eu já falei disso, as revistas já falaram disso e mais mil gentes já falaram disso, eu sei. mas o assunto é interessante e principalmente importante, senão a nossa amiga corna conformada não ia colocar sua carinha esticada no comercial de iogurte que faz cagar, certo? vamos contribuir para essa questão tão essencial do cocô ou da falta dele.
mas antes de começar, uma historinha fofa (senão não sou eu, né?): imaginem uma menina pequenininha, aprendendo a fazer cocô na privada sozinha e dar descarga, aquela coisa que depois tem gente que esquece que aprendeu. fazer cocô era tranqüilo, o problema era dar a descarga: a menina não queria dizer adeus ao cocô! aquela obra de arte, produto das engrenagens do seu corpinho, era dela e ela não queria deixar ir embora, não, não. pois que sua mãe, a irmã mais velha e o pai tiveram que inventar e praticar por mais tempo do que desejavam o ritual do cocô, que era praticamente uma cerimônia funerária, um rito de passagem. na presença do cocô, ali na privada esperando, todos falavam de como ele (o cocô) era importante e querido de todos e que quando ele partisse todos sentiriam muito a sua falta. diziam que, de coração, desejavam que sua jornada (a dele) para o além-dos-cocôs fosse tranqüila e que ele encontrasse a merecida paz. a menina, comovida, deixava escapar sempre uma ou outra lágrima e, após completado o ritual, apertava a descarga enquanto todos acenavam (com as mãos, sim, não era simbólico) e diziam TCHAU, COCÔ!
essa é uma história real, saibam vocês, e infelizmente não é minha.
mas agora vou à minha história, muito menos legal porém instrutiva. já tive intestino preso, faz uma dezena de anos. mas não me lembro de ficar muito incomodada com isso, pra ser sincera, era mais uma característica que um problema, entendem? muito bem: por motivos outros que não esse, resolvi, lá pros meus 25 anos, procurar o edu, irmão do norbies, que é médico e homeopata (além de ser gatinho e um amor de criatura) para uma consulta.
como bom médico, ele perguntou tudo sobre mim, tudo mesmo, inclusive a respeito do funcionamento do intestino. expliquei que era preso e tal, e ele pergunta “mas… quando você te vontade de fazer cocô, você vai lá e FAZ?” parece uma pergunta boba, não? pois não era, pelo menos não no meu caso.
faço um aparte aqui, antes de seguir, pra explicar que diferente de algumas mulheres que conheço, não acho feio ou pouco feminino admitir que mulheres sentem fome, peidam, fazem cocô, xixi ou arrotam. é sério: tem mulher que acha que se peidar ou demonstrar apetite os homens não vão gostar mais dela, é como se ela fosse menos mulher. é óbvio que não acho bonito peidar em qualquer lugar (seja mulher ou homem, aliás), por exemplo, mas não precisa ficar neurótica e entrar no modo negação-das-funções-corporais, né?
aliás, mais um parêntese: que coisa mais broxante é mulher que não come! seja porque está de dieta, seja porque de fato não tem apetite, são umas chatas sem graça. na mesma medida, nada é mais tesudo que uma mulher comendo com gosto (ah, nigella, nigella…)
mas voltando àquela época: se eu estivesse ocupada, fazendo alguma coisa que me interessasse e viesse a vontade de fazer cocô, o que eu fazia? respeitava o impulso fisiológico e ia lá dizer tchau pro cocô? nãaaaao! eu ficava exatamente onde eu estava, tipo “olha aqui, seu cocô, quem manda aqui sou EU, certo?” seu cocô, paciente e sem opção, por ali ia ficando, até que eu ficasse desesperada pra me livrar dele. em outras palavras, o momento da vingança do meu corpo. nada agradável.
percebi, depois desse papo com o edu, que eu vivia contrariando minhas funções fisiológicas, todas elas: sono, fome, sede, xixi, cocô. digam OI para a louca do controle, é isso aí. como se fosse possível controlar o nosso corpo além dos limites necessários. aliás, mesmo que seja, por quê? qual é o propósito? isso pra não dizer de tudo o mais que eu sempre tentei controlar, mas é assunto pra outro post.
