me dei conta que em 1994 eu iniciava a minha vida virtual. jamais a abandonei, mas acho que 11 anos são suficientes pra aprender algumas coisas, não é mesmo?
lembro dos primeiros contatos e os primeiros vícios: emails e gopher. mandei email pro scott adams em 1994 (e ele respondeu, acreditam?), aliás foi meu primeiro email fora da empresa. a gente mandava email, naquela época, em interfaces de texto puro e dentro de um mainframe. com tela verde. comecei a brincar de navegar via telnet, “telnetando” através de vários servidores (os nós da internet, hoje invisíveis) até chegar aos estados unidos da américa, a terra que já tinha comércio eletrônico virtual. é claro que o que me moveu foi o consumismo: comprei em 1994 (presta atenção — isso faz tempo pra caralho!) dois CDs que eram meu sonho de consumo e não encontrava aqui: o duplão do fantasma da ópera e o requiem de mozart gravado pela academia inglesa de música antiga. atentem para o processo:
acesso via gopher ao servidor do cdnow (hoje a modesta amazon). lá havia uma lista (que podia ser “navegada” na tela, sim, a uma velocidade de jaboti manco) com os nomes e códigos de todos os cds do universo. havia a opção de fazer o download da lista e então submeter o pedido com os códigos. fiz isso: passei horas e horas dos meus dias lendo aquela lista árida e maravilhosa, vendo tudo aquilo que eu não ia poder comprar ainda… escolhi os 2 CDs que eu tanto queria e mandei o pedido, rezando pra que desse certo. vejam: eu não conhecia ninguém que tivesse feito isso antes. foi minha fé na tecnologia que me deu forças pra arriscar e ver o que acontecia. mais ou menos uns 40 dias depois eu recebia meu pacote com os 2 CDs. e minha vida jamais foi a mesma.
mudei de emprego para poder trabalhar com internet e em 1995 conheci aplicativos windows para FTP e o maravilhoso netscape. não era como hoje em dia, não tinha o santo google não! eu procurava os sites com nomes que achasse prováveis: www.music.com, www.hotsex.com 🙂 e coisas dessa natureza. achei e freqüentei muuuitos webchats de todo tipo — tudo espalhado pelo mundo, porque o brasil demorou a entrar na onda. e conheci o genial mIRC, que mudou minha vida em vários sentidos. e veio o ICQ, a descoberta do HTML e minha primeira página pessoal em 1997, o meridian, e só em 2000 o blogger.
pra tornar curta uma história longa, aprendi (depois de muita porrada) que vida virtual existe sim, e é geralmente ridícula. a gente se esconde atrás de palavras, emoticons, desenhos, textos curtos e longos. a gente observa a vida alheia através da rede e sente inveja, raiva, amor, ciúme, ódio. não existe indiferença na vida virtual, porque tudo está ao alcance de um simples CLICK. não existe verdade absoluta e nem mentira deslavada. como na vida real, aliás, mas com MUITO mais maquiagem.
me expus muito mais do que seria saudável (e me arrependo); me calei quando não precisava ter me calado, por medo dos outros (o que vão pensar? vão me amar depois disso?). percebi, com certo incômodo, que minha vida virtual era um arremedo exagerado dos meus defeitos, incluindo a minha insistência em falar das minhas qualidades. pra quem eu falo tanto, mesmo, hein?
me enganei dizendo que escrevia pra mim mesma. quem diz isso é mentiroso, do pior tipo (o que mente pra si mesmo). menti descaradamente pra mim mesma com letras escritas — e aqui entre nós, escrever mentiras dá um certo ar de verdade a elas. acreditei em mentiras escritas; acreditei em elogios escritos; desacreditei de algumas verdades. as letras escritas assim, sem grandes conseqüências, são perigosas, enganadoras e muito, muito vazias.
e cheguei onde queria chegar: depois de 11 anos de vida virtual, aprendi que dar importância demasiada a essas palavras escritas é patético. isso é brincadeira, diversão, elucubração, fantasia. é bater papo no boteco, falar da novela com as amigas, é parte da diversão da vida, nada mais. deixei de dar importância a scraps, comments, emails, mensagens instantâneas. isso tudo é conversa de bêbado, fofoca de corredor, falta do que fazer. tem seu peso, tem seu valor? tem, sim, mas é — e deve ser! — pequeno. senão a vida vira uma novela mexicana muito mal dirigida.
uma das coisas que mais adoro a respeito da minha vida atual (inclui amizades, mas falo especificamente da minha vida afetiva/amorosa) é que ela é absolutamente independente do virtual. meu amado não me deixa scraps e nem escreve testimonials; ele não mantém um blog e nem deixa recado no meu. não nos comunicamos por letrinhas de nenhum tipo — nossas discussões, declarações, piadas e convivência são absolutamente reais. e foi de caso pensado: nos comprometemos a não cair nessa rede (literalmente) de intrigas e joguinhos de ego. ou vão me dizer que não percebem os joguinhos de comments, scraps, emails? quantos casais discutem a relação por MSN? quantas namoradas “monitoram” os comentários dos seus namorados? eu sei BEM como é isso, pois já fui vítima desse jogo. eu disse um não enorme a isso, pra sempre.
