um poema de aniversário

o que eu adoro em ti

não é a tua beleza.

a beleza é em nós que ela existe.

a beleza é um conceito.

e a beleza é triste.

não é triste em si,

mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

o que eu adoro em ti,

não é a tua inteligência.

não é o teu espírito sutil,

tão ágil, tão luminoso,

-ave solta no céu matinal da montanha.

nem a tua ciência

do coração dos homens e das coisas.

o que eu adoro em ti,

não é a tua graça musical,

sucessiva e renovada a cada momento,

graça aérea como o teu próprio pensamento,

graça que perturba e que satisfaz.

o que eu adoro em ti,

não é a mãe que eu já perdi.

não é a irmã que perdi.

e meu pai.

o que eu adoro em tua natureza,

não é o profundo instinto maternal

em teu flanco aberto como uma ferida.

nem a tua pureza. nem a tua impureza.

o que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!

o que eu adoro em ti é a vida.

(madrigal melancólico, manuel bandeira)

**

esse poema me foi “dado de presente” pelo gabis, há muitos anos, pois ele sempre viu muito além do que eu via. sim, meu amigo, o que eu adoro em mim, hoje também sei, é a vida 🙂

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