os becos da internet

eu comentei dentro de um comentário de post meu, há alguns dias, sobre a questão de empresas que estão procurando no google e orkut informações sobre seus potenciais funcionários. em resumo eu disse que se uma empresa não me contratasse pelo que encontrou no meu perfil do orkut, azar o dela.

quero reforçar o meu comentário: azar mesmo. quem procura por mim no google ou no orkut vai encontrar coisas de todo o tipo. de receitas a xingamentos, passando por posts politicamente incorretos. no orkut meu perfil não diz muito sobre meu trabalho e diz um pouco sobre mim — bem pouco. quem procurasse me conhecer pela internet teria dicas do tipo de pessoa que sou, mas acho que ficaria confuso. até porque tenho históricos online desde junho de 2000, e eu mudei muito desde então.

mas eu queria falar é dessa relação das empresas com os registros pessoais na internet: me dei conta de que é possível que alguns contatos profissionais meus leiam esse blog. nunca tinha pensado nisso e nem me preocupado com isso, até hoje — algum anônimo assinando como “profissionais chatas de salvador” ou algo assim deixou recados pouco lisonjeiros nos meus scraps do orkut. eu apaguei, é claro, como aliás apago todos os recados anônimos do orkut e do blog. esse negócio de deixar recado anônimo é patético, não dou a menor bola se tem quem ache que isso é censura. eu execro trotes de telefone, por que não haveria de odiar scraps e comentários anônimos?

então, mas eu falava que me dei conta que meus contatos profissionais podem eventualmente ler esse blog — que é 100% pessoal — e não gostar do que lêem. há, sim, o impulso de auto-censura, afinal o que será que o cliente X ou o colega de trabalho Y vão achar das minhas opiniões a respeito das coisas? o que minha tia vai achar do meu perfil no orkut ter um “bi-curious”? dá uma medinha, sim, mas eu prefiro conviver com o medo do que tentar agradar a todos, até porque isso nunca vai acontecer. eu tenho o direito de ter uma vida pessoal sem que isso afete minha vida profissional (e vice-versa, com muito esforço) e eu tenho o direito de não ser discriminada pelas minhas posturas sexuais, políticas e religiosas. o fato de achar um cliente chatíssimo não quer dizer que não farei meu trabalho da melhor forma possível — uma coisa não tem nada a ver com a outra. ou pelo menos é isso que eu considero ser profissional — minhas crenças pessoais têm seu espaço, eu não preciso exercê-las nas horas de trabalho, necessariamente. é muito bom quando a gente consegue conciliar visões e crenças pessoais com o trabalho, mas isso nem sempre é verdade, e não há nada de errado nisso.

dou-me sim o direito de expressar minha opinião aqui como pessoa física e defendo meu direito de não ser “julgada” profissionalmente por isso. se algum profissional ou empresa o fizer, problema deles — assim como há pessoas estúpidas há profissionais e empresas estúpidos. se não quiserem me contratar ou trabalhar comigo, é um favor que me fazem. de novo, o mundo é muito grande e há espaço pra todo mundo fazer o que gosta da forma que gosta. meu espaço é meu, conquistado, celebrado e principalmente merecido.

então, pela primeira vez nos mais de 5 anos e meio deste blog: colegas de trabalho, sejam bem-vindos, mas saibam que essa que vos fala pratica uma diferenciação clara de postura pessoal e postura profissional. não espere aqui nada do que ofereço nas minhas horas de consultoria — a menos que você pague, e bem, combinados?

0 comments to “os becos da internet”
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  1. Já tive amigos que tiraram os seus blogs do ar por que o superior deles leram o que escreviam do trabalho e então pra não arrumar mais confusão decidiram parar de escrever (por um tempo). Isso é horrível!

    Pior que chefe fuçando no seu orkut é amigo de ex-namorado que quer voltar… dá um rolo… =P

    Beijos!

  2. Eu me auto-censuro o tempo todo. É uma grande merda. Admiro sua postura e espero que você consiga mantê-la. Mas não é fácil. O policiamento, quando vem, vem de todos os lados: do chefe, dos amigos, dos inimigos. Enfim, tô de saco cheio de disso – só queria desabafar, além de mostrar alguma solidariedade.

    bjs

  3. paulo, eu bem sei que isso é uma questão importante pra você e também admiro sua postura, sabe? essa briga entre o que posso e o que devo dizer é saudável — somos, modestamente, muito melhor do que aqueles que simplesmente falam o que querem, sem pensar, e do que aqueles que não falam pelo medo do que os outros vão pensar 🙂

  4. Eu acho, sinceramente, que qualquer comentário anônimo perde imediatamente todo e qualquer argumento. Ponto. Além, é claro, de ser uma carapuça muito bem vestida. Em alguns casos, é praticamente como passar recibo da própria estupidez.

  5. Em mais de 4 anos de blog já tive todas as posturas imagináveis. Já contei nomes reais, já omiti tudo, já fiz posts enigmáticos, e muitas outras coisas. Hoje, a receita que sigo é bem simples: muuuito bom senso ao postar. Conto o suficiente pra cumprir o propósito da obra: manter o log do que estou vivendo e, se possível, sem expor mais ninguém [que cachorro escaldado de água quente foge de água fria]

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