pontos de inflexão (ou senta que lá vem história)

então, aí a cam deu uma resumida genial no assunto que eu pincelo aqui há anos (e pra quem é de perceber tendências e correlações isso não é novidade).

eu sou a rainha das generalizações, mas não tive coragem de nos colocar a todas no mesmo balaio — até porque costumo fazer destas com muito menos classe que a cam *hehehehehe* 😀

falo então de mim, num resumo do resumo: eu achava que era fodona e não mulherzinha — eca, credo, que nojo! só por pensar isso eu já não era tão fodona assim, mas isso é outra história… voltando: eu me convenci tanto disso que convenci outras pessoas também que, naturalmente, me cobravam a “fodonice”. conclusão dessa meleca é que eu me fodi (e tou morrendo de rir aqui da quantidade de fod*.* que apareceu até o momento), me fodi bonita. me fodi porque sou e sempre fui mulherzíssima, com direito a tudo o que você quiser incluir aí na mulherzice, incluindo medo de barata.

me fodi também porque, sendo mulherzinha, sempre fiz tudo pelos homens que amei, mas não demonstrei; sendo mulherzinha, sempre quis ser cuidada e nunca deixei, sempre quis ser paparicada e nunca pedi; sendo mulherzinha sempre quis casar e ter filhos e uma casa bonita, uma família, fotos, animais de estimação, jogo de chá e momentos de felicidade bucólica e nunca me permiti sequer SONHAR com isso.

como ser fodona não combinava com ser mulherzinha, eu ignorei a pobre coitadinha e dei o maior apoio pra fodona: cresci, apareci, fui independente, ganhei dinheiro, comprei coisas, viajei pelo mundo, mandei monte de homem se foder (no mau sentido), peitei marmanjo, ouvi muita merda, aprendi a fazer tudo sozinha na vida. até perceber que isso tudo não vale nada, que eu seria mais feliz, SIM, se alguém, nem que fosse de vez em quando, pagasse a conta ou pegasse aquele copo d´água no meio da noite. pra não falar de dormir juntinho, abraçado (admitir uma coisa dessas seria a derrota das derrotas!)

o que mais me irrita é que a dica pra decifrar esse meu perfil-transgênero estava lá o tempo todo, a vida toda, nO meu comportamento sexual: eu não topo e nem nunca topei sexo casual ou com estranhos — eu não “fico”. e não é pudor, veja bem (sou o puro relax), é falta absoluta de tesão na situação. não tenho tesão por quem não conheço e não admiro de alguma forma, não adianta! pelo menos isso eu soube respeitar: se não tou com tesão, não tem sexo. pra resumir, é assim: se eu dei pra você, acredite que eu estava envolvida 🙂

bom, agora explica prum cabeça-de-bagre qualquer que a pessoa é da categoria “fodona” MAS precisa se apaixonar pra trepar e sente ciúme, sim? pira a cabeça do/a coitado/a. eu topo qualquer negócio — mulher, homem, animais de pequeno porte e móveis finos (copyright da fêzinha) — desde que role sentimento. quer coisa mais mulherzinha que isso?

então um belo dia, lá do fundo do poço do meu sofrimento graças ao meu comportamento indecifrável ouvi uma vozinha dizendo “amigaaaaam, você precisa de ajudaaaammmm!” — não era a maria bethânia, não, viu? era eu mesma. procurei ajuda da nossa idolatrada liliana e um belo dia todas as fichas caíram, com décadas de atraso. eu juro por deus que quando comecei a ouvir meus desejos eu escutava, obviamente não sem profunda vergonha, o coro da tragédia grega gritando lá do fundão “mulherzi-nha! mulher-zi-nha!” e queria voltar à vida anterior da ignorância, me esconder numa boate com muito techno tocando, cheia de gentes mudernas e liberadas e…

… resisti. mandei o coro todo à puta que lhes pariu, fiz o mesmo com o ex marido e, na seqüência, com todos os que nunca foram amigos. a partir de então, nós duas — a fodona e a mulherzinha — demos as mãos e saímos tropeçando, é claro. cada uma puxando prum lado, as duas andam até hoje cheia de hematomas, discordando e batendo boca, mas estão andando pra frente. e juntas.

0 comments to “pontos de inflexão (ou senta que lá vem história)”
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  1. Sabe que toda vez que você toca nesse assunto eu tenho a impressão de que tenho mais coisas em comum com você? Parece que você sou eu daqui a algum tempo! Ao mesmo tempo parece que todas as mulheres tem esse problema de negar a mulherzinha que ela tem dentro de si. Esse negócio de negar que mulher é sexo frágil dá trabalho demais, é um fardo muito grande, mulher é sentimental e negar o sentimentalismo dói mais do que se imagina… mas o que fazer quando é tão difícil se livrar da forma de agir, sempre na defensiva?

    Você é uma vencedora, Zel!

    Beijo!

  2. dani, o seu texto eu tou doida pra ler, até porque certamente será algo muito diferente do que eu escrevi… CURIOSAAAA 😀

    clá, meninas todas: vocês são umas graças! e eu tou mais feliz que nunca, mesmo com as 2 de mim se estapeando 🙂

  3. Nossa … isso me tocou profundamente, mesmo pq as vezes, parece que nao podemos demonstrar que estamos chateadas, pois, temos de ser fortes 100%.

    Agora, eu pergunto, quem é que disse que temos de ser fortes, absoluta e nao precisar de ninguem?

    Hoje eu quero colo 🙁

  4. Meu deus, “Fight Club” com happy end!

    ;-D

    Sim, é claro, claríssimo, que mulheres precisam se envolver. Mulheres envolvem-se. Ponto.

    E ver que você conseguiu uma vida de mulherzina feliz realimenta uma esperança que vive teimando em esmorecer.

    beijo, beijo

  5. Eu li uma crônica do Tony Parsons em que ele diz que uma mulher perdoa qualquer coisa de um homem: bebedeira, ejaculação precoce, infidelidade (talvez não tudo na mesma noite). Mas a falta de compromisso é uma coisa que a mulher jamais perdoa. E talvez seja isso que transforma todas nós em mulherzinhas, porque representa a necessidade de se aliar a alguém nesta vida.

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