aqui no virtual fica isso: textos para diversão, para a posteridade, para o entretenimento (meu e dos outros). a vida virtual é, sim, a vida na caverna. tenho pena de quem faz declarações de amor via orkut e cala no momento olhos-nos-olhos. tenho mais pena ainda de quem vive mais virtualmente que pessoalmente e ainda não percebeu. acreditem de quem já passou por isso: dá uma sensação horrorosa de idiotice depois que a gente percebe.
mas isso virou papo de tia velha (“ahhhh, meu filho… quando eu tinha a sua idade…”. voltemos à programação normal e boa noite a todos 🙂
por falar no que você deixa para a posteridade, zel, dê uma lida nesse ótimo texto do mario av:
http://marioav.blogspot.com/2006/01/sociedade-virtual-parte-857142.html
Puta merda Zel, escandalosamente lindo texto!
Queria eu ter escrito isso… e assim….perfeitamente!
Beijo
Zel,
E eu que não consigo nem instalar o cabo USB no meu pc…
bjo pro 6
Guiga
*hahahahahaha* guiga… c é o mais sem noção 😀
marcos lindão, eu li o post do mario av. eu acho o mario av um chato e os textos dele são mais chatos ainda 😀 e se uma empresa não me contratar porque leu meu perfil no orkut e não gostou, sabe o que eu acho? azar dela 😀
É moça… exposição demais realmente traz problemas. Acho que depois de 4 anos e tanto postando bobagens finalmente estou acertando a mão no que é realidade, no que é ficção, e me divertindo muuuito mais.
A gente envelhece e aprende o que é bom pra gente. Dissociar as vidas online e offline é questão de sobrevivência.
Adorei teu texto e assino embaixo.
Beijo!
Verdade, quando a gente percebe o quanto está sendo patético criando uma vida de aparencias na internet dói um pouco no ego de ter sido tão idiota! Eu passei por isso… pelos textos do blog para uma pessoa só, dos comments pseudo-apaixonados, dos scraps e das discuções de relação pelo MSN, já tive que deletar contas de msn e orkut por isso… e sabe o quê? Terminei o namoro! =D
Eu também quero alguém real!!!
Seus textos continuam ótimos, e não são de tia velha, são mais maduros, mostram o quanto uma pessoa pode mudar e “crescer” durante o tempo… brincando brincando fazem uns 4 anos que leio seu blog, e ele só melhora 😉
Beijos!
que fofura que vocês são 🙂 eu fico feliz de ver mais gente caindo na real e percebendo que há que ter cuidado. a gente entra em cada viagem errada… muito medo!
tá perfeito, zel! já sofri pra me livrar de uma viagem errada. beijos!
tia velha, se é assim, quem fala aqui é o dinossauro que você conheceu anos atrás nesse emaranhado entre o virtual e o real, distinção que sempre achei (e acho) inexistente. a diferença que importa, para mim, é entre o público e o privado, reconfigurado a cada letra que digitamos. [só para constar, meus primeiros cursos de programação fiz em 1973, é mole?!] beijos.
lembrei de uns faq’s que eu baixava no bbs. café, gente que anda descalça, bicicletas, etc.
e outro texto, indicando serviços por email. mandava o email com palavras-chave (imdb, por ex.) e recebia a pesquisa em texto. tudo na tela verde.
Oi Zel,
Só hoje que eu li toda a saga do perupatolinha e ainda bem que não vi antes! O Natal, este ano, foi na minha casa e eu tenho CERTEZA que eu ia querer tentar fazer (masoquismo? incapacidade de aprender com os erros dos outros? well, whatever…). Mas, apesar de tudo, só de pensar me dá água na boca e eu estou pensando quando posso fazer, talvez na Páscoa. Se eu fizer, te digo como foi.
Ah, e eu nunca ia imaginar que o nome é peru+pato+galinha. Perupatolinha não parece nome de cartoon? (Podia ser algum amigo do Gaguinho, do Penalonga, não podia?)
Depois de alguns surtos, tenho essa convicção: o virtual é real. E se tá segmentado é bom integrar logo, antes que a m. se espalhe por todos os lados…
PS. Alguma chance de conseguir a receita do Perupatolinha?
olha, que o virtual é real eu não tenho dúvidas, mas a vidinha virtual não é a mesma coisa que a vidinha de verdade, do outro lado do teclado. quem ainda não percebeu é porque (a) não tem ou nunca teve vida virtual ou (b) não caiu a ficha ainda 🙂
é fácil ver isso: quantas pessoas que você conhece são completamente diferentes do que escrevem nos seus orkuts ou blogs? quantos diriam com suas boquinhas as coisas que escrevem em comments, posts e orkuts? poucos. as exceções, e eu tou falando aqui da regra. a gente perde a noção da realidade na frente do teclado, vamos admitir. se tem alguém aí que não perde, meus parabéns, mas todos nós demais mortais perdemos, sim, e não é trivial cair na real, não 🙂
ah, sim, perupatolinha: a receita em inglês tá no link do próprio post; a receita em português eu tou devendo mas vou cumprir, tenha fé, raquel 🙂 eu tardo mas não falho! beijocas
Em ingrêis num vai dar não, zel. Se ainda fosse francês… rs Mas tenho uma fé danada, menina! Bjos pacientes na espera,