ontem assisti parte de um documentário sobre a organização v-day, que combate a violência contra a mulher. o nome do documentário é v-day ou until the violence stops.
chorei feito criança. não sei se foi de tristeza, por causa das histórias horríveis, ou emoção pura de ver que existem mulheres tão corajosas. num auditório lotado a “primeira dama” da organização pede que todas as mulheres que já sofreram algum tipo de abuso ou violência fiquem em pé e várias se levantaram. eu, que sempre desejo que a raça humana desapareça de vez, senti orgulho dessas figuras especiais que têm coragem de superar o indizível. alguns poucos de nós quase compensam o todo estragado.
uma das seqüências mais emocionantes é a de um homem, pertencente a uma tribo indígena que tem por “costume” espancar, humilhar e estuprar suas mulheres. ele conta, visivelmente emocionado e envergonhado, o que fazia com sua mulher e como percebeu que aquilo tinha que parar: seu filho pequeno se colocou entre ele e a mãe, tentando protegê-la. hoje esse homem faz parte dessa organização e luta para que as mulheres da sua tribo sejam respeitadas.
e não sei explicar o misto de dor e admiração que senti quando mostraram uma casa de abrigo para meninas no quênia, que acolhe as que não querem se submeter à circuncisão. circuncisão é modo de dizer: eles extirpam a parte externa da genitália, completamente, das formas mais cruéis. o processo é feito como uma preparação para o futuro marido e nem vou descrever o que fazem… acho que prefiro esquecer.
a mulher que criou essa casa, no entanto, não evita o assunto e explica com minúcia de detalhes para as meninas o que é feito. e explica que elas não precisam se sujeitar a isso, que são adultas e podem escolher o que fazer com seu corpo. as meninas procuram ajuda, pois são expulsas das famílias e da tribo ao se recusarem a passar pela mutilação. meninas lindas com sorrisos incríveis, aprendendo que têm direito a preservar seu corpo. e mulheres feitas que não tiveram a mesma sorte, lamentando terem perdido parte do corpo e do prazer de ser mulher.
o documentário é incrível. fiquei muitos minutos depois do fim sem conseguir achar mais nada na TV interessante. a imagem daquela mulher africana indo, a pé, tribo por tribo tentando ajudar as meninas não sai da minha cabeça. enquanto isso, no mundo todo, vendem-se chocolates e rosas no dia da mulher.
e ainda tem gente que fala que a cultura é intocável!violência É violência, não importa o lugar ou a “cultura”.
O que a mulher parecia se esforçar especialmente para convencer as meninas era de que as mesmas eram adultas.
Isso porque como o ritual serve como demarcador entre deixar de ser menina e se tornar mulher, as meninas que não passam pelo mesmo claramente sentem falta de visualizar essa fronteira (e ficam inseguras sobre isso, como quase todas vocês ficaram em algum momento).
Daí o esforço em convencê-las de que são mulheres, que não ficassem se preocupando com isso, ou se sentindo como quem perde uma referência pela falta da circuncisão.
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bah, amei o texto…
deve ser terrível mesmo, principalmente na fase em q a mulher fica mais complicada e confuda que é a adolescência…
oOi Zel,
Sempre venho a sua página, gosto dos seus textos e da forma como você escreve, mas nunca comentei. Não vi o programa que você falou, mas meus olhos se encheram d’agua com seu texto. Meu pensamento, diante das mazelas que passamos, várias vezes, feitas por nós mesmos, me deixam descrente da raça humana. Poucas as vezes me sinto confortável, e até orgulhosa. Uma delas é qdo vejo a coragem de certas pessoas. Mas também acabo sentindo vergonha, por não ser uma delas…acho q preciso de mais anos de terapia…hehehe.. bjs!! E continue sempre escrevendo….