mulher com TPM perambulando

aos poucos vou recuperar alguns posts apagados que acho mais interessantes ou que por algum motivo quero manter aqui. segue o 1o da série!

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hoje cedo me dediquei a tarefas ingratas. a primeira: ir a um cartório. sabem como é: reconhecimento de firma, xerox autenticado, fila, número apitando num painel, essas coisas cafonas. a segunda: enfrentar fila de banco pra acertar contas, encerrar conta, coisas assim gostosas. andando pra lá e pra cá pela av paulista, dou de cara com um homem e um menino, na calçada, ambos sentados no chão. cabelos pretos e lisos, muito brancos, ele com um bigodinho tipo chaplin e aquela cara de eternamente triste dos pedintes. ele tocava um acordeão azul, e uma placa grande se apoiava numa caixa de papelão, para as contribuições. a placa era curiosa, começava assim: solo uno refugiato… e eu parei de ler, já imaginava que era mais um dos muitos refugiados não se sabe de onde que resolveram brotar pela cidade nos últimos anos (e tem gente que se refugia no brasil, meu deus? que idéia!).

passei indiferente, mas ele começou a tocar o acordeão, uma música triste… e eu vi, na frente do menino sentado no chão, uma caixinha pequena, de papelão, quatro vezes o tamanho de uma caixa de fósforo, digamos. e lá dentro, uma tartaruguinha. quietinha, com a cabecinha levantada, como quem procura a saída. meu coração se apertou vendo o bichinho lá dentro daquela caixa mínima e pensei meu deus, que vida ruim ela deve levar! presa numa caixa, exposta ao sol e ao vento, e sem escolha. e a trilha sonora de filme italiano meloso no fundo. foi me dando uma vontade horrível de chorar e eu continuei andando. titubeei, pensei em dar esmola, em comprar a tartaruga, mas não fiz nada disso, fui adiante. e liguei pro namorado, pra contar das mazelas da humanidade, mas ele não atendeu. me senti um tanto estúpida por sentir pena, e na seqüência comecei a me sentir simplesmente um monstro por sofrer pela tartaruguinha refugiada e simplesmente esquecer que havia gente ali também. confesso: deles eu não senti pena. o homem era simplesmente a trilha sonora da desgraça da tartaruga e o menino o carcereiro da infeliz.

quando conto a história as pessoas riem muito. eu também, depois, acabei achando engraçado, mas a verdade é que meu coração ainda tá pequeno por causa da tartaruga. e naqueles poucos segundos de angústia, juro que pensei que nós também vivemos em caixas e passamos a vida a esperar sabe-se lá o quê. a diferença é que nós temos escolha, e acho que por isso não consigo sentir pena das pessoas. acho.

(11/jun/2002)

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  1. Oi Zel.

    As vezes também não sinto pena das pessoas, mas quando dizes que não sente pena de pessoas porque sempre temos escolha, será que realmente SEMPRE temos?

    O que me causa pena, de verdade, é que nem todos temos oportunidades. Sempre que vejo alguma cena de miséria absoluta fico com remorso por ter tido [e sempre ter] tantas boas oportunidades, ao contrário de milhares de pessoas que não possuem condição sequer de sair da inércia por absoluta falta de oportunidade. Como poderia, por exemplo, um morto de fome africano atravessar longas horas de deserto atrás de uma oportunidade de vida melhor?

    Eu não tenho dó de gente que está na lama porque a procurou [bandidagem em geral], mas tenho sim pena de gente sem oportunidades.

  2. Oi Zel,

    a Ivete Sangalo fez uma revelação curiosa, ontem, no programa ”Tudo é possível”, apresentado por Eliana, na Record. A cantora disse que, assim como os homens, costuma fazer xixi em pé. “Desenvolveram um produto para a mulher colocar ali, mirar e não ter que se abaixar para não pegar nenhum tipo de infecção”, contou Ivete, que até se levantou para explicar como funciona o produto, uma espécie de cone de papel descartável.

    Tudo começou no carnaval. “Passei a fazer isso nos trios elétricos porque não tinha banheiro direi-to. Hoje faço xixi em pé em todos os shows. Foi muito difícil no início, a minha coisa é meio grandinha, os lábios dela um pouco pendentes e isso complica um pouco. Mas agora sou expert”, garantiu a cantora. “Na praia, consigo até escrever meu nome na areia. Eu vou para o mar e o xixi sai quentinho entre as pernas, o que me deixa com uma vontade louca de me tocar…”, riu a cantora.

    Realmente, a moral brasileira tá de mal a pior. É preciso dar descarga nesse povo, gente, tá muito baixaria, tá baixaria demais!!!….help, quero nascer na França!!!!!

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