toc, toc, toc

então, sabe toc? nunca fiz teste pra ver se tenho ou não, mas não precisa: é certeza que em algum grau eu sou uma transtornada.

amo fazer listas de coisas que tenho que fazer e sinto prazer e alívio ao completá-las; adoro simetrias, números repetidos, “coincidências”. no meu caso nenhuma dessas coisas me causa incômodo, mas já houve uma mania da qual felizmente me livrei: o desespero de responder emails. eu coloquei na cabeça que minha caixa postal não podia ter mais do que, sei lá, 10 emails, senão as coisas estavam fora de controle. aí fudeu tudo: desesperada pra cumprir essa minha regrinha mágica eu respondia os emails o mais rápido possível pra me livrar deles, não importando se a resposta era adequada. além disso, tinha a questão de sempre responder — nenhum email podia ficar sem resposta.

enfim, quando percebi que esse negócio já estava se tornando um incômodo, parei. aliás, parei não: fiz um tratamento de choque! combinei comigo mesma que não responderia emails no mesmo dia que eles chegaram, resolvi esperar até o dia seguinte pra coisa amadurecer na minha cabeça e só então responder. a mudança foi angustiante, confesso, mas operou milagres. percebi na prática que toda a minha ansiedade de responder tudo era uma bobeira e que ninguém ia morrer se eu respondesse 1 dia depois ou simplesmente não respondesse.

para os viajões como eu e outros tantos, é difícil acreditar que a realidade é muito mais simples que a nossa fantasia. a gente se apega nas nossas fantasias e viagens interiores e esquece que do lado de fora de nós existe um mundo bem menos complicado do que pintamos.

eu sou daqueles pessoas que desenvolve longos diálogos internos, brigas inteiras, reconciliações, discursos lindos, briga de porrada e pior: choro e rio sozinha de tudo isso. tudo dentro da minha cabecinha imaginativa. o problema é que essa fantasia toda afeta o que eu sinto e como eu me sinto em relação às pessoas e ao mundo. exemplo: você vem me visitar hoje à noite e combinamos de você trazer o vinho (assim, sem muitos detalhes). muito antes de você chegar eu já imagino qual será o vinho, que ele vai ser tinto e da marca X e que vai acompanhar super-bem a carninha que eu vou fazer… e você me chega com um chalise branco. acabou a noite! o contrário também é verdade: eu imagino que, por não termos combinado, você vai chegar com o maldito chalise branco e passo o dia puta da vida contigo. “pô, chalise?!”. quando você chegar eu já vou estar de mau humor e te olhando feio, mesmo que você traga um vinho maravilhoso.

antes eu não percebia que essas viagens interiores acabavam estragando momentos bons. eu sofria por coisas que não aconteceram e que eventualmente não aconteceriam nunca! a solução? perceber o problema, é claro, e exercitar-se todo o dia. pois é, aprendi também que não existe só exercício físico ou de matemática, a gente também exercita emoções e reações. comecei a viajar demais? pára tudo! xô, xô capeta!

não vou dizer que é exatamente fácil, mas é mais fácil do que eu pensava. o bom é que depois de 1 ou 2 tentativas bem-sucedidas a gente percebe que é possível e é bom demais não sofrer por antecipação. deixemos as coisas acontecerem e SE der alguma coisa errada a gente resolve; deixemos as pessoas agirem e reagirem, vamos dar espaço para que as coisas aconteçam de fato e não só na nossa cabeça. isso é o que chamamos vida, e não aquela vida paralela da gente com a gente mesmo.

e eu contei isso tudo só porque eu ia dizer que AMO coisas simétricas, mas tenho especial apreço pelos números palíndromos (não é essa a palavra certa, eu sei — qual é, alguém sabe?), incluindo horas do dia. tipo 12:21, 10:01 e assim vai. adoro números repetidos também — fico feliz da vida quando é 00:00, acho lindo 🙂

e OVO, AMA e outros palíndromos lindos? não é o máximo? e quando a temperatura é igual aos minutos da hora? e quando o dia é igual ao mês e igual aos 2 últimos dígitos do ano? ahhhh… isso dá prazer 😀

mas não sou supersticiosa (acho que não tenho nenhuma superstição, nenhuma mesmo) e nem acho que os números “combinando” têm significados (tipo aquela viagem errada do zagallo de achar 13 em tudo). só acho lindo, perfeito, sei lá.

sempre fui apaixonada por matemática (matrizes! geometria!) e quando conheci a teoria do caos fui arrebatada por uma paixão incontrolável pela lógica maluca de deus.

ok, ok — a maluca sou eu. e eu tou triste porque esse ano faço 34. 33 era tão bonitinho…

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  1. andré, MUITO OBRIGADA! capicua, é esse, é esse! lindo demais! 🙂

    priscila, pelo amor de nossa senhora eu preciso dessa bolsa!!!!!!

    bia, você é mais monga que a gente 😀 e vamos fazer um almoço para curar saudade, podexá que vou pesquisar uma receita 🙂

  2. Eu tinha um TOC horrível: se eu pisasse em um relevo com o pé direito, eu também tinha que pisar num relevo equivalente com pé esquerdo, e na mesma posição do pé (ponta dos dedos, calcanhar, ou bem no meio, etc…)

    Sabe essas calçadas de blocos de concreto separados por grama? Eram um inferno, porque ou eu pisava bem no meio do bloco ou ficar mudando o passo que nem um bobo, só pra pisar igual com os dois pés.

    Doença!

  3. Lindo o post, Zel. Não só pela descrição das neuras como pela reflexão a respeito do quanto elas realmente só existem na nossa cabeça. Mas que trabalho de chegar a essa conclusão!

    Eu tinha umas manias completamente idiotas. Quando eu era adolescente eu trabalhava datilografando trabalhos escolares e aquilo foi se imiscuindo em tudo. Eu via as legendas dos filmes no cinema e ficava datilografando mentalmente, torcendo para que as letras da mão esquerda empatassem com as da mão direita… eu até classificava as palavras de acordo com sua “simetria”.

    Existem outras coisas menos malucas que essa, como uma amiga que hoje mesmo trocou e-mails com a ex do namorado e ficou enxergando alfinetadas em trechos simples das mensagens… sabe, achando que toda a harmonia do mundo depende dela mesma?

    Pelo menos a admissão do Roberto Carlos de que sofre disso está fazendo as pessoas pensarem mais no assunto…

  4. gente, 2 coisas:

    1) eu não sabia que o roberto carlos tinha TOC, não! mas tá na cara, né! quem não corta um cabelo daquele… 😀

    2) TOC é coisa séria, apesar do tom leve que eu dei. Se alguém aí realmente sente que essas coisas atrapalham a vida, passem num psiquiatra e peçam ajuda. Tem medicação e melhora 100% a vida da pessoa!

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