o mundo P.A. (*)

(*) pós-análise

a vida não é fácil pra quem faz ou já fez análise. mas não é qualquer análise, não: conheço casos de pessoas que teoricamente fazem análise mas que na verdade só pagam pra falar com alguém. o processo pode dar errado por vários motivos, mas os principais são a incompetência de alguns analistas e psicólogos (já vi cada coisa de arrepiar os cabelos…) e a falta de capacidade do analisado de se perceber e mudar (e aí não há santo analista que dê jeito).

fora os que fogem da terapia, dando mil desculpas: o preço, o horário ou qualquer outra coisa. a pior que eu já ouvi até hoje foi “eu não preciso de análise, eu sei qual é meu problema: é fulano, cicrano, meu trabalho, …”. o mundo, gente, o mundo está errado.

mas voltando à vida pós-análise: é um inferno, depois de fazer uma faxina no seu sótão e encontrar todo tipo de cacareco e sujeira, presenciar a completa falta de auto-percepção de boa parte do mundo. irrita, é triste, dá raiva. sinto isso várias vezes por dia quando escuto pessoas e principalmente quando leio pessoas (parece que por escrito as pessoas se permitem ainda menos auto-crítica, sei lá porque diabos).

ontem, assistindo desperate housewives, fiquei ainda mais fã da personagem da lynette: bêbada de tequila junto com as amigas, ela é a única que percebe o quanto é exigente, mandona e quer tudo do seu jeito. e passada a bebedeira, procura o marido pra pedir desculpas e fazer as coisas de outro jeito.

pensei: puta que pariu, por que as pessoas não se enxergam um pouco mais? na verdade, por que as pessoas não se olham no espelho? só prestam atenção nos outros, no que os outros deviam dar pra elas ou fazer por elas, reclamam de tudo e de todos e não fazem absolutamente nada pra melhorar a própria vida! parece que a solução vai cair do céu ou brotar da terra. a empresa em que trabalham é uma bosta, os colegas de trabalho são babacas, o vizinho é chato, os pais foram/são escrotos, os amigos não dão atenção…

não é possível que só eu e a lynette, com ou sem tequila, consigamos perceber que tem alguma coisa errada com a gente! não vou dizer que não conheço uma ou outra pessoa que perceba que alguma coisa nela precisa mudar, mas vamos ser sinceros: é raríssimo. olhe ao seu redor ou leia ao seu redor e constate: o mundo é cheio de coitadinhos maltratados pela vida.

talvez por isso eu tenha adorado tanto o tal artigo sobre como ser adulto: tou com o saco cheio de todo mundo ser tão infantilmente chato e reclamão pro que incomoda e tão infantilmente narcisista quando se trata de falar de si próprio. o discursinho “eu sou rebelde porque o mundo quis assim” ou “eu sou como eu sou, me deixe em paz” me dá engulhos. principalmente porque os 2 discursos geralmente vêm combinados nas mesmas figuras.

argh: a gente fica chato depois que aprende uma coisinha ou outra…

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  1. A sociedade de consumo atual é o principal veículo desse processo de infantilização das pessoas…Estimula-se o individualismo, o mimetismo decorrente do “desejo de pertencer” e associando tudo isso ao consumo de objetos e fantasias nunca alcançáveis. Viva o agora, tenha prazer imediato, beba cerveja e coma as mulheres, compre um carro gigantesco para que você possa fazer trilhas selvagens e viver altas aventuras (mesmo se a única aventura que você seja capaz de vivar ao fim seja ir da Faria Lima ao Morumbi no meio do engarrafamento das seis da tarde) dane-se a responsabilidade individual, os planos de longo prazo e as ambições maiores de formação intelectual e moral.

  2. eliane, coisa fofa, se eu pudesse ajudar alguém ajudava a mim mesma 😀 *HAHHAHAHAH* por isso eu paguei tantos dinheiros pra santa liliana: porque com ajuda de profissional é mais fácil. mentira: é difícil pra caralho, mas se torna POSSÍVEL 🙂

    querendo indicação de terapeuta, eu indico. ela é tudo na vida de uma pessoa!

  3. Ai, Zel, o dolorido disso é nos desapontarmos com nós mesmos. E é preciso ajuda. Estou cercada de pessoas bem-resolvidas cujos problemas estão fora delas. Daí me sinto um pouco melhor, pois, apesar da dor e da dificuldade, isso me dá a noção da lucidez com que devo encarar minha vida. E o alívio de saber que a resposta é minha mesmo.

    Te ler é sempre um alento.

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