acho que antes de retomar o assunto vou aproveitar pra contar um pouco sobre o delícias cremosas e porque acho que ele não tem muito a ver com a questão que iniciei no post anterior.
PARTE I – gênese
o delícias foi idealizado por mim e pela flavia durante em 2001 por causa de uma discussão de internet: uma moça afirmava no seu blog algo como “mulheres não são amigas, companheiras; homens são amigos mais fiéis” (não foi exatamente isso, mas essa era a idéia) e eu fiquei revoltada, de coração. acho o fim da picada esse discursinho machista de “mulheres são competitivas” e acho mais fim da picada ainda uma mulher repeti-lo. muito bem: tomada pela ira, resolvi com a flavia que criaríamos um blog só de mulheres, falando de coisas de mulheres. o site não foi idealizado para falar de sexo, mas sabem como é, é inevitável que o assunto apareça quando junta muita mulher (ó a revolução sexual encruada!).
na sua versão inicial o delícias tinha perfis variados de mulheres, desde as mais escrachadas até as mais tímidas. o que aconteceu na prática é que as tímidas saíram de fininho, pois as escrachadas “fizeram mais sucesso”. o “sucesso” nesse caso pode ser despertar ódio das pessoas (a maioria homens) ou curiosidade ou surpresa, não importa: o que importa é que parece que preenchemos uma lacuna na leitura internética naquela ocasião.
há quem pense que nos empenhávamos em contar mentiras ou exagerar coisas, mas a verdade é só uma: cada uma escrevia exatamente o que estava com vontade, sem nenhuma regra. deve haver as que mentiam, sim, mas duvido muito que fosse deliberado — sabe a história de mentir pra si mesmo? acho que é mais ou menos por aí. as bravatas sexuais e a agressividade de algumas são características pessoais mas também (na minha opinião baseada em percepção) um gigantesco desejo de agradar os leitores homens ou de reafirmar uma sexualidade distorcida (o que eu chamei de emulação do comportamento masculino). por trás daquelas letras a grande maioria das moças era solitária, carente, desesperada para encontrar um amor e não uma trepada.
esse foi o motivo da minha “saída” do delícias — o incômodo com a falta de auto-análise de algumas das participantes. podem me chamar de radical, mas eu realmente insisto para que os que me cercam adotem a auto-análise como uma forma de vida, eu não consigo conviver com pessoas que não se percebem e não melhoram, não dá. pois eu saí (e foi uma briga feia, acreditem) e as coisas por lá esfriaram. como o blog foi abandonado, eu voltei a ele e pensei em reiniciar com outras mulheres e outros interesses, o que de certa forma funcionou (sem o “sucesso” que os escrachos faziam, é claro) mas faltou tempo, empenho e motivação da minha parte. nesse momento que escrevo eu já nem sei quando foi a última vez que alguém escreveu lá (vou conferir — janeiro de 2006). o delícias não tem propósito bem definido além de ser um blog coletivo de mulheres, e a motivação inicial de provar que a moça-machista estava errada morreu. além disso, o blog acabou nunca provando sua hipótese, porque esquecemos da bobona que nos motivou e nos embrenhamos na diversão de escrever e ter nossos textos lidos, xingados e elogiados. muito mais divertido que discutir com mulher-machista 🙂
PARTE II – voltando à vaca fria
mas voltando ao assunto do post anterior: o delícias nunca teve a intenção de debater a sexualidade feminina, era só uma amontoado de histórias pessoais. o que eu queria é poder ir a um site e ler mulheres falando de assuntos relacionados à sua sexualidade e seus sentimentos, desejos, de forma mais exploratória, sem respostas prontas. eu não quero aprender a fazer boquete e nem saber como fazer para o seu gato ficar louco por você; não quero ouvir histórias de solteiras desesperadas tipo sex and the city (que eu acho uma merda, aliás). quero ler textos e ver fotos que me instiguem a pensar, repensar, experimentar coisas novas. a nerve, que a dani recomendou, é bem legal e acho que vale ler, mas é gringa. eu quero isso aqui em bom português com mulheres de 20, 30 e 60 anos escrevendo e lendo, fotos das nossas belas bundas, dicas de diversão nas nossas cidades, que estejam ao nosso alcance e que principalmente faça parte da nossa vida normal, que não seja algo “escondido”.
