um pouco de história

o pior é que essa brincadeira dos anões era levada a sério lá em 1995: a léa se empenhava em sacanear os pobres desavisados que entrassem no nosso canal do IRC, o #br, e inventava essa historinha a meu respeito. juro por deus que tinha gente que acreditava 🙂

ok, talvez seja a hora de contar mais a respeito de como conheci a internet: em 1994 eu trabalhava na IBM (em SP) e descobri que exista uma coisa chamada EMAIL, que permitia não só a comunicação interna entre nós da empresa de forma eletrônica (isso já existia) mas também com outras pessoas em outras empresas e universidades. meu primeiro email era ivanise@br.ibm.com ou algo assim e um dos primeiros testes que fiz foi enviar um email ao scott adams, cujos quadrinhos eram publicados na folha de sp com email do ladinho.

(aliás, ele respondeu, pra meu espanto, dizendo estar contente por saber que no brasil o dilbert também era lido. na verdade eu disse que tinha certeza que os quadrinhos tratavam da IBM especificamente e ele respondeu que boa parte das pessoas que escreviam diziam exatamente a mesma coisa a respeito de todas as grandes empresas :))

bem, nessa época eu já andava de saco cheio de trabalhar na IBM e resolvi que ia trabalhar com essa tal de internet. procurei e achei: a USP estava procurando profissionais pra trabalhar no projeto do SIBi (sistema de bibliotecas) de conversão do catálogo de publicações de todas as bibliotecas da USP para a internet. fiz o concurso e lá fui eu trabalhar, em 1995, neste projeto e, de quebra, ter acesso à internet banda larguíssima 24h/dia.

é importante lembrar que em 1994 ainda não se falava de HTML ou browsers por aqui: só tínhamos gopher e email e olhe lá. a primeira vez que usei o netscape foi uma glória e eu me tornei uma usuária descontrolada. nessa época ainda era possível “caçar” alguns sites pelo nome, ainda existia o engraçadíssimo e falecido www.putaquepariu.com e outros tantos. visitei muitos chats (conceito que eu só conhecia dentro da mesma rede, em modo texto) e descobri finalmente o IRC, que mudou minha vida completamente.

no IRC eu descobri uma diversão e um vício desgraçado. mas não posso reclamar: através do IRC fiz amigos muito queridos que mantenho até hoje: norbies, léa, deda, daniel, xambs, henry, lord. conheci um dos meus namorados/maridos (e durou quase 5 anos), conheci muitas outras pessoas que não são tão próximas mas que marcaram minha vida naquela época e servem de referência até hoje.

o canal que a gente acessava quase 24h/dia se chamava #br, nós éramos uma dissidência do canal #brasil que era gigante, cheio de donos e regras. apesar das brigas eventuais, das fofocas e problemas, nos divertíamos muito e fizemos amizades sólidas. uma das coisas que aprendi já naquela época é que fofocas e intrigas no mundo “virtual” são exatamente iguais às do mundo “real”, afinal, são pessoas que estão atrás dos teclados. é verdade que nos permitimos certas coisas atrás do teclado que definitivamente não nos permitimos “cara a cara”. ou vocês acham mesmo que uma figura como essa que veio deixar recados mal-educados aqui no meu blog me abordaria da rua pra me xingar? é claro que não, falta coragem, é claro. da mesma forma é fácil dizer putarias, “eu te amo” vazio, entre outras coisas. exatamente por isso fiz questão, desde essa época, de conhecer pessoalmente as pessoas que falavam comigo através das letrinhas. nunca me contentei com esses relacionamentos de emails, chats e coisa parecida. eu acho pouco, sempre achei.

descobrimos, ainda na década de 90, o meridian59, primeiro RPG gráfico online. vários de nós, do IRC, fomos beta testers desse jogo e ficamos (de novo!) viciados: era uma vida dentro da nossa vida. a gente nascia, morria, casava, brigava, formava guildas, vendia e comprava, uma coisa de louco. foi uma das épocas mais divertidas da minha vida nerd, eu confesso: íamos pra um boteco toda sexta à noite pra falar besteira e decidir como íamos conquistar o mundo virtual 🙂 fomos visitar nossos amigos lá no recife (um encontro gigante, dezenas de pessoas, sensacional), no rio de janeiro (na casa das três irmãs lindas: mari, juli e carol), viajamos pra tudo que é canto conhecendo gente.

