tive uma iluminação hoje, durante meu banho de 15 minutos: a gente começa a ser feliz nos relacionamentos quando aprende a começar pelo começo.
é, eu sei que parece uma coisa boba ou simplória, mas vem comigo: quantas vezes você se pegou pensando, procurando ou querendo algo como achar aquela pessoa que quando seus olhares se cruzarem o mundo vai parar e os anjos vão cantar? aquela pessoa que logo na primeira vez que vocês se virem ou se falarem vai parecer que se conhecem a vida toda, ou alguém que encante você porque gosta das mesmas coisas e é quase como se lesse seus pensamentos?
tenho a impressão que essa expectativa ou desejo é como querer começar uma jornada partindo do topo de uma montanha. só existe um caminho quando se começa por aí: pra baixo. eu já me apaixonei algumas vezes pela imagem (real ou projetada por mim) de alguém maravilhoso, brilhante, tão sensacional quanto a vista do topo de uma montanha. fiquei sem ar, eufórica, encantada, esquecendo que não se pode ficar ali no topo da montanha pra sempre. quando a descida começa (e ela SEMPRE começa) é quase como uma flor se despetalando: vão caindo uma a uma as máscaras, as imagens bonitas, o sol some atrás da montanha, tem pedras no caminho e nem sempre aquele alguém super maravilhoso te dá a mão. chega um ponto da história que você olha praquele ser que era tão maravilhoso lá no topo da montanha e ele agora é… comum. o que mesmo eu vi ali?!
entendi, nos tais 15 minutos de banho, como é importante construir relacionamentos. e eu não estou falando de casamento ou namoro só, não. vale pra amizades, relacionamentos profissionais: é tudo tão melhor quando as coisas começam pelo começo! descobri, graças a algumas pessoas low-profile que apareceram na minha vida (incluindo o marido), que se apaixonar aos poucos e gradativamente é delicioso! como é divertido e saudável se interessar por alguém e montar o quebra-cabeça, vendo a figura aparecer devagar: subir a montanha juntos, passando pelos buracos, borboletas, pulando pedras, dando a mão na hora que ficou difícil, sorrindo quando as coisas dão certo. vai rolar bate-boca, emburramento, teimosia, claro, mas tudo isso também faz parte do pacote. num relacionamento que parte do começo os defeitos do outro não fazem o sentimento se enfraquecer, pois a base foi bem construída. a gente quer crescer e melhorar junto com o outro e não fazê-lo encaixar de volta, à força, naquela primeira falsa imagem.
chegar ao topo da montanha e ver o mundo de cima, após todo um caminho trilhado, é um momento de alegria conjunta, que tem história, e dá vontade de começar a descer e procurar a próxima viagem. não faz mal se em algum momento qualquer um dos dois seguir por outro caminho: o que se construiu ali é real, sólido e não ilusão.
aprendi, do jeito pior, que essa mania de iniciar as histórias do topo da montanha é e sempre foi escolha minha. sempre me senti atraída por pessoas que aparentam ser muito melhores do que realmente são, que se vendem como uma vista maravilhosa do topo da montanha e, por trás de todo o marketing, são só o terreno baldio ali do lado. que aliás pode ser bem legal, mas não serve quando o que você comprou foi a vista dos alpes quando o sol nasce.
me surpreendi hoje com a mudança que sofri (e como essa palavra é adequada!): comecei a me interessar pelas pessoas que são maravilhosas mas que não precisam fazer auto-propaganda pro mundo. tenho tido prazer em perceber as maravilhas discretas de pessoas que não querem ou não precisam convencer a todos que elas são sensacionais. não quero mais me aproximar de egocêntricos, gênios auto-definidos, gentes super-populares e principalmente de quem se vende como a bolachinha mais gostosa do pacote. não houve uma só vez que eu não me decepcionasse com alguém que se vende nessa última categoria. pessoas que precisam aparecer demais são, sempre, carentes e não sabem exatemente o que querem da vida. acreditem em mim: eu sei como é.
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enquanto pensava nisso, fiz uma auto-crítica: mas e eu, não sou um pouco assim? sou (pensei imediatamente). mas não, não sou mais, não adianta negar e nem espernear: eu FUI. é um fato, eu mudei. sim, eu continuo extrovertida, sim eu gosto de atenção, mas eu simplesmente não me posiciono mais como a bolachinha mais gostosa do pacote (como eu fazia) e não é porque eu percebi que não sou (como se alguém fosse de fato :)) mas porque não precisa mais, não tem porquê. eu não sou mais aquela mais pulante e alegrinha de uma festa, eu não mais aquela que conta todas as piadas numa mesa de bar e flerta com todo mundo e faz insinuações que não pretende cumprir. acho que achei meu botão de “tunning” e ajeitei o meu volume (pra baixo, claro) 🙂
a claudia foi a única pessoa até hoje que quando me conheceu, já na primeira vez, viu exatamente como eu sou. ela não se deixou enganar pelo meu volume extra-alto 🙂 lembro como se fosse hoje dela dizendo “guria… quando te lia eu morria de medo de você, apesar de te achar ótima. mas você é completamente diferente do que eu pensava, é uma coisa fofa, doce, querida! como pode?”