uma das coisas que definitivamente faltam para a completa revolução sexual é acabar com a dicotomia sexo/vida “normal”. não quero acabar com a vida privada não, pelo amor de deus, o que eu gostaria é que nossa sexualidade se tornasse algo menos escondido e misterioso. sei que existe o charme de la belle de jour (de dia puta, de noite santa — ou vice-versa) mas, ai, como isso é antigo! eu não quero ter uma vida dividida em duas metades: uma da mãe-esposa-nora e a outra da devassa-luxuriosa. sinceramente isso não faz minha cabeça, eu me sentiria fugitiva de mim mesma, se é que vocês me entendem. concordo que há lugar pra tudo e eu não vou à reunião de pais e mestres do meu filho vestida de dominatrix (idéia divertida, hein? :D) mas também não preciso ser o médico e o monstro, peralá…
mas como lidar de forma natural com sua sexualidade e desejos quando a represália começa em nós mesmas? é como eu disse antes: uma mulher que acha que o cara tem que ter O PAU e que ela tem que mugir feito uma vaca quando goza já entrou no esquemão, ela própria se encarrega de manter o status quo da sexualidade antiquada. outro exemplo? a mania de mulher ficar com mulher — há alguns anos já era moda em NY nas boates a mulherada se agarrar, mas se vocês pensam que era porque tinham tesão nisso estão enganados: era pra arranjar homens, que estavam sempre a postos para fornecer às pobres moças carentes O PAU, porque afinal era isso que elas precisavam. sabe o que é pior? é que era exatamente isso que elas queriam. é a modernidade chegando às técnica de acasalamento, um luxo. se o artifício é consciente, tudo bem, o problema é quando a gente (de novo) mente até pra si mesmo e não percebe que tá procurando abacaxi na macieira.
e, ei: sou a favor da experimentação, não me entendam mal. o meu desejo mais profundo é que possamos nos conhecer melhor e viver felizes e tranquilos com nossas escolhas; que possamos trocar idéias sinceras e aos poucos descobrir a nossa forma de ser feliz. eu funciono melhor em grupo (*hehehehe* :D) e gostaria que existisse um fórum de escrever e ler outros que, sinceramente, quisessem descobrir-se também.
e aí, lá na época da criação do delícias, criamos uma lista de discussão para esse fim. o resultado eu conto em outro post 🙂
Ih, Zel, agora vc puxou minha orelha. 🙂 Vou até repensar sobre esse lance de mulher machista. Acho que sou um pouco ou muito, preciso pensar e repensar. Ai, ai. De qualquer forma, acho bacana sua proposta, porque sou a favorsésima da auto-analise. Nada mais maravilhoso do que se conhecer, tentar melhorar e se aceitar.
Beijo.
querida, segura esse pensamento aí que depois falo um pouco mais sobre isso. c pode até não concordar 100% comigo, mas pelo menos pensamos juntas sobre 🙂
Eu adorava o DC, e minhas preferidas eram você, a Paula Epinion Foschia e a Rê. Achei uma pena quando acabou.
E eu acho esse lance do médico e o monstro o máximo hehehe.
Off-topic-que-faz-tempo-que-queria-dizer: Não dá pra ser o melhor motorista sem ter um carro. O mesmo vale pra maternidade. Pense!
Velhos tempos.
Veja isso:
http://www.dicasdesexo.com.br/padrao.asp?materia=agradar
Estou chocada!
Para mim, foi bom enqto durou.
Valeu para conhecer muitas pessoas legais.
Passar por coisas boas e ruins.
mas, principalmente, para dar muitas risadas.
Mudei muito depois de tudo aquilo. e para melhor, graças a deus.
beijinhos
Eu TENHO que dizer…
Não sei se alguém mais foi olhar o link que fina endor passou aí mais encima, mas eu fui, por curiosidade…
FALA SÉRIO!
O cara que escreveu aquela idiotice (tem que ter sido um cara, porque se foi uma mulher, por favor vamos fuzilá-la)não existe. As pessoas que publicaram essa “matéria”, não existem, não é possível. E as mulheres que comentaram(notem, nos comentários só tem mulheres)e concordaram com esse asno?
Fiquei sem palavras.
A mulherada que lê esse site, tá precisando de material de verdade, gente. DESESPERADAMENTE.
E de vergonha na cara.