o zoológico de sampa num domingo de sol

as fotos estão aqui, a história eu conto no fim de semana, neste mesmo post. agora a bateria do note está acabando e a minha também 😀

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antes de falar do zoológico, uma frase do agent smith de matrix:

“I’d like to share a revelation that I’ve had during my time here. It came to me when I tried to classify your species. I realized that you’re not actually mammals. Every mammal on this planet instinctively develops a natural equilibrium with the surrounding environment, but you humans do not. You move to an area, and you multiply, and multiply, until every natural resource is consumed. The only way you can survive is to spread to another area. There is another organism on this planet that follows the same pattern. A virus. Human beings are a disease, a cancer of this planet, you are a plague, and we are the cure. ”

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eu tenho uma relação de amor e ódio com zoológicos. ao mesmo tempo que amo e admiro todos os animais — o que é uma forma indireta de amar a natureza e, quem sabe?, deus — fico muito triste por vê-los encarcerados, “na vitrine” para nossa visitação. a idéia de tirar um animal de sua terra natal e colocá-lo numa jaula realmente me incomoda. então os passeios ao zoo são sempre uma mistura de encantamento e indignação, talvez na mesma medida. acho que a observação dos animais, seja na TV, zoo, em casa ou na rua, me devolve a dimensão do milagre que é a vida, o mecanismo incrível que são os seres vivos. são todos pequenos (ou grandes) milagres ambulantes.

e as pessoas, que também se enquadram na categoria dos animais? sinceramente, acho uma afronta ao reino animal a nossa mera existência. somos seres patéticos, arrogantes e extremamente burros na medida em que não respeitamos o sistema que nos rodeia. nossa trajetória evolutiva é admirável e talvez o homem tivesse sido o animal mais extraordinário de toda a criação, não fosse sua total incapacidade de cooperar com os demais elementos da natureza. a humanidade não é auto-sustentável. agent smith tem toda razão: nos comportamos como um vírus, e nada nos deterá até que o nosso hospedeiro esteja morto (o que nos matará por conseqüência, mas somos burros demais pra perceber e seguimos adiante).

voltando ao zoológico: o parque recebe 15 mil pessoas num domingo. não há um só lugar em todo o parque em que seja possível observar os animais em silêncio e paz, procurando perturbá-los o mínimo possível. todas as pessoas gritam, assoviam, batem palmas, “chamando” os animais, esperando que ele se comportem como animais de circo. elas querem espetáculo, não querem vida.

as crianças correm e gritam, jogam papel de sorvete no chão (os pais também), xingam os animais quando eles não aparecem ou não fazem o que eles gostariam que fizessem. olho ao redor e tenho a sensação incômoda de que deveríamos nós ser encarcerados e deixar que os animais andem soltos. grande parte das jaulas é protegida por vidros, não exatamente para nos proteger dos animais, mas para que ninguém joge coisas lá dentro. as fotos ficam prejudicadas, mas até achei bom: protege os pobres animais dos gritos histéricos dos que estão do lado de cá.

e câmeras, muitas câmeras com flash na carinha assustada dos pássaros, dos bichos todos. lá na entrada está escrito em letras garrafais: NÃO USE FLASH. NÃO JOGUE NADA DENTRO DAS JAULAS. as pessoas usam flash, jogam coisas dentro e fora da jaula sem nenhum pudor. gritam, empurram, são mal-educadas.

tem um quadrinho do calvin que, depois de uma conversa com o hobbes, ele tira a roupa e sai andando, virando as costas pra humanidade. essa, de coração, é minha vontade. a forma com a qual nos relacionamos com a natureza e as vidas que nos cercam não é digna, nós não merecemos viver entre criaturas tão extraordinárias.