já não pensava nisso há anos e hoje lembrei daquele dia na lagoa, ela me olhando daquele jeito que parece que vê bem dentro da gente. ela viu uma eu que eu mesma não via muito bem na ápoca. vocês aí podem ter vários tipos de impressão a meu respeito através do meu texto, mas não se deixem enganar: eu sou uma pisciana disfarçada de leonina. jamais vou conseguir baixar demais o meu volume, mas o que toca e sempre tocou aqui é cool jazz e um pouco de bossa nova. se eu fosse um lugar, seria definitivamente um lounge 🙂
Meu Deus. Eu realmente poderia ter escrito isso. Pisciana disfarçada de ariana, sabe como é… rs
Tô procurando o meu botão de “tunning” tb . Mas no meu caso , acho que preciso aumentar o volume … rs. Beijos. Felicidades pra você.
Sabe que é engraçado… às vezes eu penso se não estou te imitando demais ou se estamos em sintonia com o mesmo planeta… risos…
Mas me desfiz de um namorado egocêntrico demais faz uma semana, e sem remorso nenhum apesar de estar tão envolvida com ele a ponto de não enchergar o mal que ele me fazia… pra perceber o mal que ele me fazia precisei de análises com psicóloga às vezes parece que a gente não podia ser nada sem uma… mas só às vezes né…
Quando eu crescer quero firmar relacionamentos que nem você =D
Fica bem, linda!
Zel,
Adorei o texto! Mas estou te escrevendo pelo seguinte: Lembrei de vc hoje! Apesar da gente não se conhecer pessoalmente. Por te ler há tantos anos, acabo te trazendo para o meu mundo…Estava passando os canais da TV e vi que no Sítio do Pica Pau há a personagem de uma princesa que fica o tempo todo enroscadinha com um furão! Muito fofo! Ele dá lambidinhas, brinca com a peruca dela….rs! Fiquei com vontade de ter um!
bjos
Que conste dos autos que teu MT foi atualizado à versão 3.31 hoje, a esta hora, nesta cidade, para efeitos da lei. 😛
Zelindia,
O bordado que você tece para falar aqui de relacionamentos, é um post para guardar e reler… Escalar montanhas, correr atras de borboletas, sair ou desviar de buracos,o que for, só se for à dois, já dizia Cazuza… 🙂
Muito saber que você lembra do dia em que nos conhecemos com este carinho… é verdade, eu morria de medo, ahahahah
Mas quando te vi, enxerguei uma pessoa tão doce e ao mesmo tempo tão densa e intensa que me apaixonei. Na verdade, deixa eu ser menos reservada e rasgar uma bandeira aqui: você é que é uma pessoa apaixonante! 🙂
beijo enorme!
Dá uma pontinha de orgulho, que nos faz sorrir sozinhos meio tímidos, perceber que nossa postura mudou para melhor, amadureceu, né? 😉
Beijo.
Oi, Zel. Tudo bem?
Nós nos conhecemos há um “tempinho” atrás, na época do Delícias Cremosas. Chegamos a ir juntas com a Lia , o Conrado e uma outra turma em um barzinho na Vila Madá.
Mas bem, esse coment não é sobre isso… É sobre o teu post realmente iluminado e lindo. Dá gosto de ler e se identificar com as tuas palavras. Você devia juntar os mais inspirados e escrever um livro. 🙂
PS: Eu leio teu blog via RSS. É realmente o máximo.
Um beijo e tudo de bom para ti,
meninas, meninos, um beijo a todos. vocês são uns queridos.
acho que melhorar é muito bom, mesmo, dá um orgulho sim! mas bom mesmo é ter uma história pra contar, né? eu fico às vezes pensando como vai ser quando eu tiver o dobro dessa idade (jesus… 68 anos!), quanta coisa mais eu vou ter aprendido?
quem sabe com essa idade eu resolvo escrever mesmo um livro 😀
Amore (agora que eu LI o post, hehehe…),
Hoje (ontem?) você conseguiu dizer muito do que eu já gostaria de ter dito, mas não tenho ainda a estrutura, a quilometragem, ou sei lá, a iluminação. Mas eu sinto.
Eu amo me apaixonar, você sabe disso, amo me sentir amando e sinto muita falta disso — o que venho tentando trabalhar e aprendendo a não projetar. Mas sabe, as histórias que mais mexeram comigo foram justamente as que começaram com um ar de “o que eu tô fazendo aqui?”. Eu construo os meus afetos e gosto mesmo é do processo de ir dando os pontos e ir se costurando afetivamente. É bem verdade que eu erro a mão, mas tudo bem, a gente aprende.
Ah, sim, você é pisciana, sem dúvida. E foi sempre esse caldo de emoções em você que me encantou — o leão mandão-truculento-aparecido sempre foi o meu problema, mas isso nem é novidade, nem eu sou santo. Você é pisciana, amore. Um peixe-leão, mas peixe. 🙂
É incrivel a capacidade que você tem de externar pensamentos e sentimentos com tanta clareza e riqueza de detalhes, acho que não há quem leia e não se identifique…Zel sou tua fã!