ponto de inflexão

na última quarta-feira, dia 21 de junho, foi aniversário da minha irmãzinha do meio. ok, ela não é assim mais tão irmãzinha assim, mas sempre vai ser minha irmã mais nova, a do meio, e principalmente a do contra 🙂

ela sempre foi minúscula e linda, linda. uma menininha magrela, morena, com cabelões compridos e uns olhos maiores do que a cara. também foi, desde que me lembro, uma peste: encrenqueira, briguenta, teimosa, provoquenta. quando os 3 ganhavam doces era o nosso pior momento: eu e meu irmão comíamos imediatamente, tudo de uma vez, e ela guardava os doces dela todos. quando acabavam os nossos, ela começava a comer os seus, fazendo inveja. ela apanhou muito de nós dois, a irmã mais velha e o irmão mais novo. pra ser totalmente sincera ela era o nosso saco de pancada particular: tudo era culpa dela. os irmãos do meio são culpados de tudo o que dá errado para os demais, não? 🙂

não deve ter sido fácil ser a irmã do meio de dois irmãos bravos, geniosos e briguentos. acho que ela, de certa forma, aprendeu a “driblar” as adversidades que a convivência fraternal oferecia através da discrição — quanto menos me notarem, menos eu apanho!

ela demorou a se transformar em mocinha, ao contrário de mim que com 12 anos já era fisicamente uma mulher. ela foi uma menina-moleca até quase 18 anos. neste anos entre a pré-adolescência e a idade adulta nós nos afastamos de uma forma não dramática, foi acontecendo aos poucos. os amigos, que antes eram comuns, foram se modificando, os interesses diversificaram e praticamente adotamos caminhos (e personalidades) divergentes. chegamos a morar juntas por 1 ou 2 anos, mas foi difícil: tudo o que ela tem de organizada, metódica, disposta e correta eu tenho de caótica e preguiçosa. convivíamos mal até nos separarmos, não sem muitos incômodos e palavras não ditas. era a primeira vez que nos afastávamos de fato, e foi difícil.

só quem tem irmãos sabe o que é amar e odiar alguém com a mesma intensidade, ao mesmo tempo. só quem é irmão mais velho sabe como é querer proteger seus irmãos mais novos ao mesmo tempo que desejamos apertar seus pescocinhos quando vemos as besteiras que fazem. se pudesse, eu tomaria pra mim seus problemas, suas dores, seus incômodos, tiraria suas dores com minhas próprias mãos. mas nos labirintos do cotidiano e das conversas superficiais, só nos mantivemos falando de rotina e problemas, esquecendo o amor nas prateleiras mais fundas do armário.

até que houve um momento de reencontro de meninas adultas, que passaram por dificuldades, problemas, dores individuais. ela teve uma filha linda (que é a cara dela, aliás) e, quietinha como sempre, construiu sua vida tijolo a tijolo, com determinação precisa e constante. e eu, pulando de galho em galho e virando minha própria vida de cabeça pra baixo, como sempre, encontrei nela um porto seguro, uma amiga pra conversar, rir, desabafar e viver de novo as pequenas coisas do dia a dia. reencontrei depois dos 30 um pouco de mim nela: somos mulheres duras, bravas e teimosas por fora, mas doces e derretidas por dentro. brigamos por uma vida melhor, queremos ser felizes. erramos muito, mas queremos, com a mesma vontade de ferro, acertar.

ela, minha pequena do meio, faz aniversário no primeiro dia de inverno do nosso hemisfério. seu aniversário é o último do ano na nossa família e sempre foi marcado por festas de noites frias e fogueiras de comemoração. a chegada do inverno e a celebração da vida dela me fizeram pensar: eu, que sempre fui a cigarra de la fontaine, aprendo com ela o tempo todo como é importante ser um pouco formiga e pensar nos invernos, que voltam todos os anos. ela, depois de mais de 30 anos de convivência, me ajuda a ser um pouco mais adulta e a converter em ações todo o amor que eu sinto. sua vontade e disposição, minha irmã, são exemplos pra mim. quisera eu ter metade da sua energia!

ainda não decidi o que dar de presente, mas enquanto isso fica uma música que sempre me lembra você, irmã querida:

num dia triste de chuva

foi minha irmã quem me chamou pra ver

era um caminhão, era um caminhão

carregado de botão de rosas

eu fiquei maluca

por flor tenho loucura, eu fiquei maluca

saí

quando voltei molhada

com mais de dúzias de botão

botei botão na sala, na mesa, na TV, no sofá

na cama, no quarto, no chão, na penteadeira

na cozinha, na geladeira, na varanda

e na janela era grande o barulho da chuva

da chuva

eu fiquei maluca

(maluca, cássia eller)

feliz aniversário 🙂

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  1. De livre e ESPANCADA PRESSÃO…um post! Só meu! E ainda assim, exigindo esse PARABÉNS on line(que vale mais que qualquer presente), fiquei com lágrimas nos olhos.

    Tá eu sei, choro por tudo, mas esse é meu e tem a sua cara… me vi em cada frase.

    Obrigada. Amo você!

  2. Eu também sou irmã do meio, mas de cinco filhos com personalidades totalmente diferentes. Apesar das brigas (com direito a cabo de vassoura e outros utensílios domésticos), sempre nos demos bem e nunca deixamos de ser ‘bichos’, na hora de defendermos uns aos outros. Acho que irmandade é isso. Viver as alegrias, dores, sucessos e fracassos dos demais na mesma intensidade que vivemos os nossos.

    Fiquei emocionada com o texto.

    Beijo.

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