ele me disse, com a simplicidade que lhe é típica, “quando tiver vontade de fazer cocô, xixi, pare tudo o que estiver fazendo e vá. o problema vai se resolver, você vai ver”. sou controladora, é verdade, mas também sou flexível: se é pra mudar e é pra melhor, é comigo mesma, eu levo a sério. comecei a fazer como ele havia dito, de forma bem simples, e adivinhem? nunca mais tive o intestino preso desde então. tudo funciona perfeitamente bem e (só pra me provocar) de forma totalmente imprevisível 😉
aí que eu vejo a propaganda do iogurte que faz cagar pras mulheres e o iogurte que faz cagar na hora certa pros homens (já viram isso? o iogurte que te faz cagar de manhã, ou coisa parecida? um horror!) e grito pra TV: por que vocês não escutam quando o cocô quer dizer tchau?!
ouçam quem já errou e aprendeu: deixem o cocô ir, gente. e caguem pros iogurtes-milagrosos 😀
…e comam salada à noite! Otimo, Zel. Soh tu mesmo pra escrever um texto desse sobre cocô e ser otimo.
Ah Zel, eu só das turma da mulheres que não tem apetite, não gosta de comer um monte de coisa, mas sou legalzinha viu?…Ou não? Ai,ai,ai, você e esses seus posts que fica cutucando a gente!
Mas na verdade queria mesmo é dizer que sua casinha ficou liiinda! E democrática! Adorei! Parabéns para você e para o Weno (esse rapaz é danado heim?)
Beijos!
Alda (a ex-ilustre desconhecida, pois eu te visito há um tempão e vc nem sabia!)
ah! como eu geralmente leio seus posts depois da meia-noite, tentei postar um comentário e ele não foi por problemas técnicos óbvios!
Melhor, assim poupo você de tanta besteira hehehe
Mas você não é a única que passou pelo período eu-quem-mando-e-agora-eu-digo-que-você-fica!
Beijinhos
Tá lindo o blog!
Zel a casa nova ficou linda.
Eu tenho intestino preso, mas sempre achei que era o meu normal, tipo eu faço menos cocô que o resto do mundo, olha a modéstia. Lendo seu post percebi que talvez eu esteja querendo controlar meu corpo mais que devia. Vamos ver se comigo resolve.
Foi bom, agradeço a você e ao doutor gatinho;).
rosa, não posso dizer com certeza se vai funcionar pra você, mas pra mim o problema era esse mesmo. depois desse “evento”, tudo mudou. meu intestino continou cheio de vontade própria (não é regulado, não tem, horários nem quantidades parecidas, é uma loucura) mas funcionando perfeitamente bem 😛
Zel, você precisa conhecer A Arte de Benka Ghar, livro do meu amigo Edson Moreira, professor de yoga. O livro está disponível on-line e pode ser lido aqui: http://www.yogalivre.com/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=16&Itemid=56
Benka Ghar não é nenhum artista indiano. O nome é apenas um trocadilho (infame, como quase todos os trocadilhos) com “bem cagar”.
Adorei, especialmente a parte onde você fala que nada é mais tesudo que uma mulher comendo com gosto. Já escutei isso de um monte de gente, homens e mulheres. As mulheres-que-passam-fome seja por motivo estético, seja pelo que for, deviam aprender isso e passar a comer sem culpa e sem frescura. Tem gente que tem vergonha em comer em público.
Huahuahau minha esposa é magra de ruim, come horrores e não tem frescuras. Mas voltando ao cocô, pior é quando o cocô é carente e quer o tempo todo dizer tchal!
Caso de quem tem algum tipo de infecção no intestino que vai mais de uma vez ao dia ao banheiro rs. Se eu ficasse brigando com a vontade da natureza ia ser difícil eu não me estressar ^^
Abraços, adoro seus textos,