no dia 11 de setembro de 2001 eu estava na ilha de elba, na itália, de férias. voltando da praia, horário de almoço, liguei pra minha mãe pra dar um alô e ela me contou, espantadíssima, que um segundo avião tinha acabado de atingir a segunda das torres gêmeas de NY. foi uma coisa estranha de imaginar, só consegui entender a magnitude do negócio quando vi na TV as imagens absurdas, quando vi os americanos no ferry boat chorando, abraçados com seus filhos.
eu chorei um pouco também, tive pena dos que morreram naquele dia. mas não posso negar que parte de mim ficou exultante com tamanha audácia dos terroristas. uma parte de mim simpatiza com os que odeiam os estados unidos e seu desperdício, seu descaso para com o restante do mundo, a mania de se intrometer onde não é chamado e de usar o poder para conseguir tudo o que quer, não importando as conseqüências.
não me considero do mesmo time do michael moore e outros críticos ferrenhos do sistema americano; eu, pessoa simples, tenho pensamentos e sentimentos simples: os estados unidos representam o tipo de sociedade bem sucedida que eu mais abomino. talvez seja o único país civilizado do mundo no qual eu não moraria de forma alguma, simplesmente porque me recuso a fugir ainda mais da realidade e viver no horroroso “sonho americano”.
não nego que esse jeitão americano de viver tem seu lado bom: estabilidade econômica, alguma segurança, algum nível educacional, algum apoio à saúde, todo o apoio para o consumo. é mais ou menos como viver nos jardins aqui em SP (ou qualquer outro bairro ou cidade civilizada e isolada dos problemas sociais) com bastante dinheiro. eu tenho amigos aqui em SP que nunca andaram de ônibus nas suas vidas e nem nunca chegaram perto de favelas ou coisas assim. eles vivem isolados nas suas bolhas (frágeis, é verdade, porque a pobreza vem aos poucos invadindo essa bolha), mais ou menos como os americanos vivem nas suas bolhas gigantes. existe pobreza, violência e injustiça por lá também, se é que vocês não sabem (eles às vezes também não sabem). mas de um país que ensina na escola que eles NÃO perderam a guerra do vietnã, o que podemos esperar?
mas voltando ao atentado e ao que ele me fez sentir: pena (dos civis), admiração (pelos terroristas, resultado do “lado b” dos estados unidos) e principalmente uma sensação estranha de que há uma certa justiça (ou balanceamento, se preferir) neste mundo, que nem sempre os poderosos podem tudo e os que vivem sob seu jugo não podem nada. e essa é a parte que eu acho genial sobre esse episódio: o ataque provou que os estados unidos, com toda sua arrogância, não são inatingíveis. mais que isso: fez com que muitos americanos acordassem e vissem um pouquinho além da bolha.
tenho um amigo americano, novaiorquino, que me contou (alguns meses depois do ataque) que ele sentia uma mudança geral na cidade, nas pessoas. que por pior que tivesse sido o episódio, ele serviu para trazer à cidade mais arrogante do país uma certa humildade. é um reflexo do que acontece conosco, indivíduos, quando somos confrontados com a morte (nossa ou dos que nos são caros): percebemos que somos humanos, simplesmente, e que a vida é mais importante que dinheiro, bens, poder.
é claro que, tratando-se de uma nação tão grande e arrogante quanto os estados unidos, a destruição das torres gêmeas é somente uma ferida incômoda no corpo de um gigante; mas a iminência da morte, a dor e principalmente as cicatrizes são importantes pra lembrá-los que eles são, igualzinho àqueles que morrem todos os dias nas guerras promovidas e financiadas por eles próprios, somente humanos, e também podem deixar de existir em um instante.
eu, indivídua, aproveito esse marco na história do mundo moderno para pensar em tudo o que nos faz humanos: arrogância, ganância, vingança, inteligência, violência; e também (nem sempre na mesma medida) compaixão, perdão, solidariedade, arrependimento, redenção.
Ontem, assisti a mais um documentário, na History Channel, sobre o ’11 de Setembro’. Sou solidária às famílias e amigos que perderam seus entes queridos (como também me incomodo com a violência e a miséria que vejo todos os dias na rua, na TV, em todo lugar), mas não posso negar que me regozijo com a fragilidade do poderio dos EUA e com a imbecilidade e a covardia do Bush e seus assessores, que subjugaram os ataques terroristas.
Abraço,
Cris.
Contribuição de amigo castigado pela necessidade de permanência na terra do tio Sam nos últimos tempos, vale? Então anote aí… talvez seja predisposição minha (detesto os EUA!)… mas pra mim, o perfil dos nossos amigos do norte não mudou o suficiente para ser mencionado como perceptível… E essa conversa do replay interrompido dos ingleses, para mim (e acho que também para o Michael Moore! :D) soa mesmo é como excesso de produção na linha da indústria bélica… desaguar, desaguar… 🙁