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e há também os que arrancam flores, cortam árvores, jogam lixo na rua, na praia, no mar, nos rios. sem nenhum pudor, incômodo, nada. preste atenção ao fumante mais próximo e veja como ele não se incomoda em jogar cinzas e resto de cigarro no chão, além da fumaça fedorenta e tóxica no ar que você respira. olhe os carros e caminhões com fumaça preta na rua. consumir recursos é parte do ciclo da vida: matar, comer, cortar árvores, vegetais, produzir coisas. a impressão que eu tenho é que esquecemos que também nós fazemos parte do ciclo da vida, somos parte da natureza e não estamos ACIMA dela, ela não está aqui para nos SERVIR. o encantamento e respeito pela vida, seja qual for a forma que ela adote, desapareceu, dando lugar ao politicamente correto, aos engajamentos idealistas ou à indiferença total.

esse é um mundo muito triste de se viver, às vezes. minha sorte é que, por mais que eu queira, não consigo deixar de me emocionar e admirar o milagre absurdo que é a vida, mesmo a desses seres imbecis que são os humanos. vira e mexe aparece alguém da nossa espécie que me faz sentir feliz por ser humana. e sempre há os crocodilos, que me lembram que a natureza é sábia e paciente: só os mais aptos sobreviverão.

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  1. Zel, só duas coisas, porque estou saindo e não dá o tempo pra dizer tudo o que eu gostaria:

    1 – Eu tive o desprazer e o assombro de ver uma vez, num zoológico de uma cidade pequena, o seguinte cartaz na jaula dos macacos: NÃO JOGUE PEDRAS NOS MACACOS.

    O que se pode dizer quanto a uma coisa assim??

    2 – Já lhe disse que sou fumante, lembra? Pois eu sempre tive orgulho de respeitar o direito do outro. Sempre cuido aonde vai minha fumacinha, não fumo em lugares proibidos (nem na casa de quem não gosta). Inclusive, quando fomos ao Cabo Polonio, por exemplo, como não há lixeiras, pois é tudo meio selvagem, eu andava com uma latinha na bolsa de praia, pra usar de cinzeiro. E não deixei nem um filtro atirado.

    Mas, como diz minha mãe, “cada cabeça, uma sentença”. Não conheço nem nunca conheci ninguém que tivesse o mesmo cuidado. Bléh.

  2. Bravo! Bravíssimo! Assino embaixo de tudo! Cada vez tenho mais nojo da maior parte da humanidade. Tenho muita raiva quando alguém querendo dar um tom pejorativo chama outra pessoa de animal ou bicho. Ser humano sim é um xingamento!

  3. Ni, para acalmar sua consciência, todos os animais que estão no zoológico são rebentos de várias gerações de animais que sempre viveram em cativeiro. Ou seja, não animais que perderam completamente o instinto selvagem e que se acosturam desde que pequenos a serem alimentados por pessoas. O erro foi no primeiro momento em que tiraram aqueles animais da natureza, de lá para cá, eles apenas se reproduziram em cativeiro.

    Agora o zoológico mudou muito, agora eles têm espaço que simulam seus habitats, quando eu era pequena o leão ficava literalmente em uma jaula com chão de cimento e grades como uma cadeia.

    Ah, eu concordo que somos o vírus deste planeta. Mas também somos a cura. Podemos destrui-lo e é o que estamos fazendo, porém somos os únicos habitantes que podem salvá-lo [de nós mesmos].

  4. Zel,

    Eu nem sou tão fão de bichos, mas não vou a zoológicos e nem a circos que tenham animais. Morro de pena dos bichos. Circo só se for de Soleil.

    Nospheratt, concordo plenamente com vc. O respeito pelo outro é fundamental. O fato de não haver lixeiras não dá o direito de jogar o lixo no chão. Na areia da praia não tem lixeira e sempre vejo gente juntando a sua bagunça na hora de ir embora para jogar no lugar certo (pena que não todos). Devia ser assim em todo lugar, em todos os momentos.

    Uma coisa que tb considero o cúmulo do desrespeito é levar o cachorro para fazer as necessidades na rua. Se a pessoa não quer limpar o que o animal faz, então não deveria ter cachorro.

  5. O zôo de SP é ótimo, grande, com ambientes que simulam o habitat dos bichos. O do Rio é mais deprimente, mais zoológico antigo, com jaulas menores. Tem que lembrar o trabalho de estudo e conservação que eles fazem naquele pedaço todo que fica fechado ao público. Não sei se no Rio também fazem isso.

    Lembro de uma matéria que fiz no biotério do zôo de SP uns bons anos atrás, fiquei fascinada. Vi corujas, lagartos, vários bichos. Só não pude ver os filhotes de felinos pq era dia de folga da veterinária responsável e ela levava os filhotes para cuidar e dar mamadeira em casa. Vê se pode? 🙂

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