é engraçado que não vejo muito hoje em dia esse desejo de conhecer pessoalmente aquelas pessoas com as quais falamos por email ou blog ou orkut. mas é claro que pode ser só a visão de uma anciã de internet que acha que os “jovens” não são como éramos antigamente… 🙂

veio o ICQ, que foi outro problema na minha vida online (como trabalhar e estudar com aquele negócio ligado o dia todo?) e gradativamente o IRC acabou pra mim. mais ou menos na mesma época em que abandonei o IRC criei meu primeiro blog, em junho de 2000. não entendia muito bem o que era isso mas achei divertido e aqui estou até hoje. o ICQ foi abandonado, acabei me rendendo ao MSN e aprendendo a não ficar batendo papo o dia todo.

há 2 semanas (vejam as coincidências…) eu tive a curiosidade de reler meus arquivos, desde o dia 1 deste blog. li 2 anos inteiros com um misto de tristeza, vergonha e espanto: eu era outra pessoa. a figura que deixou o recado aí embaixo é completamente retardada ou é só maldosa mesmo (ou ambas as coisas, sei lá) porque é absolutamente óbvio que eu mudei muitíssimo e meu texto mudou junto comigo. confesso que tenho vontade de apagar meus arquivos (e talvez um dia eu apague mesmo) mas por outro lado eles me lembram da minha história, dos meus interesses passados, das minhas experiências. ter isso tudo arquivado por 6 anos com periodicidade diária é um privilégio e um presente pra quem deseja se conhecer melhor. não vou abrir mão disso por vergonha de admitir quem eu já fui, não mesmo.

numa listinha dessas de perguntas e respostas tinha algo como “do que você se arrepende?” e eu sinceramente poderia fazer uma lista infinita. mudaria muita coisa pra deixar minha história mais bonita ou menos constrangedora, mas acho que também faz parte do processo de mudar sentir vergonha do que se foi. se, olhando pra trás, eu me identificasse totalmente comigo mesma com 28 anos, alguma coisa estaria errada 🙂

são 6 anos de blog e 12 anos de uso intensivo da internet e eu já me acostumei com os malucos-escondidos-atrás-do-teclado, com os mentirosos compulsivos, com os anônimos furiosos, com as surpresas boas de pessoas interessantes que vira e mexe aparecem no meu caminho. mas eu ainda não me acostumei comigo mesma refletida nesse espelho distorcido das letras em páginas HTML. e, é claro, não me acostumei com quem acha que isso aqui, essa página HTML, sou eu. será que certas pessoas não vão se tocar nunca, meu deus?

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  1. Eu me esforçando tanto para parecer novinha e a outra vem e entrega que eu tenho mais do que doze anos! *humpf*

    Sabe que eu tenho pena dos mintirosos compulsivos? Porque eu só consigo imaginar que vida miserável leva alguém que precisa viver uma fantasia jamais realizável e que prefere viver as relações interpessoais através deste farsa.

  2. Lembrei de 2 coisas agora.

    1- Um post antigo da Giu que resume bem esse lance da pessoa achar que te conhece só via blog: (vou colar)

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    Comunicado à Imprensa: o que escrevo aqui são pequenos retalhos do que acontece na minha vida. E no meu pensamento, também. Quem lê está livre para fazer sua colagem, lógico. Mas tenta lembrar que cubismo é bonito, mas não é fotografia.

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    2- Um post teu(do ano passado, acho) sobre stalkers.

  3. Eu tenho sim muuita vontade de conhecer a maioria das pessoas que conheço só pela internet. Infelizmente conheci muito poucas, mas em compensação foram encontros perfeitos. Gente do bem.

    Tu és uma, que o dia que eu estiver em Sampa, vou querer convidar pra tomar um pingado e comer um pão com manteiga 🙂

    Beijo pra ti.

  4. sabe que o que eu mais gosto no meu blog não é o fato de continuar escrevendo todo dia, mas de poder ter lá um arquivo do que eu fui. é constrangedor pensar que alguém pode ler alguma coisa do meu passado, alguma coisa que eu não me orgulhe de ter escrito, mas é bom reler de vez em quando e ver que, sim, eu mudei pra melhor, ainda bem. acho que nunca vão deixar de ‘ler’ a gente como se realmente fossemos só html. mas tou aprendendo a deixar pra lá quem se importa só com essa imagem, eu sou mais que isso, você também é e os malucos-escondidos-atrás-do-teclado que se danem. 😉

  5. Sabe o que o mais legal da Natasha depois dela ler-o-que-odeia, é a menina é um paradoxo, ela diz que a zel não cansou de brincar de escrever em blog, e quando vê, ela também tem um blog. Hawhawhawhawhawhawhaw essa menina está atingindo um grau de elevação espiritual muito grande, quero ser seu primeiro aprendiz. Me escolhe valeu Natasha, quero compartilhar esse grau de sabedoria.

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