendo; quando estou com raiva, não respondo; não entro mais em discussões por email nem chat nem telefone — pra discutir comigo, agora, só cara a cara; deixo alguns emails-problema amadurecerem na caixa postal. descobri que certos problemas se resolvem sozinhos e que minha intervenção mais atrapalha que ajuda; não respondo todos os emails — descobri, também, que nem tudo precisa de resposta.

**

meus vizinhos de cima tocam piano, dão aula de piano e ouvem música erudita. nesse momento toca mozart (não sei o que é, mas sei que é), estou na sala, digitando em silêncio na casa vazia — o fer saiu e os ferrets estão dormindo. a paz devia ter essa trilha sonora, sim. às vezes a vida da gente é tão perfeita quanto o que vemos nos filmes.

10 comments to “algumas coisas importantes, outras nem tanto”
10 comments to “algumas coisas importantes, outras nem tanto”
  1. É, Zel… vc fala sobre o famoso “life/job balance”, tão cultuado pela “patota corporativa” hoje em dia.

    Vejamos o meu caso: sou tradutor há 8 anos na mesma empresa, essa é a minha vocação, adoro o que faço e vou ficar velhinho traduzindo, como fazia aos 4 anos com os gibis italianos que o meu pai comprava na banca do Aeroporto de Congonhas ou trazia direto de Roma.

    Agora, infelizmente, eu discordo do fato de que “dinheiro é conseqüência”. Ao fim e ao cabo, tudo se resume em “green, grana, véio, grana!”. Tu disseste que dinheiro a gente ganha fazendo quase tudo na vida. Concordo. A questão é “quanto”. Eu cheguei à conclusão de que não se vive decentemente com menos de 7 mil reais por mês nesta cidade (ou neste país, depende do lugar). E não é qualquer trabalho que gera esse nível de renda. Do contrário é se conformar com uma “vida murrinha”. Fazer aquilo de que se gosta, mesmo sabendo que a grana não é nada razoável, é um tiro no pé. Não gera qualidade de vida. Qualidade de Vida = $$$$ = Qualidade de Vida, Q.E.D.

    “gosto de me agrupar com meus semelhantes, já não tenho mais porquê insistir em ser aceita em grupos que não são os meus.” Ora, ora, ora… às vezes, a gente se junta a um grupo por causa de UM ÚNICO valor. Veja o meu caso: sou enófilo de carteirinha (literalmente), sócio da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho. Entretanto, se eu levasse em conta os “valores” da maioria dos meus confrades, fugiria de lá que nem o vampiro foge do alho. Afinal, sou comunista marxista-leninista militante (não-partidário), e a SBAV é um dos “templos da burguesia”. Mas que posso fazer? Lá se bebe vinho e se aprende muito sobre vinho. E adoro essas duas coisas.

  2. eirk, como eu dizia, tudo é questão dos tais valores: eu não acho que se precise de 7 mil reais pra viver em SP, não. tem gente que vive com menos, muito menos, e tá ok, tá feliz.

    continuo não achando que grana tem que ser primeira preocupação ao se pensar no que fazer da vida. acredito mesmo que a grana é conseqüência — mas isso é opinião e vivência. a minha opinião e vivência me demonstram que estou certa. sempre fiz só o que gosto e ganho bastante bem (mesmo dentro do seu padrão).

    quanto aos enófilos, sorry, ninguém que gosta de vinho precisa frequentar essa gente — só se quiser. se não te incomoda é porque não bateu o suficiente com seus valores — ou seus valores não são exatamente o que você pensa 🙂 não consigo ver um marxista indo numa loja carésima comprar ou tomar vinho ou dizer que precisa de 7 paus pra viver por mês, i am sorry, my friend 😀

  3. Poxa. Espero que vc continue gostando de mim. Venho aqui todos os dias. Nunca pensei que precisasse explicar. E eu realmente não me explicaria se vc não fosse uma pessoa tão querida, que eu não quero longe de mim. Então.

    Eu só quero deixar claro que nunca tive interesse por armas. Nem nunca cheguei a ver uma arma de perto (a não ser a dos seguranças dos bancos). Nunca peguei numa arma, etc., etc. Nesta questão do sim ou do não, sou apenas contra o Estado proibir a venda de armas, porque acho que o Estado não deve se meter nestas questões, e sim que deve prover a segurança pública e a educação necessárias para que a criminalidade diminua.

    É isso. Realmente não quero perder uma amizade por causa de uma questão destas. Se for realmente importante para vc, eu juro que mudo meu voto.

    Aliás, eu não voto, eu justifico porque não transferi meu título.

    Love ya.

    Paulo.

  4. ô coisa mais fofa… não precisa mudar não, eu te perdôo 😀 (mas pensa em deixa o estado mandar nisso, vá? pensa no tanto de idiotas que a gente vai evitar que tenham armas… só os bandidos já é problema o suficiente!)

  5. Zel, decidi me manifestar somente porque acabei de sentir o que você descreveu, nesse momento, aqui no trabalho… O que me impressiona são os argumentos e a falta de sensibilidade, cada qual pensando no seu umbigo… Essa maledito referendo tá me estressando, tô começando a sentir raiva, tanta raiva que… Ainda bem que não tenho armas e sou contra a posse delas 🙂

  6. Erik, como é que um comunista marxista-leninista militante foi parar nas forças armadas? Ou como é que um militar virou comunista, companheiro? Bateu a cabeça? 😀

    Não quero de forma alguma que isso seja um ataque, é curiosidade pura e simples, mas você há de convir que é meio surreal.

    (Zel, desculpe a invasão!)

  7. Hahaha, Zel, Liliana rules.

    ****

    Sabe Zel, que isso aí que vc mencionou… eu tenho com pessoas. Qd vejo gente que amo se relacionando com coisinhas repugnantes em forma de gente, eu… encolho os dedos dos pés, vc conhece essa sensação. É uma idiotice, não dá pra viver assim e eu me controlo, mas, amadinha, vc definiu muito bem: eu mudo o jeito de gostar.

    Enfim.

    Te amo, fadinha.

Deixe um comentário