cunhei há alguns anos uma expressão da qual me orgulho bastante: fulano é burguês arrependido. sabe aquela pessoa que tem algum dinheiro (pode até ser muito, mas não necessariamente) mas que se sente culpado por tê-lo, por ganhá-lo, e principalmente por gastá-lo? é o mesmo tipo de pessoa que acha bonito ser pobre digno e autêntico, que fica comovido com a pobreza e sua sinceridade, simplicidade. são os mesmos que, nos fins de semana, vão às hordas para a vila madalena nos bares “descolados” e tomam chopp de 4 reais e capirinhas de 15 num ambiente que “revisita a favela, a cultura doa botecos e dos bares de rua”, tudo muito de raiz, sabe?
eles acreditam na miscigenação, na igualdade social, mas colocam seus filhos em escolas carésimas e compram roupa na uma, na m. officer. mas compram também bolsinhas super-artesanais feitas pelas mulheres costureiras da favela de piripoca da serra, pra incentivar o social, não é?
tudo burguês arrependido — morrem de culpa por terem algum dinheiro, transformam a pobreza em cult e acham lindo aquela gente sem dente, falando errado e com barriga de verme, principalmente se for a uma distância bem segura. ô coisa ridícula — pobreza não tem nada de bonito nem em foto do sebastião salgado, pelo amor de deus! não sei quem disse que “quem gosta de pobreza é sociólogo”, mas é a pura verdade — mania desse povo que se acha intelectual de ver graça em pobreza, glamurizar o que é, na verdade, uma vergonha.
eita que eu acho bacana demais a forma crítica que vc escreve!!! amei!
Concordadésimo com vc! Coisa mais feia que pobre e vida de pobre, banguela, com barriga d’água, vivendo num cubículo de terra batida, com mais 7 ou 8, todos fedidos, só a vida de pobre doente. Quem gosta disso não é normal.
Beijo.
gostar, ninguém gosta… mas q é difícil ter dinheiro num país de miseráveis… ah, isso é! tenho medo de quem é tranquilo demais com essa condição…
joãozinho trinta é o nome do autor da frase… “o povo gosta é de luxo; quem gosta de pobreza é intelectual”… 😀
burguês arrependido… he, he… muito boa mesmo!
beijoca, sheila 😀
Menina, sabe o que isso me lembrou? Uma expressão cunhada por não sei quem, mas que uso frequentemente: ‘turista sócio-antropológico’. D-e-t-e-s-t-o! Sabe aquelas pessoas que vão passear (!?) na favela e acham tudo lindo? O povo, as pessoas, essa gente tão bonita, a simplicidade da vida… Ahhhhh! Ódio! A maior miséria e a pessoa achando bucólico. Eu padeci muito de turista sócio-antropológico quando morei em Salvador, rsss. Adorei o post! Beijo meu.
minha filha, eu moro no país que INVENTOU o burguês arrependido e não sabia como chamar-se a si próprio. Sempre que eu digo que sou brasileira ouço: ah, que legal, quero muito conhecer o Brasil e tal. No começo achei que americano era tarado pelo Brasil (eu sou uma ingênuazinha às vezes) mas depois me toquei. Hoje quando eles dizem isso eu digo logo que é longe, que é quente e que é pobre. É bonito, mas não é pra qualquer americano, não. E que a beleza existe apesar da pobreza, não por causa dela. Favela é um inferno e pronto, no Brasil e no México. E tem pobre aqui também, na esquina, vai procurar. E eles ficam com ódio! Posso fazer nada, né?
É. Corretas palavras.
Hipocrisil né? Mas do genérico, é claro, que é mais glamouroso, mais barato, e você economiza “D
revirei da cadeira de rir com esse post!
Favela agora é moda! É cult! Não vê os filmes, os documentários, a pousada (!) na favela?! Virou ponto turístico minha gente!
olha, gente, o lance de favela cult me dá ÓDIA. eu tou sabendo que tem tour em favela no rio, mas ainda prefiro acreditar que é mentira ou confusão de alguém. é o fim da picada. vamos fazer tour nos hospitais públicos também, pro pessoal ver a pobraiada morrer no corredor, nas macas, que tal? alguém podia até fazer um especial no discovery: como vivem os pobres!