amor,

por adélia prado:

a formosura do teu rosto obriga-me

e não ouso em tua presença

ou à tua simples lembrança

recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.

quisera olhar fixamente a tua cara,

como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.

mas não tenho coragem,

olho só tua mão,

a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta

pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável

que tudo rói e banha e torna apetecível:

caieiras, desembocaduras de desgostos,

idéia de morte, gripe, vestido, sapatos,

aquela tarde de sábado,

esta que morre agora antes da mesa pacífica:

ovos cozidos, tomates,

fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.

recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez de teu lábio que

suporto com dor

e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,

lâmina encostada em teu peito. Fala.

fala sem orgulho ou medo

que à força de pensar em mim sonhou comigo

e passou um dia esquisito,

o coração em sobressaltos à campainha da porta,

disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.

nem é preciso que o amor seja a palavra.

“penso em você” – me diz e estancarei os féretros,

tão grande é minha paixão.

**

amor, por mim: é só e muito sentimento. é compartilhar a vida, os sonhos e ver no outro a sua realização, seu caminho e um futuro. amor, acho, é só uma palavra, e o que temos é muito maior que isso.

hoje é aniversário do meu menino querido. dos poucos amores da minha vida, foi a ele que escolhi pra viver junto pra sempre; dos muitos amores da vida dele, eu fui a escolhida. vejo futuro e passado, sim, porque é sempre mais fácil ver o que não está na nossa frente, mas sinto e vivo o presente e agradeço todos os dias (mesmo os ruins) por tê-lo encontrado na vida. ele me ensina, diariamente, que viver e sentir é mais importante que dizer e pensar e esse é o melhor presente que alguém podia querer.

vejam só como é a vida: o aniversário é dele e o presente é meu 🙂